Pouco antes de mudar de emprego, Flávio Dino fez uma promessa. Na sabatina para a vaga no STF, ainda em dezembro, o ministro se referiu a dados preliminares e anunciou que o país terminaria 2023 com uma queda nas mortes violentas intencionais. "Com a graça de Deus, neste ano nós vamos ter redução", disse.
Animado com os números coletados nos últimos meses, o governo resolveu mergulhar de cabeça no debate da segurança pública. O tema, antes tratado com uma dose cavalar de hesitação no entorno de Lula, virou prioridade no Ministério da Justiça e foi o foco do primeiro vídeo de propaganda divulgado pelo Palácio do Planalto em 2024.
Mesmo se a profecia de Dino for confirmada quando os dados forem divulgados, neste mês, as estatísticas deverão dizer menos do que o governo gostaria. Políticas de segurança costumam levar algum tempo para dar resultado e nem sempre é possível cravar o fator responsável por uma queda nas mortes violentas. Em geral, o somatório de escolhas inteligentes faz mais efeito do que uma bala de prata qualquer.
Ainda assim, tudo indica que uma eventual redução da criminalidade em 2023 será uma oportunidade para virar uma chave em algumas discussões. O governo deu sinais de que vai explorar os números para dobrar a aposta nas escolhas feitas até aqui e tentar desmontar mitos alimentados pela oposição.
Nesta quarta (3), o ministro em exercício Ricardo Cappelli (Justiça) defendeu o controle sobre armas e disse que essa restrição é parte de uma política "que reduziu o número de homicídios" no país. Mais tarde, ele anunciou que o governo publicaria diretrizes sobre o uso de câmeras corporais pela polícia.
Por quatro anos, a direita bolsonarista vendeu uma relação não comprovada entre a proliferação de armas e a queda de mortes violentas, além de alegar que uma polícia livre para matar deixaria o país mais seguro. As estatísticas podem ajudar a refutar parte dessas fantasias, mas o governo ainda terá muito trabalho.
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