quarta-feira, 25 de junho de 2025

Maria Hermínia Tavares - As ideias do eleitor não alinhado, FSP

 As próximas eleições presidenciais serão decididas por cerca de 10% dos eleitores, que não se identificam com o campo político lulista ou bolsonarista. Metade desse contingente de não comprometidos é composta pelos chamados microempreendedores.

Em 2022, votaram no candidato petista 52% deles. Agora, aprovam seu governo não mais de 45%. Os dados são do pesquisador Felipe Nunes, diretor da Quaest e professor da Fundação Getúlio Vargas. Se outros motivos não houvessem, bastaria esse a demandar que se entenda o que move tal grupo de trabalhadores, ocupantes de pouco menos da metade do mercado informal, estimado em 2023 pelo IBGE em 38,7% da força de trabalho.

Há controvérsias sobre quem sejam esses cidadãos. Certamente o são os autônomos informais —vendedores ambulantes; cabeleireiras; pedreiros; motoristas de táxi etc.—; os donos de pequenos negócios sem CNPJ; e os microempreendedores individuais formalizados por uma lei de 2008. Disputas cercam os trabalhadores de plataformas digitais —motoristas de aplicativo; entregadores de comida; e outros profissionais especializados— cuja autonomia para empreender é contestada por muitos estudiosos.

A imagem mostra um grupo de motociclistas em uma rua, todos usando capacetes. Alguns motociclistas estão vestidos com roupas escuras, enquanto outros usam coletes de segurança de cores vibrantes. Eles estão alinhados em uma faixa de moto, com várias motos de diferentes modelos e cores, predominantemente vermelhas e pretas. O ambiente parece urbano, com prédios ao fundo e um clima nublado.
Manifestação de entregadores em São Paulo por melhores condições de trabalho - Aline Massuca - 25.abr.25/Reuters

Se empreendedorismo é denominação recente, o fenômeno é bem mais antigo; remonta à CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), promulgada em 1943 —anterior, portanto, às políticas neoliberais. Sem condições de abranger o conjunto dos trabalhadores, a octogenária CLT terminou por segmentá-los entre participantes do mercado formal, detentores de direitos trabalhistas, e os que deles não se beneficiavam e compunham o setor informal. Ao longo do tempo e ao sabor da conjuntura econômica, ele abrigou entre 40% e 60% dos trabalhadores ocupados.

O primeiro documento governamental a falar em empreendedorismo foi um estudo da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência na gestão de Roberto Mangabeira Unger (2007-09). O filósofo e professor de Harvard —cuja aguda inteligência só perde para seu escasso senso político prático— foi também o primeiro a chamar a atenção para a revolução subjetiva, no plano da consciência coletiva, trazida por aqueles que denominou "pobres batalhadores"; gente que, sem esperar pelo empurrão do Estado para ascender, revelava uma "nova cultura da autoajuda e da iniciativa". Nos empreendedores, ele viu a possível base social para uma renovada política de desenvolvimento: menos estatista e paternalista, mais habilitadora.

Estudos com base nos dados dos institutos Latinobarômetro e Lapop confirmam o diagnóstico de Unger. Os empreendedores parecem valorizar a iniciativa individual, a liberdade de escolha e a meritocracia. Ademais, tendem a ser conservadores nos costumes; desconfiam —como muitos outros brasileiros— dos partidos e do Estado; e são sensíveis ao apelo da antipolítica.

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É contraproducente rotulá-los como pobres precarizados que, pelas artimanhas da falsa consciência, não se percebem como tal e, por isso, são capturados pelo discurso da direita. Convém tomar a sério suas visões do mundo, ancoradas na experiência de vida, e propor políticas que lhes façam sentido.

Até porque, como tudo indica, seus corações e mentes estarão no centro da disputa de 2026.

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