Dona das marcas de eletrodomésticos Brastemp e Consul, a Whirlpool vai investir R$ 550 milhões nos próximos três anos na fabricação de refrigeradores em Joinville (SC) e de lavadoras em Rio Claro (SP).
A aposta da companhia num pacote de investimento que é mais que o dobro do último, anunciado em julho de 2021, se baseia numa combinação de fatores que deve impulsionar a demanda por eletrodomésticos da linha branca.
Gustavo Ambar, gerente-geral da Whirlpool no Brasil, aponta a trajetória de queda dos juros, a recomposição da renda, o crescimento da população e também o fato de a metade dos eletrodomésticos presentes nos domicílios brasileiros estar perto de esgotar a sua vida útil como alavancas do potencial de consumo a médio prazo.
A companhia já sentiu uma reação gradual nas vendas desde o terceiro trimestre. Além da melhora na conjuntura, o resultado também foi influenciado por uma campanha de reposicionamento da marca, iniciada em setembro.
De janeiro a setembro, a receita líquida consolidada da Whirlpool S.A. ― que reúne todas as empresas da companhia no Brasil ― foi de R$ 8,038 bilhões, com alta de 2,5% em relação a igual período do ano anterior, segundo informações financeiras disponíveis no site da companhia.
“Já enxergamos uma volta dessa demanda desde agosto, bem gradativa ainda. Não é céu de brigadeiro, mas o negócio está retomando”, disse Ambar ao Estadão. Ele frisa que não está super otimista, mas acredita que os próximos três anos serão menos difíceis do que os dois últimos. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Como foi o desempenho da Whirlpool nos últimos meses?
Foi um último trimestre relativamente melhor do que o trimestre anterior. Fizemos uma campanha de reposicionamento da marca e vimos alguns elementos no nosso resultado. Ganhamos de seis a sete pontos de preferência do consumidor pela marca. Outro efeito da campanha, mas não apenas por conta dela, foi o aumento da participação de mercado no final do ano. Inicialmente para o final do ano, tínhamos uma projeção de um crescimento baixo. À medida que foi passando o tempo, fomos enxergando um crescimento de duplo dígito no volume de vendas.
Como a matriz vai encarar o resultado de 2023, que foi o segundo pior ano dos últimos dez anos para o mercado de linha branca (geladeiras, fogões, lavadoras)?
Quando você olha o ano (de 2023), ele não foi muito diferente de 2022. Foi um pouquinho maior. No longo prazo, dez anos, é ruim. No curto prazo, foi um ano próximo do anterior, mas com uma curva (ascendente), uma saída melhor. A perspectiva é melhor.
Quais os planos para 2024?
Estamos anunciando investimentos de R$ 550 milhões para os próximos três anos nas fábricas instaladas em Joinville (SC) e Rio Claro (SP). Desse total, Joinville, onde são produzidas as geladeiras, ficará com R$ 350 milhões, e Rio Claro, onde são fabricadas as lavadoras, com R$ 200 milhões.
Qual o foco dos investimentos?
É um combinado de iniciativas. Os recursos serão investidos na eficiência das fábricas, automação, lançamento de produtos, pesquisas junto aos consumidores, tecnologia e flexibilidade fabril. Esse último ponto é importante. Principalmente em geladeiras, temos uma grande quantidade de modelos. Cada um tem um tipo de molde, especificação, fornecedor. Se cada linha faz um produto diferente, o tempo para se adequar à demanda é limitado. O que buscamos é aumentar a flexibilidade. Isso significa que a mesma linha não vai produzir só um modelo. Isto é, em uma linha, de forma alternada, é possível fazer dois a três modelos. Dentro desse pacote (de investimentos), também há uma parcela relevante destinada a pesquisa e inovação.
Qual foi a última vez que a companhia investiu?
A última vez que anunciamos um pacote parrudo de investimentos foi em julho de 2021, quando iniciamos a remodelagem da fábrica de Rio Claro. Entre 2019 e 2023, investimos R$ 1 bilhão na planta de Joinville, e R$ 260 milhões em Rio Claro, mas de forma gradual.
De onde virão os recursos?
O investimento será com capital próprio, mas conta com incentivos fiscais. Em Santa Catarina, tem crédito presumido de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Em Rio Claro, tem um incentivo municipal, focado em IPTU (Imposto sobre Propriedade Territorial Urbana).
Quantos postos de trabalho serão gerados?
Não estamos buscando gerar um grande volume de postos de trabalho, mas ampliar a produtividade. Temos 6 mil em pessoas na fábrica de Joinville, e estamos estimando 200 novos postos de trabalho. Em Rio Claro, temos 4,5 mil funcionários, e serão 100 novos empregos.
Na esteira desse investimento, estão novos modelos de refrigeradores e lavadoras?
Teremos uma nova rodada de lançamentos em todas as categorias, mas não divulgamos o número de lançamentos para este ano. Nos últimos dois anos, foram lançados mais de 40 produtos, que respondem por cerca de 40% da receita da companhia no Brasil.
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