quinta-feira, 22 de abril de 2021

Hélio Schwartsman Na Cúpula do Clima, Bolsonaro fraqueja de novo, FSP

 Longe de mim duvidar da virilidade do presidente Jair Bolsonaro, mas estou achando que não foi só ao fazer a filha que ele “deu uma fraquejada” (são palavras dele, não minhas).

Seu discurso na Cúpula do Clima também me pareceu emasculado, já que o presidente deixou de frisar que temos soberania plena sobre a porção da floresta que está em nosso território, não denunciou a sórdida campanha contra o Brasil movida por potências estrangeiras de olho em nossas riquezas nem chamou de feia a mulher de nenhum chefe de Estado. Basicamente, Bolsonaro pôs o rabo entre as pernas.
Ironias à parte, para os que nunca confiaram na palavra do presidente, o discurso adamado não traz muita surpresa. A única coisa consistente na carreira de Bolsonaro, do baixo oficialato à Presidência, são as tentativas de eximir-se de culpa sempre que a situação aperta. Mas, para os eleitores que lhe louvavam a autenticidade, o súbito abandono da valentia pode soar como mais uma traição.

Depois de ter se aliado aos “bandidos do centrão”, abandonado o combate à corrupção e esquecido o liberalismo econômico, Bolsonaro agora desiste de defender a Amazônia da cobiça de estrangeiros.
Talvez a culpa seja do “ghost writer”, mas há um elemento novo na forma como o presidente mentiu ao mundo nesta semana. Bolsonaro destacou os êxitos do Brasil no campo da preservação ambiental, tratando-os como se fossem seus, e cuidou de esconder os retrocessos verificados em sua administração.

O detalhe é que os sucessos no combate ao desmatamento ocorreram majoritariamente sob gestões petistas, o que colocou Bolsonaro na incômoda posição de ter de louvar realizações de seus arqui-inimigos e precisar omitir as suas.

Discursos de presidentes em reuniões de cúpula dificilmente revelam algo de interessante; o de Bolsonaro, porém, de modo até certo ponto inesperado, acaba escancarando que ele nunca passou de uma farsa.


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