A prevalência da variante P.1 do vírus Sars-CoV-2 já atinge 90% das amostras analisadas pelo Instituto Adolfo Lutz no estado de São Paulo.
Segundo estudo divulgado nesta terça (27) pela Secretaria de Estado da Saúde, foram avaliadas 1.439 sequências genéticas que identificaram 21 linhagens diferentes circulando nos municípios paulistas.
Em janeiro, a P.1 representava 20% dos sequenciamentos. Em fevereiro, correspondia a 40%, em março a 80% e em abril, a 90%.
De acordo com Adriano Abbud, diretor do centro de respostas rápidas do Instituto Adolfo Lutz, apesar de a variante ter maior transmissibilidade ainda não é possível afirmar que ela esteja associada diretamente ao aumento de internações e de mortes observado no primeiro trimestre.
“A gente ainda não consegue verificar se ela aumenta a gravidade da doença. É claro que, se tem uma transmissão mais facilitada, aumenta o número de casos, tem mais pressão no sistema hospitalar e pode gerar mais óbitos”, explica.
Primeiramente identificada em Manaus, a P.1 surgiu em novembro de 2020, cerca de um mês antes do aumento expressivo de novos casos e óbitos de Srag (Síndrome Respiratória Aguda Grave) naquela cidade, que se deu a partir de dezembro.
A variante é cerca de 1,7 a 2,4 vezes mais transmissível, segundo artigo publicado na quarta-feira (14) na revista Science.
De acordo com a pesquisa do Adolfo Lutz, a P.1 está presente nos 17 departamentos regionais de saúde, sendo predominante em 14 regiões, com exceção de São José do Rio Preto e de Presidente Prudente, onde a P.2 é mais frequente. Em Bauru, P.1 tem a mesma proporção da P.2 (40,51%).
Até outubro de 2020, a variante B.1.1.28 predominava e chegou a ultrapassar 90% das sequências. Havia também a B.1.1.33 que chegou a alcançar 30% das amostras.
Ambas sofreram mutações e deram origem a duas novas variantes, respectivamente: a P.2 e a N.9, que surgiram no último bimestre de 2020. Em novembro, a variante inglesa B.1.1.7 passou a circular no estado e, a partir de dezembro, a P.1 (derivada da B.1.1.28).
A B.1.1.7 está em 12 regiões do estado, com maior predominância em Campinas e Taubaté –de 12,33% e 21,05%, respectivamente. Não há registros em São João da Boa Vista, Bauru, Presidente Prudente, São José do Rio Preto e Marília.
Para Adriano Abbud, identificar as novas linhagens de um vírus é fundamental para conhecer o comportamento da epidemia do estado. “Permite que identifiquemos como o vírus se comporta no espaço e tempo.”
Segundo Abbud, apesar de o sequenciamento genético não mudar as atuais orientações e hábitos de prevenção, nem mesmo a assistência médica, elas podem dar respostas para eventuais dúvidas ou falhas de funcionamento das vacinas.
Alguns estudos apontam que essa ferramenta também ajuda na escolha do imunizante mais adequado para determinados grupos ou regiões a depender da variante mais predominante.
Há centenas de variantes do novo coronavírus ao redor do mundo e, atualmente, somente três são consideradas variantes de atenção pelas autoridades sanitárias nacionais e internacionais: P.1, B.1.1.7 e B.1.351.
Existem também as chamadas “variantes de interesse”, que também são monitoradas, mas não sugerem alterações significativas no comportamento da pandemia. São a B.1.1.28, que sofreu mutação e deu origem à P.2, e B.1.1.33 e sua “derivada” N.9, que representam menos de 10% dos sequenciamentos feitos no estado.
No mundo, mais de 1,2 milhão de sequências do genoma do coronavírus de 172 países, inclusive o Brasil, já foram compartilhadas em uma plataforma de dados online popular, segundo artigo publicado na revista Nature.
Os dados têm sido cruciais para os cientistas que estudam as origens do SARS-CoV-2, a epidemiologia dos surtos de COVID-19 e o movimento de variantes virais em todo o planeta.
“Como os países estão enviando dados de tantas partes do mundo, você tem um sistema onde podemos observar como o vírus se espalha pelo mundo e ver se as medidas de controle e as vacinas ainda funcionam”, diz Sebastian Maurer-Stroh, consultor científico da Gisaid, organização sem fins lucrativos que hospeda o repositório.
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