Dois meses após ter decretado lockdown devido ao colapso da saúde, Araraquara confirmou nesta quinta-feira (22) apenas 1,5% dos casos suspeitos de Covid-19 na rede pública. Mas, além disso, novos casos caíram 65% desde então e a cidade, que já trabalha num modelo de fechamento por bairros, se for preciso, criou regras para manter o comércio aberto.
A explosão de casos de coronavírus na cidade, em parte devido à circulação da variante brasileira, fez com que hospitais ficassem com 100% de ocupação em leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) entre fevereiro e março, e que fossem transferidos pacientes do município para hospitais a até 389 km de distância. O total de óbitos explodiu.
O lockdown foi decretado em 21 de fevereiro, com restrições mais severas nos sete primeiros dias. Um mês depois, a média móvel diária de novos casos caiu de 189 para 80, ou 58% menos. Nesta semana, a média alcançou 65, o que indica um recuo de 65% em relação ao período pré-fechamento total da cidade.
Nesta quinta-feira, a cidade confirmou 5 casos de Covid entre as 318 amostras analisadas nos serviços públicos de saúde, o equivalente a apenas 1,5% dos testados —houve mais 18 casos na rede particular. Antes do lockdown, os índices da rede pública ficavam em cerca de 50%, segundo a Secretaria da Saúde.
Também caíram o total de pessoas internadas e óbitos, num cenário que fez com que a prefeitura apresentasse uma espécie de “pacto” para a manutenção das atividades econômicas do município.
Para manter os serviços abertos sem recrudescimento foi criado um limite de casos positivos que podem ser registrados: se o índice de diagnosticados com Covid-19 por três dias seguidos atingir 30% dos testes feitos haverá endurecimento das medidas.
Caso isso ocorra, as flexibilizações serão suspensas por sete dias, até que a taxa de casos positivos fique em no máximo 20%, também por três dias seguidos.
E, quando o índice de positividade alcançar 20%, a prefeitura, governada por Edinho Silva (PT), emitirá um sinal de alerta, já com algumas restrições.
A medida é mais uma de um pacote que contempla também a análise da carga viral do esgoto. A cidade foi dividida em 50 regiões e a parte final de cada uma delas é alvo de análise do esgoto —antes de ir para o emissário—, numa parceria com a faculdade de ciências farmacêuticas da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
A análise é semanal e, segundo Edinho, a intenção é fazer o isolamento vertical, se for preciso.
“Criamos um modelo dentro da realidade da cidade. Medindo a carga viral de cada região é possível termos iniciativas para enfrentar a doença naquela região específica. Em vez de parar a cidade toda [caso haja explosão de casos], paramos aquela região com problema. Para só aquele estabelecimento que tem incidência, onde detectou a doença, a indústria, mercado ou shopping, mas não para a economia toda”, disse o prefeito.
Outra medida que passou a ser adotada é a realização aleatória de testes rápidos no comércio e nas indústrias. De 612 feitos na última semana em 83 estabelecimentos, foram encontrados 6 casos positivos, 4 deles no mesmo local, que foi interditado.
Quando 1 caso é encontrado, o paciente é encaminhado para uma unidade de saúde e cumpre o isolamento de 14 dias em sua casa, se não precisar de internação, enquanto o estabelecimento tem de passar por higienização.
No caso de serem descobertos 2 ou mais casos, o local poderá ser interditado total ou parcialmente por uma semana. Ao término da interdição, o imóvel também terá de ser higienizado. Nesta quarta, foram feitos mais 269 testes do tipo, todos com resultados negativos.
Edinho disse que as medidas estão sendo tomadas para que “nunca mais” Araraquara enfrente o cenário vivido em fevereiro.
A ocupação de leitos de UTI na cidade ainda segue elevada, 93%, mas isso se deve atualmente mais à presença de pacientes de outras localidades do que da própria cidade.
O município tinha, na tarde desta quinta, 183 pacientes internados em hospitais, dos quais 80 da cidade e 103 de outros 27 locais. Do total, 85 estavam em UTIs, sendo 47 de outras cidades. Sem eles, a ocupação dos leitos cairia para 41,5%. A cidade com mais pacientes internados em Araraquara é São Carlos, com 30.
Quando decretou o lockdown, chegou a cerca de 250 pacientes internados, dos quais 40 de outras cidades.
Desde o início da pandemia, Araraquara teve 374 mortes, uma delas registrada nesta quinta-feira, de um homem de 69 anos, com comorbidades, que estava internado num hospital particular desde o dia 11.
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