segunda-feira, 16 de junho de 2025

Alvaro Costa e Silva - Em novo livro, Ruy Castro é o mesmo, mas diferente, FSP

 Prodígio de informação, montagem narrativa e estilo, tendo, é claro, o Rio como cenário. "Trincheira Tropical" exibe o toque de qualidade a que os leitores de Ruy Castro estão acostumados, mas é um livro diferente. Pela primeira vez a política ganha peso maior que a cultura. Fascistas, comunistas e democratas deixam em segundo plano cantoras, compositores e escritores. Nada mais natural, pois se trata de reconstituir a história da Segunda Guerra Mundial na então capital do país.

Mergulho nos salões e porões do poder, a obra é uma barafunda organizada em detalhes, e aí se destaca o trabalho de investigação. As páginas dedicadas a Vargas mostram um Getulio que, apesar de mil vezes biografado, ainda não conhecíamos. O mesmo com o diabólico Lourival Fontes, homem da propaganda no Estado Novo. Vinicius de Moraes em sua metamorfose intelectual: o ex-integralista que, no início dos anos 1940, dá uma guinada para a esquerda, numa viagem pelo Brasil profundo ao lado do jornalista americano Waldo Frank.

Ao biografar Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda, o autor teve de se debruçar sobre outros personagens que entram e saem de cena o tempo inteiro. A estrutura de perfis interligados é a base de suas obras de reconstituição histórica, como "Chega de Saudade", "A Noite do Meu Bem", "Metrópole à Beira-Mar" e o recente "Trincheira Tropical".

A imagem mostra dois homens conversando em um sofá. O homem à esquerda está sorrindo e usa um terno listrado, enquanto o homem à direita, também de terno, gesticula com a mão enquanto fala. O fundo é decorado com um padrão clássico.
Getulio Vargs e Nelson Rockfeller, em imagem que está no livro 'Trincheira Tropical' - Divulgação

Os fãs se perguntam: como ele consegue? Uma resposta possível está no livro de Heloísa Seixas, "O Oitavo Selo", que volta às livrarias. Nele, conta-se a vida de um contador de vidas que se deparou várias vezes com a morte, driblando-a. É a "quase biografia" de Ruy Castro, escrita com a liberdade de uma ficcionista que mistura realidade e imaginação. Um relato que fascina ao tratar com franqueza a dependência em álcool e cocaína e a luta contra doenças graves.

Para tornar-se um grande biógrafo, talvez seja necessário experimentar na própria pele dramas, aventuras e loucuras, apaixonar-se pelo biografado e descobrir o prazer de viver —e de escrever.

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