O dólar fechou esta segunda-feira (7) com expressiva queda de 1,35%, a R$ 5,2520. É a menor cotação da moeda americana frente ao real em quase cinco meses. A menor marca anterior havia sido R$ 5,2360, em 15 de setembro.
A atuação do Banco Central ao remediar a alta da inflação por meio do aumento da taxa Selic é um dos fatores que sustenta a queda da moeda americana. Juros altos ampliam a atratividade da renda fixa brasileira para investidores estrangeiros, que trazem seus dólares. Somente neste ano, mais de US$ 30 bilhões (R$ 159 bilhões) entraram no país.
"O principal diferencial [para a queda do dólar] pode ser a taxa de juros. Estamos com a Selic a 10,75%, o que dá um juro real [descontada a inflação] elevado neste ano, se considerarmos uma previsão de IPCA [inflação oficial] prevista para 5,3%", diz Fernando Giavarina, chefe de câmbio da Valor Investimentos.
Para o mercado de ações, porém, a valorização da renda fixa representa concorrência. A alta da Selic pode exercer pressão negativa sobre o desempenho da Bolsa de Valores brasileira.
Nesta segunda, o Ibovespa derrapou. O índice de referência do mercado acionário do país caiu 0,22%, a 111.996 pontos. Neste ano, porém, a Bolsa ainda acumula alta de 6,84%.
A pressão da alta dos combustíveis sobre a inflação está no radar do mercado não apenas porque a alta nos preços resultaria em juros ainda mais elevados, mas também devido ao seu potencial de estimular medidas políticas que possam afetar a arrecadação federal. A preocupação com o risco fiscal voltou a aparecer em destaque nos relatórios de analistas a investidores nesta segunda.
Temendo um pico de inflação no terceiro trimestre deste ano, no auge da campanha eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro (PL) decidiu patrocinar uma PEC (proposta de emenda à Constituição) com o objetivo de reduzir tributos sobre combustíveis.
Em relatório a investidores, o Banco Original destacou que a equipe econômica ainda insiste na ideia de que a redução dos tributos seja feita por meio de projeto de lei, e não PEC. Isso, em tese, amenizaria o impacto sobre a arrecadação.
A Genial Investimentos alertou que, após um ciclo de altas da Bolsa em janeiro, o fim do recesso parlamentar volta a trazer os ruídos da política para o mercado.
Também entra como destaque na análise da corretora propostas em tramitação no Congresso que permitem a retirada dos impostos sobre combustíveis, sem compensação de aumento de outros impostos, como exige a Lei de Responsabilidade Fiscal.
"Se todos os estados e o governo federal caminharem nesta direção, poderemos ter uma redução de receitas tributárias e um aumento do déficit primário entre R$ 57 bilhões e R$ 100 bilhões. Risco fiscal na veia", escreveram os analistas da Genial.
Risco fiscal é o nome que o mercado dá à possibilidade de que a União não seja capaz de cumprir o seu Orçamento. Ao ampliar gastos e abrir mão de receita, o governo eleva esse risco. Em períodos que antecedem eleições presidenciais, preocupações fiscais costumam provocar quedas na Bolsa e altas no dólar, pois investidores buscam segurança em ativos ligados à moeda americana.
Nesse contexto, a atual queda do dólar é inesperada. Mas além de uma taxa de juros alta, existe também a percepção entre investidores globais de que o real foi excessivamente desvalorizado no ano passado, quando a crise política e o drible do governo no teto de gastos tiveram impacto negativo na avaliação do mercado sobre o Brasil.
Com a disputa eleitoral voltando a pressionar o risco fiscal, analistas avaliam que o limite para a queda do dólar está próximo.
"Quando a gente pensa em risco, seria para cima, considerando a questão fiscal hoje. Então, é possível que a gente não veja uma tendência de queda de taxa de câmbio daqui para frente", diz Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest.
Entre as principais fontes de pressão da inflação, o preço dos combustíveis acompanha a alta do petróleo no mercado internacional. Apesar do barril do tipo Brent, referência mundial, ter recuado 0,57%, a US$ 92,74 (R$ 490,71) nesta tarde, a comodity se mantém no patamar mais elevado desde 2014.
É o desbalanceamento entre a oferta apertada mantida pelos principais países exportadores e a elevada demanda o principal responsável pela alta do petróleo. A crise envolvendo a Rússia, que ameaça invadir a Ucrânia, piorou esse cenário. A Rússia é um dos principais produtores e um conflito poderia reduzir ainda mais a oferta.
Alvo frequente de críticas do mundo político devido à sua política de preços de combustíveis, que segue a variação do mercado internacional, as ações da Petrobras recuaram 1,47%. O desempenho da estatal representou a maior pressão negativa sobre o Ibovespa nesta segunda.
Ainda no setor de commodities, a mineradora Vale subiu 2,44%. A companhia vem se beneficiando da valorização do minério de ferro devido à expectativa de aumento da demanda na China.
Entre os destaques positivos do início da sessão da Bolsa brasileira, a BB Seguridade subiu 5,74%, a maior alta da sessão. A empresa apresentou um balanço com resultados acima da expectativa do mercado.
Nos Estados Unidos, investidores tentam avaliar se os dados de geração de emprego e do comportamento dos rendimentos na economia americana, que vieram bem acima do esperado na semana passada, vão aumentar a pressão sobre o Fed (Federal Reserve, o banco central do país) para acelerar o aumento de juros. A taxa, atualmente zerada, tem previsão de começar a subir em março.
A alta dos juros americanos poderá ter efeitos negativos para os mercados de ações dos Estados Unidos e de todo o mundo. Ela aumenta a recompensa para a aplicação de renda fixa mais segura do mundo, que são os títulos do Tesouro do governo americano. Isso diminui a disposição de investidores por ativos mais arriscados, como ações de empresas.
Enquanto aguardam um posicionamento mais claro do Fed a respeito de quanto será o aumento, investidores realizam lucros ao vender ações na Bolsa americana que ainda estão com preços elevados.
Nesta segunda, o índice Dow Jones fechou estável. O S&P 500, referência do mercado acionário dos Estados Unidos, recuou 0,37%. A queda foi mais uma vez puxada pelo setor de tecnologia. A Nasdaq caiu 0,58%.
Há pouca tolerância no mercado americano com desempenhos negativos de empresas de tecnologia, inclusive com as gigantes, como a Meta, que cedeu 5,14% nesta segunda.
As ações da dona do Facebook já caíram 30% após a empresa ter apresentado um resultado frustrante na semana passada. A companhia já perdeu cerca de US$ 286 bilhões (R$ 1,5 trilhão) em valor de mercado desde o fechamento da sessão da última quarta (2).
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