Um leitor fez há pouco tempo um comentário sobre uma coluna minha publicada na Folha e republicada no Twitter. Para ele, o artigo cheirava a "status quoismo". Eu me declaro culpada da acusação.
É um clichê prudente na análise de custo-benefício que "não fazer nada" deve ser sempre uma possibilidade.
Nosso Congresso aqui nos Estados Unidos se orgulha de ter aprovado muitas e muitas leis durante um ano. Aposto que o Congresso brasileiro pensa o mesmo sobre si. Aqui nos Estados Unidos, aprovamos cada vez mais leis para tornar o sistema de saúde do nosso país mais monopolista do que ele já é. Ou então aprovamos cada vez mais leis que declaram ilegais alguns atos inocentes, como trançar cabelos ou importar aço.
Lembre-se sempre de que criar mais leis pode piorar a nossa situação.
Os legisladores dizem que tal ou tal lei é "projetada" para melhorar a nossa situação atual. Entretanto, frequentemente, algo que foi "projetado" para um certo fim acaba não funcionando. O banco central, por exemplo, elabora um "projeto" para conseguir um pouso suave na economia de um país. Mas ele falha. Os legisladores elaboram no Congresso um "projeto" para conseguir a "substituição de importações". Funciona, mas o projeto não melhora a nossa situação.
Thomas Paine (1737-1809) foi um inglês que, em 1776, escreveu "Common Sense" [Senso Comum], em louvor à Revolução Americana.
Em sua obra, Paine declarou: "Nós temos em nosso poder a chance começar o mundo novamente".
Não, Tom, nós não temos. Todos os radicais, desde Jesus de Nazaré até Vladimir Lênin, disseram isso, para o bem ou para o mal.
O problema é o "para o mal". Hamlet falou consigo mesmo sobre o problema, perguntando se não deveríamos "suportar os males que temos / em vez de voar para outros que desconhecemos".
Montaigne (1533-1592) escreveu que "qualquer pessoa que intervenha" para a mudança das leis "deve ter muita certeza de que vê a fraqueza daquilo que está descartando e a bondade do que está trazendo".
Tal prudência, temperança e justiça liberais não descreveriam os engenheiros sociais modernos, como Marx e Keynes, como Thomas Piketty e Mariana Mazzucato.
O "status quo ante" [a situação anterior] é, por vezes, e até por muitas vezes, o melhor que podemos fazer —tanto nas nossas vidas pessoais como na vida da nação.
Costumamos dizer em inglês: "Tenha cuidado com o que você deseja. Pode ser pior".
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