quarta-feira, 25 de junho de 2025

'Hoje, não vejo o Brasil à beira de um precipício fiscal', diz Giannetti, FSP

 Júlia Moura

SÃO PAULO

Para o economista e filósofo Eduardo Giannetti, o Brasil ainda tem tempo hábil de fazer um ajuste fiscal, antes que uma crise econômica seja desencadeada.

"Não vejo o Brasil hoje à beira de um precipício fiscal. Estamos no momento de entender, antecipar e agir. É melhor agir antes que as coisas piorem muito. Assim como no caso de uma doença, o diagnóstico antecipado é melhor", afirmou o autor de livros como "Vícios privados, benefícios públicos?" durante o Anbima Summit, nesta quarta-feira (25).

Segundo projeção da IFI (Instituição Fiscal Independente), do Senado Federal, as contas públicas do Brasil terão um déficit primário de R$ 83,1 bilhões ao fim de 2025. Ainda assim, elas ficarão dentro da meta prevista no arcabouço fiscal, definida pelo atual governo.

Um homem de óculos, com cabelo escuro e levemente grisalho, está falando ao microfone em um evento. Ele usa uma camiseta escura e gesticula com a mão direita. Ao fundo, há uma iluminação colorida em tons de roxo e verde, e uma planta decorativa está visível na mesa à sua frente. O microfone possui um adesivo que diz 'a feira do livro 2025'.
O autor Eduardo Giannetti durante bate papo na Feira do Livro de São Paulo. - Rafaela Araújo/Folhapress

Esse ajuste, porém, poderia vir apenas no início do próximo mandato presidencial em 2027, de acordo com Giannetti.

"Não tenho esperança que esse governo, em fim de mandato e com baixo capital politico, consiga avançar em questões de estado", afirmou.

No mesmo painel, Carlos Kawall, sócio-fundador da consultoria de investimentos Oriz, ponderou se, mesmo com um novo governo, o ajuste seria possível: "Estamos no momento para ajuste fiscal, com alta polarização política?".

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Para o economista, o ajuste fiscal deve ser feito com mudanças na Constituição, de modo a dar flexibilidade ao Orçamento.

"Hoje, com Brasil envelhecendo, alguns municípios gastam mais com saúde do que com educação, mas não é possível realocar de um para o outro", disse Kawall.

Ele defendeu ainda a desindexação dos gastos. "Não adianta mais criarmos regras fiscais se não formos na origem do problema. Não podemos ter o pé no fundo do acelerador do gasto estatal."

Giannetti também fez críticas à rigidez orçamentária.

"Benefícios não podem ser indexados ao salário mínimo, e sim pelo IPCA. Não faz sentido econômico. Valorizar o salario mínimo é legitimo por causa de produtividade, mas não pode se reproduzir automaticamente para benefícios."

Segundo o economista, hoje, a maior parte da arrecadação do país vai para o pagamento da Previdência e de juros da dívida pública.

"A atual carga tributária do país esta entre 34% e 33% do PIB [Produto Interno Bruto]. Ou seja, um terço da produção é arrecadada pelos governos municipais estaduais e federais. Isso é muito para um país como o Brasil. Seria justificável se o país entregasse um bom serviço público, mas estamos em pleno século 21 e ainda não temos saneamento básico para metade dos domicílios brasileiros e o nosso ensino fundamental é absolutamente aquém do necessário", afirmou Giannetti.

"Hoje, 23% do PIB vai para o pagamento das previdências público e privada para e o pagamento de juros da dívida pública. Se não desfizermos isso, não vamos sair da encrenca na qual estamos. Esse não é um problema de um governo ou de outro. Nos acompanha desde sempre. A questão é séria. Crônica, atravessou diversos governos e ideologias", completou o economista.

Segundo cálculos de Giannetti, o custo da rolagem da dívida pública com juros futuros em alta é de 8% a 9% do PIB. INSS é 8,5% e aposentadoria de servidores públicos 6%. "Esse custo com previdência equivale ao de países com uma população três vezes mais idosa que a nossa."

Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander Brasil e colunista da Folha, realçou a necessidade na melhora dos gastos públicos.

"Avaliar o serviço público e seus impactos seria uma revolução silenciosa. O Estado precisa focar o prioritário, e também não podemos ter descasamento em 'não quero pagar mais impostos, mas quero mais Estado' ", disse Vescovi.

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