quinta-feira, 12 de junho de 2025

Ascensão do primeiro papa americano coincide com retorno de jovens dos Estados Unidos à Igreja, Lucia Guimarâes, FSP

 As revelações sobre a religiosidade dos brasileiros podem ter decepcionado os glutões da bancada evangélica, mas dificilmente surpreenderam o Vaticano. O Brasil continua abrigando a maior população católica do planeta —cerca de 56%, dos brasileiros seguem a denominação— mas ela é a menor registrada no país desde 1872.

Já nos EUA, o quarto país mais católico do mundo, com 85,6 milhões de fiéis, as notícias surpreendem positivamente o primeiro papa americano. De repente, subiu o número jovens da geração Z, que têm entre 13 e 28 anos, abraçando a fé católica apostólica romana. O crescimento se registra entre o sexo masculino, revertendo uma tendência de décadas.

A imagem mostra um encontro entre duas pessoas, uma delas vestida com uma batina branca, representando o Papa, e a outra em um terno escuro. Eles estão se cumprimentando com um aperto de mão. Ao fundo, há uma escultura de uma figura humana em pé. O ambiente é interno, com paredes decoradas e uma atmosfera formal.
O papa Leão 14 em encontro com o vice-presidente dos Estados Unidos, J. D. Vance, em audiência privada, no Vaticano - Simone Risoluti/19.mai.25/AFP

Não é muito difícil compreender por que as jovens americanas têm se afastado mais da Igreja. Questões como direito ao aborto, aos anticoncepcionais e defesa dos direitos das minorias LGBTQIA+ são mais caras à população jovem feminina.

Já o retorno de homens adolescentes ou jovens adultos não tem explicações claras, mas tem sido atribuído em parte ao isolamento da pandemia e ao niilismo da vida online.

O que não deixa dúvida, no caso dos EUA, é que o argentino Jorge Mario Bergoglio tinha um plano e ele foi executado. A ascensão de Leão 14 pode ser vista como resultado da astúcia geopolítica do papa Francisco.

Desde novembro de 2024, o mais poderoso político católico eleito no mundo é J. D. Vance. O vice-presidente americano, um camaleão intelectual e ideológico, anunciou que se converteu ao catolicismo em 2019, aos 35 anos. Observadores atentos do herdeiro aparente de Donald Trump associam a conversão a um período de radicalização à direita, em que ele se desencantou com o liberalismo.

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Longe do eixo político-eclesiástico entre Washington e Nova York, nossa atenção canibalizada por bonecas reborn não registrou quando Francisco nomeou, dois meses depois da eleição presidencial americana, um xará de Leão XIV, nascido Robert Prevost.

O papa argentino também instalou o cardeal Robert McElroy como arcebispo da arquidiocese que encampa a capital, Washington, e vários municípios do estado vizinho de Maryland, para desgosto do influente establishment da direita católica do país. A arquidiocese de Nova York, simbolizada pela monumental catedral de São Patrício, não é mais, como até recentemente, o centro de poder político dos católicos americanos.

O longevo atual arcebispo de Nova York, Timothy Dolan, é o oposto de Francisco ou Leão. É um conservador bombástico que gosta da ribalta e de não incomodar Donald Trump. A nomeação de McElroy foi um gesto claro de Francisco para enfrentar o novo status quo com a reeleição do republicano.

McElroy, amigo próximo do papa Leão, é um erudito historiador com diplomas de Harvard e Stanford, um prelado que fala baixo e chegou a Washington depois de 10 anos na diversa arquidiocese de San Diego, onde a rotina dos imigrantes era parte de seu cotidiano pastoral.

Em maio, a fumaça branca no Vaticano revelou uma síntese que dificilmente a inteligência artificial ia produzir. Um cidadão nativo americano descendente de imigrantes multirraciais e portador de um passaporte peruano.

Houve um tempo em que, para viabilizar sua candidatura, J. F. Kennedy, o primeiro presidente católico dos EUA, foi forçado a desmentir a acusação de não ser um americano legítimo porque sua real lealdade seria ao papa. O aspirante a terceiro católico na Casa Branca não corre este risco.

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