sábado, 21 de junho de 2025

José Israel Vargas (1928 - 2025) Mortes: Foi cientista, professor, ministro e humanista. FSP

 Bruno Lucca

São Paulo

José Israel Vargas teve uma vida de muitas aventuras. Foi professor, pesquisador e ministro. Viveu no Brasil, na Inglaterra e na França. Dividiu o coração entre a África e Minas Gerais.

Nascido na cidade mineira de Paracatu, em 1928, formou-se químico na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), mesma instituição na qual foi professor catedrático de físico-química e química superior e, em 1989, recebeu o título de professor emérito.

Em 1992, foi nomeado ministro da Ciência e Tecnologia por Itamar Franco. Ficou no cargo até 1999, com Fernando Henrique Cardoso. Sua comunicação fácil e temperamento dócil marcaram a passagem.

Como docente da UFMG, Vargas dirigiu o Instituto de Pesquisas Radioativas. Em 1964, seu laboratório foi tomado pela ditadura militar, e ele foi afastado de suas funções federais. Partiu para o exílio na França, onde ficou por quase sete anos e atuou como líder de pesquisa no Centro de Estudos Nucleares do Comissariado de Energia Atômica, sediado na cidade de Grenoble.

Um homem idoso com cabelo calvo e óculos está falando em um microfone. Ele usa um paletó cinza e uma gravata listrada. Ao fundo, há bandeiras e um ambiente de conferência.
José Israel Vargas (1928 - 2025) - Marcos Peron - 30.nov.1996/Folhapress

No exterior, teve muitos outros cargos. Foi, por exemplo, embaixador do Brasil na Unesco e presidente do seu conselho executivo. Lá, deixou como marca a criação de bolsas de estudo para estudantes africanos de países de língua portuguesa, ideia materializada no programa Paula Domingues Vargas, instituído em 2004 por meio de convênio firmado entre a UFMG e a Unesco.

À época, foram beneficiados 53 estudantes africanos, em sua maioria de Guiné-Bissau, Cabo Verde, Moçambique e Angola. Vargas tinha a África como uma das prioridades em razão dos graves problemas enfrentados pelo continente nas áreas de educação, economia e saúde.

O nome do programa foi uma homenagem à filha dele, Paula Domingues Vargas, que se formou em música na UFMG e morreu logo após concluir seus exames finais, em 1981.

Vargas foi ainda presidente da Academia Brasileira de Ciências de 1991 a 1993 e da Academia Mundial de Ciências por dois mandatos.

Ele foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, com a Ordem Nacional da Legião de Honra da França e com o título de Cavaleiro Honorário Comandante da Divisão Civil da Ordem do Império Britânico.

Morreu em 15 de maio, aos 97 anos. Ele era viúvo e deixa as filhas Maria, Joana e Cláudia.

"O professor José Israel Vargas teve uma longa e significativa história com a UFMG e sempre manifestou grande carinho pela universidade. O legado que ele deixa é muito importante e ficará conosco", disse a reitora Sandra Goulart Almeida, que era próxima de Vargas e o recebeu algumas vezes nos últimos anos.

O presidente Lula também deixou sua homenagem. "Vargas sempre defendeu a produção e a aplicação do conhecimento científico no Brasil e denunciou corajosamente o obscurantismo que enfrentamos no passado recente", escreveu o petista em nota.

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