Juiz de surfe, durante as Olimpíadas de Paris, tirou foto festiva na presença do surfista e do técnico do time australiano, seus compatriotas. O post no Instagram veio com legenda: "Esses 3 garotos fazendo suas coisas nas Olimpíadas". A Associação Internacional de Surfe excluiu o árbitro da competição e fez declaração pública:
"É inapropriado que juiz interaja dessa maneira com um atleta e sua equipe. Para proteger a integridade e a imparcialidade da competição, e em conformidade com o Código de Conduta da ISA e o Código de Ética do COI, o Comitê decidiu remover o juiz do painel de jurados pelo restante da competição."
Ninguém perguntou ao juiz se ele se sentia capaz de avaliar a performance esportiva de seu compatriota de modo imparcial, ninguém afirmou que o juiz era boa pessoa, com histórico irrepreensível e estava apto a julgar imparcialmente até o próprio pai. Foi afastado da competição porque estava em jogo a credibilidade e a justiça de toda uma competição, não a análise do caráter daquela pessoa.
Jannik Sinner, tenista italiano número um do mundo, teve resultado positivo em teste de doping meses atrás. A agência antidoping o isentou de responsabilidade pois ele não teria consciência de que o spray usado por seu fisioterapeuta continha substância proibida. Pouco depois, diante da repercussão, recebeu suspensão de três meses.
Simona Halep, tenista romena, ex-número um do mundo, teve substância proibida detectada em seu sangue. Foi suspensa por quatro anos. Dois casos de doping muito parecidos, mas processos e sanções muito diferentes. Na prática, a decisão encerrou a carreira da atleta, pois não teve condições de se manter competitiva até a volta.
Alguns tenistas saíram a público para, respeitosamente, perguntar. Novak Djokovic, tido como o maior de todos os tempos, pediu "protocolos padronizados" e criticou a "falta de consistência em casos parecidos com resultados diferentes".
Ugo Giorgetti, cineasta e comentarista esportivo, dias atrás disse na Feira do Livro, em São Paulo, que "juiz ladrão é uma instituição brasileira". Não era frase sobre a magistocracia, mas ironia romântica sobre efeitos de novas tecnologias, como o VAR, no futebol. São recursos que não permitem mais perguntar se os espetaculares gols não televisionados de Pelé e Garrincha, gravados apenas na memória de torcedores veteranos, de fato existiram.
Na mesma feira, jogo de futebol entre escritores, jornalistas e convidados, nas categorias feminina e masculina, divertiu o estádio do Pacaembu. O escritor Humberto Werneck chamou o evento de "ficcionistas contra friccionistas". Apesar de amistoso, os jogos tiveram o benefício de um árbitro profissional, qualificado, uniformizado, desprovido de relações e interesses no resultado. Afinal, nem mesmo poetas aceitam injustiça no futebol assim placidamente.
Por que tanta anedota numa hora dessas?
Porque semana que vem começa o Fórum de Lisboa, lugar em que a cúpula do Poder judicial, do Poder Legislativo e do Poder Executivo se encontram com o poder corporativo e seus chaveiros da advocacia privada. Negociar o país bem longe do país.
Todos os consensos éticos elementares sobre o julgar e aplicar a lei ficam em suspenso. Acima de qualquer suspeita e código de conduta, pessoas boas ficam isentas.
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