Fui a um subúrbio de Washington no último sábado (14) para uma das 2.000 manifestações "No Kings" (Sem Reis) que ocorreram nos Estados Unidos.
A cena me lembrou da minha juventude esquerdista, protestando contra a Guerra do Vietnã. O local era uma igreja congregacional. No século 17, o Congregacionalismo era totalmente puritano e cruel.
Enforcou quakers no parque Boston Common e processou bruxas em Salem (Massachusetts). Hoje é uma das denominações protestantes flexíveis e dóceis da "corrente dominante" dos EUA. Poderia ser chamada de "o Partido Democrata dos EUA em oração".
Ambiente festivo. Muitas crianças. O primeiro e o segundo pastores que comandaram a manifestação eram mulheres, e a segunda delas, uma lésbica. Eu não era a única mulher trans ali. Você entendeu.
Eu aprovei totalmente. A mensagem foi a de Jesus de Nazaré, tão irritante para os homens romanos pagãos, qual seja, a mensagem feminina do amor. Eu gostaria que protestantes, católicos e ortodoxos que dizem seguir Jesus amassem o próximo —ou o inimigo, ou, nesse caso, seu filho. Lembrem-se do que Bolsonaro —que, assim como Trump, afirma ser cristão– disse sobre um filho gay imaginário.
As manifestações do "Sem Reis" não foram organizadas para protestar contra o desfile em comemoração ao 250º aniversário do Exército dos EUA —14 de junho de 1775. A maioria dos americanos, como eu, gosta de celebrar o Exército. Ao contrário de Turquia, Grécia, Espanha, Chile e Brasil, o Exército aqui nunca assumiu o controle da política, mesmo quando poderia, como em 1865 ou em 1945. No desfile, o modesto número de soldados vestia os uniformes de 1775. Apropriado. Um belo visual.
É verdade, como disse o senador libertário Rand Paul, que não pareceria bom desfilar tanques pelas ruas de Washington, no estilo dos regimes fascistas e comunistas. Mas Trump achou que era uma ótima ideia e adorou sua salva de 21 tiros —porque 14 de junho também é o aniversário do Amado Líder Supremo, nascido em 1946. Outra imagem nada boa. O culto à personalidade também é característico de regimes fascistas e comunistas.
A vaidade autoritária de Trump foi a razão dos protestos, 99,99% pacíficos, como o meu, o congregacional. Eram algumas centenas de "liberais", segundo a definição esquerdista dos EUA.
Caminhamos até uma rua importante para levantar e aplaudir cartazes escritos à mão. O meu dizia "Fechem o ICE Agora", sendo ICE a Polícia de Imigração e Alfândega. Em suas batidas, ordenadas por Trump e seu teórico Stephen Miller, em locais onde pessoas de aparência hispânica se reúnem, os agentes do ICE passaram a esconder seus crachás de identificação, cobrir as placas dos carros e usar máscaras. Opa: mais imagens ruins e autoritárias.
Mas a política trumpista vai cada vez mais além de desfiles e aparências. Na quinta (12), um senador democrata que tentava fazer uma pergunta à secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, foi forçado a sair da sala, jogado no chão e algemado. Seu nome é Alex Padilla, e ele realmente parece hispânico.
Primeiro, eles foram atrás dos hispânicos, e nós não fizemos nada porque não somos hispânicos.
Depois...
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