José Israel Vargas teve uma vida de muitas aventuras. Foi professor, pesquisador e ministro. Viveu no Brasil, na Inglaterra e na França. Dividiu o coração entre a África e Minas Gerais.
Nascido na cidade mineira de Paracatu, em 1928, formou-se químico na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), mesma instituição na qual foi professor catedrático de físico-química e química superior e, em 1989, recebeu o título de professor emérito.
Em 1992, foi nomeado ministro da Ciência e Tecnologia por Itamar Franco. Ficou no cargo até 1999, com Fernando Henrique Cardoso. Sua comunicação fácil e temperamento dócil marcaram a passagem.
Como docente da UFMG, Vargas dirigiu o Instituto de Pesquisas Radioativas. Em 1964, seu laboratório foi tomado pela ditadura militar, e ele foi afastado de suas funções federais. Partiu para o exílio na França, onde ficou por quase sete anos e atuou como líder de pesquisa no Centro de Estudos Nucleares do Comissariado de Energia Atômica, sediado na cidade de Grenoble.
No exterior, teve muitos outros cargos. Foi, por exemplo, embaixador do Brasil na Unesco e presidente do seu conselho executivo. Lá, deixou como marca a criação de bolsas de estudo para estudantes africanos de países de língua portuguesa, ideia materializada no programa Paula Domingues Vargas, instituído em 2004 por meio de convênio firmado entre a UFMG e a Unesco.
À época, foram beneficiados 53 estudantes africanos, em sua maioria de Guiné-Bissau, Cabo Verde, Moçambique e Angola. Vargas tinha a África como uma das prioridades em razão dos graves problemas enfrentados pelo continente nas áreas de educação, economia e saúde.
O nome do programa foi uma homenagem à filha dele, Paula Domingues Vargas, que se formou em música na UFMG e morreu logo após concluir seus exames finais, em 1981.
Vargas foi ainda presidente da Academia Brasileira de Ciências de 1991 a 1993 e da Academia Mundial de Ciências por dois mandatos.
Ele foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, com a Ordem Nacional da Legião de Honra da França e com o título de Cavaleiro Honorário Comandante da Divisão Civil da Ordem do Império Britânico.
Morreu em 15 de maio, aos 97 anos. Ele era viúvo e deixa as filhas Maria, Joana e Cláudia.
"O professor José Israel Vargas teve uma longa e significativa história com a UFMG e sempre manifestou grande carinho pela universidade. O legado que ele deixa é muito importante e ficará conosco", disse a reitora Sandra Goulart Almeida, que era próxima de Vargas e o recebeu algumas vezes nos últimos anos.
O presidente Lula também deixou sua homenagem. "Vargas sempre defendeu a produção e a aplicação do conhecimento científico no Brasil e denunciou corajosamente o obscurantismo que enfrentamos no passado recente", escreveu o petista em nota.
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