Quando o roubo é rotineiro, fácil de executar e há por trás dele uma rede de proteção, os cuidados para ocultar o dinheiro diminuem. Pense nos políticos acostumados a guardar bufunfa viva para comprar apartamentos. Usavam como esconderijo panelas, meias, cuecas, até as nádegas.
Hoje qualquer lugar serve. Na sexta (27), a PF achou maços de dinheiro —no total, R$ 3,2 milhões— espalhados num guarda-roupa ao deflagrar a quarta etapa da operação Overclean, cujo objetivo é desarticular organizações criminosas envolvidas no desvio de emendas parlamentares. Ligados ao deputado Félix Mendonça (PDT-BA), três prefeitos foram afastados.
Os desvios de verba pública são tão numerosos que os espertos se atrapalham. Desmascaram-se mesmo sem a participação da polícia. Uma troca de acusações nas redes sociais entre a cantora sertaneja Simone Mendes e o deputado Fábio Teruel (MDB-SP) acabou revelando que o parlamentar direcionou R$ 2,2 milhões em emendas Pix para recapear o condomínio de luxo onde mora, em Barueri. O motivo da treta entre os vizinhos? Um cachorro fujão que incomodava a mulher de Teruel, Ely, que é vereadora.
São dois episódios que comprovam a disfuncionalidade da Câmara. Um colosso que lidera o ranking dos maiores e mais caros Legislativos do planeta, com servidores saindo pelo ladrão e um orçamento próximo ao dos Estados Unidos e superior ao de países da Europa. Como se não bastasse, veio o inexplicável aumento no número de deputados, de 513 para 531 nas próximas eleições, um custo adicional de R$ 65 milhões por ano. A manobra contraria 76% dos brasileiros, segundo pesquisa Datafolha, e nasceu de um projeto da deputada Dani Cunha, filha de Eduardo Cunha, que inventou Arthur Lira, que engendrou Hugo Motta.
A derrubada dos três decretos mexendo nas alíquotas do IOF, mais do que desmoralizar o governo, mira a aliança entre Lula e o STF, especialmente o ministro Flávio Dino. Em jogo, o julgamento que pode retirar o controle desmedido do Congresso sobre os recursos do Orçamento.
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