Cerca de 800 tratores de "agricultores em fúria" na França —movimento de protesto por melhores condições econômicas que entra em sua segunda semana de forte mobilização— bloquearam oito rodovias em torno da Grande Paris nesta segunda-feira (29).
O movimento é organizado pela FNSEA (Federação Nacional dos Sindicatos dos Agricultores), maior sindicato agrícola da França, ao lado dos Jovens Agricultores (JA).
As entidades já haviam falado de um cerco a Paris na sexta-feira (26), mas só depois ele foi confirmado, com hora marcada para as 14h locais (10h no horário de Brasília). Por volta das 17h na capital francesa (13h em Brasília), estavam paradas as rodovias A1, A4, A5, A6, A10, A13, A15 e A16, todas elas rotas de entrada para a capital.
"Nosso objetivo não é aborrecer ou arruinar a vida dos franceses", disse o presidente da FNSEA, Arnaud Rousseau, à rádio RTL. "É pressionar o governo para garantir que, rapidamente, encontremos soluções para acabar com a crise."
Ele acrescentou que, quando as ações acontecem longe de Paris, "a mensagem não é recebida". Nenhuma região da França será poupada dos bloqueios rodoviários, alertou.
O ministro da Agricultura, Marc Fesneau, disse que novas medidas seriam anunciadas em 48 horas, até a próxima quarta-feira (31). Mais tarde, após reunião com o primeiro-ministro Gabriel Attal, afirmou que o faria na terça (30). Já Attal receberia os sindicatos ainda nesta segunda para ouvir suas reivindicações.
Na sexta-feira, em reunião com fazendeiros, o primeiro-ministro anunciou o fim do aumento gradual de um imposto sobre o diesel não rodoviário (combustível obrigatório para máquinas agrícolas na França), além de outras medidas. Mas elas foram consideradas insuficientes pela classe.
Já o presidente Emmanuel Macron informou que falará sobre a crise no mundo agrícola com Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia (UE), nesta quinta-feira (1º), em Bruxelas.
Existem quase 400 mil agricultores na França, país com a maior produção agrícola do bloco europeu. Muitos desses trabalhadores enfrentam dificuldades financeiras e dizem que os seus meios de subsistência estão sendo ameaçados à medida que os comerciantes de alimentos, orientados pelo governo, aumentam a pressão para que eles baixem os preços da produção neste período de inflação elevada.
Além disso, eles protestam contra a competição com importações baratas (especialmente de grãos ucranianos, mas também do que pode vir de um eventual acordo com o Mercosul), e contra o acordo verde da UE, que impõe cada vez mais padrões ambientais à produção agrícola.
Um dos símbolos dos manifestantes são as cercas vivas. Por séculos, essas cercas trançadas têm sido plantadas nos campos da Europa para servir de barreira natural para rebanhos. Também têm uma função ecológica ao promover a circulação de sementes transportadas por pássaros e outros pequenos animais que a sebe abriga.
Os fazendeiros reclamam que hoje há tanta burocracia que é quase impossível plantar uma simples cerca dessas. Um estudo feito pelo departamento de Manche, no noroeste da França, listou 14 normas que podem ser aplicadas a elas, oriundas de diferentes regulações relativas ao tema.
Por exemplo, uma sebe plantada à margem de um curso de água é, a princípio, regida pelo código ambiental federal. Se estiver localizada dentro de um perímetro de proteção de captação de água potável, porém, sua plantação também deve obedecer aos códigos de saúde pública. E se estiver próxima de um monumento histórico ou um local conhecido, ainda deve seguir as regras do código de patrimônio.
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