Pode ser que você já tenha se deparado com pais dizendo aos filhos “Aproveite bastante agora, porque quando você começar a trabalhar, essa felicidade acaba…”. Mas será que a suposta ausência de felicidade na vida adulta pode ser atribuída ao trabalho, ou ao fato de que passamos a priorizar aquilo que precisamos fazer, em detrimento daquilo que gostamos de fazer?
Um estudo feito por uma equipe de pesquisadores de MIT, Harvard e Stanford apontou a importância de reservar um tempo para se divertir na vida adulta. Aqueles que não incluem na rotina atividades que considerem divertidas apresentam uma tendência maior ao burnout e até mesmo a vícios, como forma de aliviar o desconforto.
Ou seja, a suposta culpa da infelicidade não é do trabalho, mas da desconexão entre o ser humano e aquilo que o faz feliz como um todo.
A concepção de felicidade remonta à Antiguidade. Na Grécia, Aristóteles introduziu o conceito de eudaimonia, associando a felicidade à realização de nosso potencial mais elevado. Para ele, a verdadeira felicidade está ligada a virtudes, alinhando-se com valores éticos e morais. Por mais distante que a ideia pareça hoje, ela se linha com o que há de mais científico em relação à felicidade, inclusive no ambiente de trabalho.
Em 1938, a Universidade de Harvard deu início a um estudo com o intuito de analisar a relação entre saúde e felicidade. Após mais de 80 anos de pesquisa — a mais longa da área —, a instituição obteve resultados reveladores a respeito da importância das boas experiências na vida adulta, incluindo a felicidade no trabalho, para a longevidade.
Agora responda: você é feliz no trabalho? Talvez a resposta seja acompanhada de várias ponderações: “Eu gosto do que eu faço, apesar de…”, “Mesmo sendo bastante desgastante, até que eu sou…”, e assim por diante.
Mas e se a pergunta for outra: “Você é infeliz no trabalho?”. Perceba como essa forma facilita uma resposta binária, sim ou não. Isso acontece porque existe uma assimetria entre felicidade e infelicidade.
Podemos rapidamente identificar o que nos deixa infelizes — seja o luto pela perda de alguém que amamos, doença, separação. No entanto, a felicidade é indefinível e muito mais imponderável, já que aquilo que nos traz alegria — relacionamentos, notoriedade, sucesso, dinheiro —, de uma hora para outra, pode nos trazer desconforto. E se essa distinção é difícil de ser feita na vida pessoal, identificar a felicidade no trabalho pode ser ainda mais desafiador.
Para Arthur Brooks, professor de Harvard e um dos maiores especialistas em bem-estar e felicidade no trabalho, o cargo que você ocupa é muito menos importante para sua felicidade do que você se identificar com ele.
Em resumo, não basta ocupar uma cadeira de alto executivo se as demandas do cargo estão longe do que você de fato gosta de fazer. Ou até mesmo se você não vê sentido nas suas realizações.
Isso vai ao encontro do que pensa minha colega Juliana Sawaia, cientista de dados de formação e, hoje, happiness architect por vocação. Segundo ela, a felicidade no trabalho não é uma constante, e sim uma construção, que varia de pessoa para pessoa. E isso independe do cargo que ocupe.
Ou seja, ser feliz no trabalho não significa ser “bem-sucedido” segundo os moldes do senso comum. Afinal, organizações são feitas de pessoas — cada qual com seus anseios, desejos e, sobretudo, com seu propósito único.
Metade da sua felicidade está ligada a fatores genéticos, como a produção e o transporte de serotonina. Os outros 50% são divididos entre 10% das circunstâncias que você enfrenta, e 40% os hábitos que você cultiva — e o seu modo de administrar tudo isso.
Do lado das empresas, é importante ter em vista que felicidade precisa ser parte da cultura organizacional, ou seja, ser parte da alma da empresa. Não importa qual seja o mercado ou a estratégia. Mesmo empresas com uma cultura mais ágil e agressiva podem, e devem, se preocupar com a felicidade dos colaboradores. Lembre-se de que cultura agressiva não é sinônimo de cultura predatória. Afinal, pessoas felizes produzem mais do que pessoas infelizes.
Nesse sentido, estas são seis dicas que podem ajudá-lo a ser mais feliz no trabalho — e mais saudável e longevo —, não importa o cargo que você ocupe:
Estabeleça relações positivas com colegas de trabalho: construir relacionamentos amigáveis e de apoio no ambiente de trabalho pode aumentar significativamente a felicidade. Não quer dizer que você precisa ser melhor amigo de todos, mas ser cordial, oferecer ajuda quando necessário e participar de atividades sociais da empresa pode criar um ambiente de trabalho mais agradável. Relações positivas no trabalho podem oferecer suporte emocional, melhorar a comunicação e tornar o dia a dia mais leve e divertido.
Crie um ambiente de trabalho confortável e inspirador: o espaço físico onde trabalhamos tem um grande impacto no nosso bem-estar. Personalize sua área de trabalho com itens que lhe trazem alegria e conforto, como fotos de família, plantas ou uma cadeira ergonômica. Um ambiente de trabalho organizado e inspirador pode aumentar a produtividade e reduzir o estresse, tornando as horas de trabalho mais prazerosas.
Estabeleça metas realistas e celebre conquistas: definir metas alcançáveis e celebrar pequenos sucessos pode trazer um senso de realização e satisfação. Isso ajuda a manter a motivação e a autoestima. As metas devem ser específicas, mensuráveis e realistas, para evitar frustrações.
Pratique a gratidão e a positividade: focar os aspectos positivos do trabalho e praticar a gratidão muda significativamente sua percepção sobre o ambiente de trabalho. Isso pode incluir agradecer por ter um emprego, reconhecer o aprendizado obtido e valorizar as oportunidades de crescimento.
Faça pausas e cuide da saúde mental e física: é importante fazer pausas regulares durante o dia de trabalho para evitar o esgotamento. Essas pausas podem incluir uma caminhada curta, alongamentos ou simplesmente um momento para respirar e se desligar do trabalho. Além disso, cuidar da saúde mental e física fora do trabalho é crucial, incluindo um exercício físico que te agrade, alimentação balanceada e atividades que promovam relaxamento e bem-estar.
Adote uma mentalidade de crescimento: encarar desafios e erros como oportunidades de aprendizado pode transformar a forma como vê o trabalho. Com uma mentalidade de crescimento, você estará mais aberto a novas experiências, disposto a aprender e a se adaptar. Isso não só aumenta a resiliência diante de dificuldades, mas também abre portas para o desenvolvimento pessoal e profissional, contribuindo para maior satisfação no trabalho.
Na jornada de descobertas sobre a felicidade no trabalho, lembre-se de que a alegria no ambiente profissional não é um destino distante, mas um caminho que trilhamos todos os dias. Assim como uma criança encontra alegria nas pequenas coisas, nós também podemos redescobrir essa felicidade genuína em nossas atividades diárias. Seja através de relações positivas, de um ambiente inspirador ou da celebração de conquistas, cada passo que damos em direção ao bem-estar no trabalho é um passo em direção a uma vida mais plena e realizada.
Portanto, em vez de enxergar o trabalho como o fim da felicidade, vamos transformá-lo em um espaço de crescimento, aprendizado e, acima de tudo, de alegria. Que este artigo não seja apenas uma leitura, mas um convite para você criar sua própria história de felicidade no trabalho — uma história que vale a pena ser vivida e celebrada.
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