O Cinerama Dome e o Egyptian Theater podem virar pó, conta a repórter Fernanda Ezabella na Ilustrada. São dois célebres cinemas de Los Angeles, representantes de uma época em que a exibição era tão importante para a indústria de Hollywood que determinava a produção. Os maravilhosos filmes B em série da Universal só foram possíveis porque o estúdio era dono de mais salas, enquanto a MGM, com menos, investia no luxo e na fabricação de estrelas.
O verdadeiro cinéfilo sempre preferiu a soidão das sessões da tarde. Ali, no escurinho, era o melhor lugar do mundo para viver durante duas horas —sem o aditivo da pipoca. Depois de iniciada a projeção, podia estourar uma bomba que ele não se mexia na poltrona.
Quando Fellini morreu, em 1993, levou a certeza de que a televisão jamais mataria o cinema. Para ver um programa de TV, bastava ligar um botão. Para ir ao cinema, havia um ritual: vestir o paletó, pegar o guarda-chuva, tomar a condução, entrar na fila e comprar o ingresso. E, quando as luzes se apagavam, mergulhar numa atmosfera de fantasmas. "Ir ao cinema é a lembrança de que estou vivo", dizia o cineasta.
As salas estão morrendo antes do cinema. O Brasil —paraíso dos cassinos clandestinos— se apressou a sumir com elas a partir da década de 80, dando lugar a igrejas evangélicas. Aquelas que sobraram se sustentam com a venda de balas.
A pandemia completa o serviço em escala mundial. Nos Estados Unidos, os cinemas abertos têm restrições de ocupação, como em quase todos os países —e lá fora não morre tanta gente como aqui. Na Coreia do Sul, as telas, em vez de filmes, exibem games de batalha para três garotos com grana para alugar o espaço e ficar surdos com o som dos tiros.
Sofrendo de abstinência, os cinéfilos vestem o paletó, penduram o guarda-chuva no braço e ligam o smartphone. Na sessão de hoje: "Amarcord", de Fellini.
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