Em 15 horas dentro de Israel, o Hamas matou 1.200 israelenses. Em 2.400 horas, ou cem dias, dentro da Faixa de Gaza, Israel matou cerca de 25 mil palestinos. (Hoje, são mais de 27 mil mortos, número não oficial.)
Se Israel mantivesse a sanha do Hamas em 15 horas, poderia ter matado 192 mil palestinos em cem dias. Ou muitos mais, com seu exército e aviões.
Essa aritmética da insanidade mostra a selvageria do ataque dos terroristas do Hamas a aldeias e a um festival de música em Israel na fronteira de Gaza.
Estupraram mulheres diante de filhos e maridos, e depois os mataram. Brincaram com um seio amputado, como se fosse uma bola. Um dos terroristas ligou para os pais, orgulhoso: "Pai, mãe, beijem minha mão, pois eu matei judeus" Arrancaram o feto de uma grávida. Queimaram até criança. E capturaram 240 reféns, incluindo um bebê de nove meses.
Confrontados tardiamente por soldados israelenses, os terroristas correram de volta para seus túneis em Gaza, onde uma multidão os recebeu como heróis — —os heróis exibiam uma mulher nua, morta, como um troféu, na boleia de uma picape. Na 15ª hora, os invasores que não fugiram estavam mortos. Restavam corpos, incredulidade, dor, destruição e mais um trauma profundo num país traumatizado por guerras e atentados terroristas ao longo de sua história.
No Oriente Médio, vale a lei da força. Não mais a da reciprocidade da Lei de Talião babilônica, olho por olho, dente por dente, mas cem olhos por um olho, a dentadura por um dente. A retaliação israelense foi tão brutal ou mais que o massacre do Hamas. Os terroristas se protegeram dentro de seus 780 quilômetros de túneis, o "metrô de Gaza", com "estações" em hospitais, escolas, mesquitas e prédios da ONU. Os civis que saudaram os "heróis" voltando de Israel ficaram à flor do deserto como escudos, sem abrigos antiaéreos. Quantos mais morrem, mais o mundo denuncia um "genocídio". Faz parte da estratégia do terror.
O editor-chefe da revista New Yorker, David Remnick, procurou empatia dos israelenses com o sofrimento em Gaza. Um dos seus entrevistados, um pacifista, explicou: "Atravessaram a fronteira, vieram às nossas aldeias para pilhar, violar, matar e raptar. Por isso, como israelense, é difícil para mim sentir pena, enquanto continuamos a enterrar cinco a sete soldados por dia". Ele não se preocupou com Gaza, "da mesma forma que os britânicos não se preocuparam com os alemães na Segunda Guerra Mundial, e os americanos com os japoneses. Fomos forçados a esta situação. Não fomos nós que a iniciamos. Pelo contrário, fomos nós que iniciamos a paz".
Em sua longa reportagem, Remnick observa que em Israel a TV não mostra o que o resto mundo vê: cadáveres de crianças embrulhados em lençóis, junto a outros mortos adultos, destinados à vala comum. "Por que é que devemos voltar a nossa atenção [para Gaza]? Eles mereceram aquele inferno de forma justa, e eu não tenho um miligrama de empatia."
Genocídio? O caso é mais de direito humanitário, ou crimes de guerra. Quem quer "limpar" a Palestina de judeus é o Hamas. Está escrito em seu programa, que não contempla nenhuma perspectiva de paz. Em Israel, os árabes são 20% da população, e contando. Um genocídio os tornaria as primeiras vítimas, mas eles, na verdade, estão aumentando.
Na véspera do massacre de 7 de outubro, ministros do governo Netanyahu discutiam um aumento de palestinos de Gaza com direito a trabalhar em Israel, como um incentivo à temporada sem disparos de mísseis aleatórios contra cidades israelenses. Era uma trégua estratégica. O líder do Hamas, que elaborou por dois anos o ataque surpresa, Mohammed Deif, apelidado de "Sombra" por só se mostrar projetado numa parede, esperou pelo momento em que constatou a fraqueza de Israel, dividido pela reforma judicial pretendida por Benjamin Netanyahu, e deu a ordem para a invasão.
Aconteceu comigo e com muitos israelenses: voltamos a nos sentir judeus. Na minha infância, no bairro da Renascença, em Belo Horizonte, o dia de malhar o Judas era o dia de ficar em casa. Fui perseguido uma vez por uma turba que gritava: "Pega judeu!" A avó de um amigo se despediu de mim dizendo enquanto me abraçava: "Você é um menino tão bom, nem parece judeu…". No Quênia, num bar, um homem veio até a mim e começou a gritar, entre palavrões, espumando de ódio: "Judeu!". E o verbo "judiar"?
Israel está enfrentando o Hamas, o Hezbollah no sul do Líbano e os houthis no Iêmen, ameaças do Irã, a Síria, os palestinos na Cisjordânia, protestos pró-Gaza mundo afora e o julgamento por genocídio na Corte Internacional de Haia, que decidiu, preliminarmente, nesta sexta-feira, que Israel deve tomar medidas para prevenir um genocídio, sem pedir um cessar-fogo). Nas redes sociais, a unanimidade é crítica, muitas vezes difamatória e desinformada. É antissemitismo? Antissionismo? Ex-deputado, José Genoino foi direto ao ponto: pediu boicote a empresas de judeus. Não consigo entender a fascinação de setores da esquerda por um grupo brutal e misógino como o Hamas, indiferente à vida humana.
Israel apenas se defendeu, como qualquer outro país faria, se atacado. Mas pegou pesado. Partiu com sede de vingança pelo massacre do Hamas ainda vivo na memória. Era assim o general Ariel Sharon, sem limites. No contra-ataque da guerra do Yom Kippur, em 1973, cercou o terceiro exército egípcio no deserto do Sinai e negou-lhe água até que a grita mundial o obrigou a ceder. Ele também se excedeu ao bombardear a OLP em Beirute, minutos depois do início do cessar-fogo obtido pelos Estados Unidos.
Acompanhei como repórter algumas guerras de Israel. Vi panfletos em árabe caindo do céu para alertar os civis da iminência de bombardeios. Em uma ocasião, os moradores de um prédio que seria atacado foram avisados por celular. Em Gaza, os civis são usados pelo Hamas como escudos e propaganda internacional. Com tanto cimento para os túneis, por que não construíram abrigos antiaéreos?
Se os terroristas quisessem parar a guerra, poderiam libertar os mais de cem reféns ainda em seus túneis. A eles foi oferecida a saída segura para o exílio e dois meses de cessar-fogo. Recusaram. O líder Yahya Sinwar nunca escondeu suas intenções: "Iremos ter convosco, se Deus quiser, num dilúvio estrondoso. Iremos ter convosco com foguetes intermináveis, iremos ter convosco numa inundação ilimitada de soldados, iremos ter convosco com milhões do nosso povo, como a maré que se repete." O ataque foi batizado de Tempestade Al Aqsa, lembrando a Tempestade no Deserto, dos EUA, no Golfo.
O presidente de Israel, Isaac Herzog, disse em Davos, na Suíça, recentemente: "Israel perdeu a confiança nos processos de paz porque vê que o terror é glorificado por nossos vizinhos". A marroquina-israelense Eva Illouz, professora de sociologia e antropologia em Israel e na França, acrescenta: "Nenhum país do mundo tem de enfrentar a legitimidade da sua própria existência sendo posta em causa por ‘esquerdistas de bom coração’ e ‘antissemitas bem-intencionados’." Para ela, "o povo de Gaza merece a compaixão e o compromisso do mundo para reabilitar a sua sociedade, embora a maioria deles apoie o Hamas".
Avi Issacharoff, cocriador da série "Fauda", diz que "há histórias que todos guardamos na nossa memória coletiva do Holocausto. É um lugar muito, muito sensível na alma dos israelenses. Isso fez com que os israelenses se levantassem e dissessem 'basta'. Para mim era muito claro que, no primeiro dia [após o ataque do Hamas], o mundo ficou do lado de Israel. Mas eu sabia que dentro de alguns dias isso iria mudar. Talvez tenha sido uma síndrome de David e Golias quando Israel retaliou. Agora estamos assistindo ao puro antissemitismo e ao ódio contra o povo judeu em todo o mundo".
Nenhum comentário:
Postar um comentário