segunda-feira, 9 de junho de 2025

Hélio Schwartsman - O dilema da direita, FSP

 

São Paulo

Lula experimenta problemas de popularidade e cientistas políticos se perguntam se a outrora incontestável vantagem do incumbente em eleições continua funcionando a pleno vapor. Nos últimos tempos, assistimos a vários pleitos em que o fato de estar no poder operou mais como ônus do que como bônus para o ocupante do posto que buscava a reeleição.

Ainda assim, é arriscado apostar contra a força da máquina do governo federal. É difícil imaginar um cenário em que Lula ou outro candidato situacionista não sejam pelo menos competitivos em 2026. É só lembrar que, em 2022, Jair Bolsonaro, mesmo carregando nas costas a pecha de golpista e a gestão desastrosa da pandemia, ficou apenas 1,8 ponto percentual atrás de Lula.

Quatro homens posando para uma selfie em um evento ao ar livre, com uma grande multidão ao fundo. Eles estão sorrindo e vestindo camisetas, uma delas é amarela com o símbolo da seleção brasileira. O ambiente é festivo, com bandeiras do Brasil visíveis na multidão.
À esquerda, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), com os homólogos do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil): nomes têm sido ventilados como pré-candidatos à Presidência da República - Reprodução/X

Diante desse quadro, a melhor chance de a direita retomar a Presidência seria sair com um candidato de menor rejeição, capaz de atrair para si a parcela de eleitores independentes insatisfeitos tanto com o ex-presidente como com o atual.

Em português claro, a direita deveria dar um pé na bunda de Bolsonaro. Ao fazê-lo, ampliaria sua probabilidade de êxito no segundo torno (o que importa), dado que ao eleitor bolsonarista não haveria alternativa que não votar em qualquer coisa contra o PT.

A pergunta que se impõe então é por que não dão esse pé na bunda? A culpa é do equilíbrio de Nash.

Praticamente nenhum dos pré-candidatos da direita ousa se insurgir contra Bolsonaro porque fazê-lo unilateralmente significaria receber o veto do capitão reformado, o que poderia custar a passagem para o segundo turno.

O resultado disso é que os pré-candidatos da direita tentam rezar para dois senhores. Acenando para os independentes, falam em superar a polarização, mas, num tributo aos extremistas, prometem indultar Bolsonaro em caso de vitória.

Ainda que tal cálculo faça sentido eleitoral, ele é péssimo para as instituições. Apenas flertar com um indulto a quem tentou subverter o resultado de uma eleição já significa reduzir a democracia a mero atalho na disputa pelo poder.
helio@uol.com.br

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