segunda-feira, 23 de junho de 2025

A guerra Irã-Israel mostra que o rei (das moedas) está nu, Marcos de Vasconcellos -FSP

 

Além de evidenciarem a perda da humanidade em inúmeros aspectos, os recentes ataques entre Israel e Irã evidenciaram que o rei (das moedas) está nu.

dólar serviu como porto-seguro nas escaladas de conflitos geopolíticos pelo menos desde o acordo de Bretton Woods, que estabeleceu a moeda em referência global, em 1944, justamente logo após o pico de conflitos da Segunda Guerra Mundial, que viria a acabar quase um ano depois do acordo.

Agora, sob Donald Trump, as perspectivas para a estabilidade e o crescimento dos Estados Unidos são tão incertas que, quando os mísseis cruzaram os céus no Oriente Médio, os grandes investidores preferiram espalhar suas economias em vez de recorrer à estratégia clássica de comprar dólares e concentrar-se nos EUA.

A imagem mostra uma vista noturna de uma cidade, onde arranha-céus iluminados se destacam contra o céu escuro. No céu, há várias trajetórias de luz, possivelmente de foguetes ou mísseis, que criam um efeito visual dinâmico. As nuvens estão presentes, e a cena transmite uma sensação de atividade intensa.
Sistemas de defesa aérea israelenses são ativados para interceptar mísseis iranianos sobre Tel Aviv, na madrugada de 18 de junho de 2025 - Menahem Kahana/AFP

Até então, enviar grana para os EUA era o chamado de "flight to quality" (voo para ativos de qualidade), onde a segurança e a liquidez eram claras. Não mais. Ouro, francos suíços e até mesmo a Bolsa brasileira tiveram um desempenho melhor do que o dólar no primeiro choque, entre os dias 12 e 16 deste mês.

Não é que o mundo tenha encontrado um novo porto seguro. Simplesmente perdeu a fé no que usava até então. Como me disse outro dia o Felipe Miranda, da Empiricus, o substituto para o dólar, até agora, tem sido "tudo que não é dólar".

Nessa brecha, o Brasil apareceu como um destino para o dinheiro global. O Ibovespa, principal indicador da Bolsa, manteve-se acima dos 135 mil pontos. Não por mérito, mas por conveniência. Com uma Selic agora em 15% ao ano, o país entrou no radar de quem quer retorno. O real se valorizou, os fluxos estrangeiros aumentaram.

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Mas é bom manter os pés no chão. O dinheiro que vem por especulação pode sair em um clique.

O risco do apagão da máquina pública segue, como falei no último texto aqui publicado na coluna. O jornalista Fernando Canzian trouxe um novo dado para a discussão: os gastos aumentaram em ritmo que é o dobro da arrecadação desde o início do governo Lula 3. E a Anatel já foi a público dizer que a pane seca começou, avisando que não tem dinheiro para cortar os sites de bets (casas de aposta) ilegais.

Operando na dobradinha emergência e improviso, o governo Lula liberou mais de R$ 600 milhões em emendas parlamentares em uma semana, tentando ganhar fôlego político para aprovar suas novas taxações no Congresso.

É o retrato de um Estado que gasta o que não tem para manter alianças, mas não arranjou uma equação para ajustar as contas e atrair o dinheiro a longo prazo. Para o investidor, vale aproveitar o momento, sem baixar a guarda.

O real valorizado, infelizmente, ainda não é sinal de robustez, é reflexo de um fluxo volátil que pode se inverter a qualquer sinal de queda dos juros nos EUA. É um movimento tático, não estrutural.

Diversificar seus investimentos também de maneira geográfica, apostando em ativos internacionais, segue uma boa ideia, ainda que o dólar tenha caído nos últimos meses. A pior armadilha nesse cenário é acreditar que o Brasil mudou porque o dólar fraquejou.

O Brasil não virou destino —virou escala. A guerra no Oriente Médio mostrou que o dólar perdeu o monopólio do medo, mas o real não é seu herdeiro.


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