quarta-feira, 28 de abril de 2021

Klabin domina toda a cadeia do papel, do plantio à produção, FSP

 Ernesto Yoshida

SÃO PAULO

Um cliente entra em um supermercado e começa a encher o carrinho: leite, sucos, congelados, farinha, sabão em pó, papel higiênico, guardanapo... A lista é extensa e há produtos de diversas marcas, mas é provável que, mesmo sem saber, alguns itens fabricados pela Klabin sejam levados para casa.

“Quando uma pessoa anda num corredor de supermercado, é impossível dar dois passos sem ver um produto embalado com papel fabricado por nós”, diz Cristiano Teixeira, presidente da Klabin, a maior produtora e exportadora de papéis para embalagens do Brasil.

A força da empresa está justamente na diversidade de sua linha de produtos, que se tornou possível por ser a única do setor no país a produzir simultaneamente três tipos de celulose: a de fibra curta (extraída de eucalipto), a de fibra longa (de pínus) e o fluff (também de pínus).

A celulose de fibra curta confere maciez ao papel e uma boa superfície. É usada, por exemplo, na fabricação de papel higiênico e de folhas de cadernos. Já a celulose de fibra longa proporciona resistência e é utilizada em embalagens de longa vida.

O fluff, por sua alta capacidade de absorção, é usado em fraldas descartáveis e absorventes femininos.

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“Mesmo em nível global, são poucas as empresas com tamanha diversidade”, afirma Teixeira. Isso garante flexibilidade de operação e mais estabilidade à empresa. “Não dependemos de um único produto ou mercado.”

A Klabin exporta para cerca de 90 países. Da receita de R$ 11,9 bilhões em 2020, 41% veio do mercado externo.

O setor de alimentos, um dos menos afetados pela pandemia do coronavírus, foi responsável por 67% das vendas da Klabin em 2020.

A empresa tem se beneficiado também do crescimento do comércio eletrônico desde o início da crise sanitária. Suas vendas diretas de embalagens para o ecommerce no ano passado cresceram 122% em relação ao ano anterior.

A Klabin, certamente, chegou bem mais longe do que os fundadores poderiam imaginar. A empresa surgiu em 1899 como uma oficina tipográfica e importadora de artigos de escritório em São Paulo. A empresa foi criada pelos irmãos Maurício, Salomão e Hessel Klabin junto com o primo Miguel Lafer, imigrantes da Lituânia.

Três anos depois, eles arrendaram uma fábrica no interior paulista para produzir papéis. Em 1914, quando o mundo mergulhava na Primeira Guerra, a Klabin inaugurou sua linha de produção própria, no bairro paulistano de Santana. Dez anos depois, já estava entre as maiores fabricantes de papéis do país.

Hoje são 23 unidades fabris distribuídas em 10 estados no Brasil e uma na Argentina.

Não foi um crescimento sem dificuldades. A empresa enfrentou uma de suas piores crises em 1963, quando um incêndio consumiu 70% de sua reserva florestal na Fazenda Monte Alegre, no município de Telêmaco Borba (PR).

Esse incêndio, um dos maiores já registrados, se espalhou por 128 municípios paranaenses num período de forte estiagem. “Perdemos mais de 36 mil hectares no incêndio, o que poderia ter sido fatal para a companhia”, diz Teixeira.

Por ser um tema novo na época, não havia brigada de incêndio nem equipamentos adequados. Depois da tragédia, os protocolos foram aprimorados não somente na Klabin, mas em todo o setor.

A empresa mantém 564 mil hectares de florestas, o correspondente a 3.570 parques do Ibirapuera. Metade da área é preservada como mata nativa e a outra, cultivada com eucalipto e pínus. A reserva é crucial para o modelo de negócio.

A Klabin atua em toda a cadeia de papel e celulose: planta sua própria árvore, colhe a madeira, gera energia elétrica, extrai a fibra para fazer celulose, a transforma em papel e produz embalagens de vários tipos, como as caixas de papelão ondulado utilizadas no transporte de produtos.

Para dar sustentação ao seu modelo integrado, a Klabin vem realizando nos últimos anos os maiores investimentos de sua história.

Em 2016, inaugurou em Ortigueira (município paranaense que teve 90% de sua área atingida pelo grande incêndio de 1963) a fábrica de celulose do seu projeto Puma I, um empreendimento de R$ 8,5 bilhões. A unidade tem capacidade anual de produção de 1,5 milhão de toneladas de celulose, praticamente dobrando a capacidade da Klabin.

No ano passado, a Klabin anunciou um novo investimento, o Puma II, no valor de R$ 9,1 bilhões. Serão construídas duas máquinas de papel para embalagens, com produção integrada de celulose, no mesmo complexo onde funciona o Puma I.

A capacidade total das novas máquinas será de 920 mil toneladas anuais de papel. A primeira deve entrar em operação em julho deste ano e a segunda, em maio de 2023.

“Sob qualquer prisma que se analise —seja em valor de mercado, seja em receita ou em geração de caixa—, dobramos de tamanho com o Puma”, afirma Teixeira.

Para continuar sua expansão, um dos desafios da Klabin é melhorar a governança.

A Klabin ainda não faz parte do Novo Mercado, segmento da B3 que reúne as empresas da bolsa com as mais elevadas práticas de governança —o que implica a adoção de um conjunto de regras societárias que ampliam os direitos dos acionistas.

De acordo com Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, a empresa deu no ano passado um passo importante ao resolver a questão do uso da marca Klabin.

Desde 1995, era preciso pagar dezenas de milhões de reais de royalties por ano à Sogemar, sociedade controlada pela família Klabin e detentora da marca centenária.

Esse tipo de transação não é considerado uma boa prática: beneficia acionistas majoritários em prejuízo dos minoritários. A questão foi solucionada com a incorporação da Sogemar pela companhia Klabin, uma operação estimada em R$ 274 milhões.

Para Arbetman, a Klabin não pode parar por aí. “Hoje, não basta fazer o básico. A empresa tem que sempre pensar à frente”, diz o analista. Em termos de práticas ESG (sigla em inglês para ambiente, social e governança), Arbetman considera que a Klabin se encontra na vanguarda em ações ambientais e tem feito avanços na área social, mas ainda precisa melhorar em governança.

Para ele, o número de membros do conselho de administração indicados pela família Klabin ainda é alto e é preciso aumentar a presença de mulheres em cargos de gestão.

Mas a empresa tem nadado de braçada em sustentabilidade. Nos últimos 17 anos, a companhia reduziu em 60% as suas emissões específicas de carbono, tornando seu balanço positivo. Por meio de suas florestas, ela captura mais CO2 da atmosfera do que emite em suas operações industriais.

Outro ponto positivo é que, globalmente, o papel tem conquistado cada vez mais espaço como uma alternativa para substituir o plástico em caixas e embalagens.

Teixeira lembra que o primeiro plástico inventado pelo homem, há mais de um século, ainda não se decompôs na natureza. “A grande oportunidade é ser uma empresa cuja atividade está hoje alinhada ao propósito de sustentabilidade do planeta.”

RAIO-X

Atual líder da empresa
Cristiano Teixeira assumiu a presidência da Klabin em 2017. Formado em Administração de Empresas, está na companhia desde 2011

Contexto histórico
A primeira fábrica de papel no Brasil surgiu com a vinda da família real portuguesa, em 1808. Até o fim daquele século, porém, a produção nacional era insuficiente

Visáo de negócio
A Klabin atua em toda a cadeia de papel e celulose, do plantio até a produção de embalagens

Receita de longevidade
A Klabin soube antecipar as tendências do setor de papel e investiu na diversificação de sua linha de produtos, o que ajuda a protegê-la da volatilidade do mercado


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