Fábio Zanini
Na noite de segunda-feira (19), uma live de quase três horas de duração reuniu seis dos mais dedicados e influentes propagadores do pensamento do filósofo Olavo de Carvalho.
Estavam lá para ajudar o ideólogo do bolsonarismo e da chamada nova direita, que recentemente teve de ser internado com problemas respiratórios.
Já fora do hospital, Olavo dá início nessa semana a um curso online de ciência política, ao custo de R$ 600 por cinco aulas, e um dos objetivos do evento era fazer propaganda dele. Até a manhã desta terça (20), a live tinha 128 mil visualizações.
Mas a conversa foi muito mais do que isso. Se alguém tem interesse em medir o tamanho da influência de Olavo sobre a direita, sugiro dar uma olhada (aqui está o link). Não há exagero em definir o olavismo como uma quase religião.
Participaram o sociólogo Silvio Grimaldo, ex-assessor especial do Ministério da Educação, o empresário e influenciador digital Leandro Ruschel, o dono do canal Terça Livre, Allan dos Santos, o youtuber católico Bernardo Kuster e os irmãos Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação, e Arthur, ex-assessor da Presidência.
Haveria um sétimo participante, o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, mas ele teve de cancelar na última hora por compromissos inadiáveis, conforme foi divulgado na live. O próprio Olavo não participou, por estar descansando para se preparar para seu curso.
“Sou contra endeusar as pessoas, mas o Olavo é brilhante”, disse Abraham Weintraub, direto de Washington, onde trabalha no Banco Mundial. “Eu considero ter aula com ele como ter aula com Santos Dumont sobre aeronaves, ou de música com Heitor Villas-Lobos”, completou o ex-ministro da Educação.
A seu lado, o irmão Arthur, que atualmente trabalha na OEA (Organização dos Estados Americanos), concordou, atribuindo ao filósofo dons de clarividência. “Ele consegue ver as coisas sem ter estado lá. Consegue saber simplesmente deduzindo. É impressionante”.
Mesmo um dos pontos mais criticados de Olavo, a sua verborragia e o uso de vocabulário chulo, tem um viés positivo, segundo Arthur. “Aqueles palavrões que ele usa, aquilo é genial, porque tem impacto nas ideias, você aprende muito rápido, assimila muito rápido”.
Ruschel, atualmente morando em Miami e trabalhando no mercado financeiro, diz que a leitura de livros de Olavo o resgatou de um ambiente contaminado pela esquerda.
“O Olavo me salvou. Eu entrei na universidade, caí numa faculdade federal e foi uma máquina de triturar ossos. Você é sugado por uma cultura de esquerda. E isso porque eu passei num curso de engenharia, não de humanas. Em poucos meses, o pessoal já estava me levando para passeatas pró-Palestina, para causas de esquerda em geral”, relatou.
Para Grimaldo, que trabalha no jornal eletrônico Brasil Sem Medo, alinhado às ideias do professor, o grande mérito de Olavo é a capacidade de ter ressonância entre as pessoas, mesmo que não tenham muita formação acadêmica.
Isso se manifesta, por exemplo, na popularidade do documentário “Jardim das Aflições”, do cineasta Josias Teófilo, que narra a trajetória do filósofo
“Quando você vê o DVD do Josias disputando espaço no camelódromo com o [cantor sertanejo] Gusttavo Lima, percebe que esse impacto a esquerda não consegue impedir”, disse Grimaldo.
Um exemplo da importância de Olavo, afirmou Grimaldo, foi ter alertado com anos de antecedência sobre riscos para o conservadorismo que ninguém percebia, como o Foro de São Paulo. “Ele que trouxe o Foro como uma espécie de categoria do pensamento político latino-americano”.
Allan dos Santos, hoje uma espécie de líder da bancada olavista nas redes sociais, disse que o filósofo é perseguido injustamente pelos meios de comunicação.
“Quando eu vejo a imprensa falando do professor Olavo, eu fico perguntado de quem ele estão falando: do maior mestre da língua portuguesa vivo, do maior filósofo vivo, do homem que depois de abandonado pelo mainstream monta um sozinho um curso online, que continua capacitando desembargadores, economistas, professores universitários e até a senhorinha dona de casa? Não, eles falam apenas do professor Olavo que publica nas redes sociais”, afirmou Allan, que pediu enfaticamente aos que acompanhavam a live que se inscrevessem no curso do filósofo.
Para Allan, “o Brasil não merece o amor que o professor Olavo tem pelo Brasil”. “Ele poderia muito bem parar tudo o que está fazendo e viver a vidinha dele”, afirmou, em referência ao filósofo que há 15 anos mora nos EUA.
Kuster, também do site Brasil Sem Medo, disse que o filósofo ajuda as pessoas a entenderem os movimentos políticos e os interesses dos grupos que disputam o poder.
“A gente não tem a qualidade do Olavo para acertar sempre, mas ele nos fornece as ferramentas para acertar. O que o Olavo consegue é um negócio único. Nunca vi alguém fazer isso”, disse.
A veneração bolsonarista por Olavo de Carvalho vem em grande parte do reconhecimento de que ele foi o primeiro a propor ideias conservadoras num momento em que a direita no Brasil era vista como algo apenas folclórico.
Com a eleição que se aproxima, em que a renovação do mandato de Jair Bolsonaro poderá ser mais difícil do que se imaginava, as ideias de Olavo novamente deverão servir como um guia para os apoiadores do presidente.
Como disse Kuster na live, é preciso engajar-se ideologicamente desde já, sem a tentação do “isentismo”. “Olavo sempre diz que o isentismo antecede o socialismo, o comunismo”.
Se isso não for feito, de acordo com Kuster, a direita vai encolher em 2022. “Mais uma vez Olavo estava completamente certo”.
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