O Encontro para a Consciência Cristã, um evento que reúne anualmente milhares de evangélicos conservadores, cancelou a presença do pastor Douglas Wilson. A polêmica começou na última terça quando o teólogo e militante antirrascista Ronilso Pacheco denunciou que o encontro estava prestes a receber um "pastor dos EUA que defende a escravidão".
A organização do evento atribuiu o cancelamento a questões de segurança. Eles enfatizaram a necessidade de "garantir a segurança física do pastor". Em um movimento similar, os juristas evangélicos Thiago Rafael Vieira e Jean Marques Regina apoiaram essa visão. Eles denunciaram o cancelamento como "um exemplo da força do discurso do ódio", atacando aqueles que se opuseram à presença do pastor.
Eles escreveram: "Muitos críticos progressistas atacaram a organização do evento, alegando que ela estaria trazendo ao Brasil um pastor reformado defensor da escravidão". Mas, segundo eles, "essa é uma grande fake news". Eles argumentam que a posição de Wilson foi tirada de contexto, defendendo que ele, na verdade, falou que "a abolição da escravidão deveria ter acontecido de maneira gradual".
O comunicado da Consciência Cristã e o artigo dos juristas deixaram de mencionar alguns pontos. Foi omitido, por exemplo, que a pressão para cancelar Wilson veio não apenas de progressistas, mas também de uma parte dos conservadores. "Wilson está dizendo que foi cancelado no Brasil por causa da ‘intolerância da esquerda’", escreveu a teóloga Norma Braga pelo X. "Eu já fui palestrante na Consciência Cristã e afirmo: NÃO FOI A ESQUERDA… Como muitos de nós que não queríamos ele aqui, sou uma conservadora reformada."
Igualmente grave e chocante para esses conservadores é a postura de Wilson como pastor. O também conservador Yago Martins revelou em vídeo que ele é envolvido em algo "muito obscuro e doloroso: o encobrimento de casos de pedofilia e abuso sexual nas igrejas".
O presbiteriano André Venâncio criticou, em um fio no X, a estratégia dos organizadores do encontro de promover uma visão simplista de luta do bem contra o mal em que a esquerda é o inimigo supremo. "Um exemplo claro disso é a facilidade com que qualquer crítica a Douglas Wilson ou a outros figurões é tratada como esquerdismo, feminismo, etc." E conclui: "Por trás de tudo, uma grande irresponsabilidade. E quem ama a igreja e alertou que pegaria mal será colocado na mesma categoria, a dos inimigos."
Em 2022, a polarização uniu a maioria dos evangélicos contra a esquerda. Este ano, candidatos moderados terão a oportunidade de atrair para suas campanhas os muitos evangélicos conservadores que rejeitam o fundamentalismo e o aparelhamento de igrejas para fins políticos.
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