Em 1958, o chefe da polícia no Rio de Janeiro, general Amaury Kruel, compôs uma equipe especial de combate ao crime com carta branca para agir, tendo à frente o detetive Milton Le Cocq, que havia integrado a guarda pessoal de Getúlio Vargas e cuja morte resultou na criação da Scuderie Le Cocq, nascida sob a marca da vingança e da caça ao assassino Cara de Cavalo —executado em 1964 com mais de cem disparos.
Cara de Cavalo foi um dos primeiros bandidos midiáticos. Também endeusada pela imprensa, a Scuderie Le Cocq —que se transformou em associação e teve mais de 7.000 seguidores espalhados pelo país— introduziu o extermínio de marginais como prática da polícia. Parte da população aplaudiu a nova ordem.
Em 1969, o general Luiz França, chefe da polícia na Guanabara durante a ditadura militar, criou o grupo de elite Doze Homens de Ouro, um para cada signo do zodíaco, que nos anos seguintes roubariam, extorquiriam e, lógico, matariam. O líder era Mariel Mariscot, tão exibicionista que fazia questão de buscar a namorada, a travesti Rogéria, à porta do teatro Rival. Antes de ser assassinado, puxou cadeia na ilha Grande.
Tanto a Scuderie Le Cocq como os Doze Homens de Ouro estão na origem dos escritórios do crime, dos esquadrões da morte e dos grupos paramilitares que hoje infestam o país —eis um privilégio que não é só do Rio. Em qualquer ranking de violência, o Brasil se destaca como campeão de homicídios no mundo.
Mais do que a vontade de fazer justiça com as próprias mãos, instalou-se o desejo de eliminar o outro. O tesão de matar virou estilo de vida. Como no famoso bloco de Carnaval, cada pessoa armada é uma scuderie, um esquadrão do eu sozinho. Ricos colecionam fuzis, dizem-se caçadores esportivos e fazem terapia em clubes de tiro. A classe média usa pistola. Pobres vão de faca, paus e pedras e são ao mesmo tempo algozes e vítimas do linchamento geral.
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