21 de abril de 2021 | 04h00
Os indicadores de atividade econômica dos Estados Unidos vêm surpreendendo de tal maneira os analistas ao longo de abril que há até quem passou a especular que o PIB americano em 2021 poderá crescer mais do que o da China e retomar o posto de motor da economia mundial.
Na semana passada, por exemplo, as vendas no varejo nos EUA deram um salto de 9,8% em março ante fevereiro. Para se ter uma ideia da magnitude desse desempenho, o resultado superou o consenso das estimativas dos analistas para esse indicador em impressionantes 3,7 pontos porcentuais.
A força das vendas no varejo foi reflexo, em especial, do pacote fiscal de US$ 1,9 trilhão aprovado pelo Congresso, incluindo cheques de US$ 1.400 para os cidadãos, enviados a partir de meados do mês passado, o que gerou uma renda disponível de US$ 300 bilhões apenas em março.
Outro resultado que chamou a atenção foi a redução no número de pedidos de auxílio-desemprego nos EUA na semana encerrada em 10 de abril. Essas solicitações caíram em 193 mil, para 576 mil, enquanto os analistas esperavam que o total somasse 710 mil. Foi a semana com o menor número de pedidos de auxílio-desemprego desde o início da pandemia de covid-19.
Além da injeção fiscal, a retomada mais forte da economia americana vem sendo impulsionada por outros dois fatores: o acelerado avanço da vacinação contra o coronavírus, permitindo o relaxamento das medidas de restrição de mobilidade, e o estímulo monetário do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que prometeu manter os juros básicos próximos de zero até 2023.
E o presidente Joe Biden está negociando com o Congresso a aprovação de um pacote de investimentos em infraestrutura de US$ 2 trilhões ao longo dos próximos oito anos. Assim, o mercado tem razão de sobra para ficar otimista com o crescimento dos EUA.
Em dezembro do ano passado, o consenso das projeções dos economistas ouvidos pelo The Wall Street Journal apontava um crescimento de 3,7% em 2021. No mais recente levantamento, de 11 de abril, esse consenso era de uma expansão do PIB de 6,4% neste ano.
Na ponta mais otimista está o banco Morgan Stanley, que prevê uma alta de 8,1% do PIB americano neste ano. É bom lembrar que o governo da China tem como meta em 2021 um crescimento da sua economia acima de 6%.
O contraste não poderia ser maior com o Brasil. Na última pesquisa Focus de 2020, a mediana das estimativas para o PIB brasileiro apontava um crescimento de 3,49% para 2021. Na pesquisa mais recente, o consenso era de expansão de 3,04%.
Essa revisão para baixo é resultado de uma conjuntura extremamente negativa: a disparada nas mortes e nos casos de covid no País, a piora do sentimento dos investidores em relação à trajetória fiscal brasileira e, para agravar a situação, o cenário político mais turbulento.
Sem falar na lenta vacinação contra o vírus. Enquanto mais de 210 milhões de doses da vacina já foram aplicadas nos EUA, apenas cerca de 27 milhões de pessoas receberam a primeira dose no Brasil.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que a economia americana vai retomar seu nível pré-pandemia neste ano. O FMI projeta crescimento de 6,4% do PIB dos EUA em 2021.
Já o Fed revisou, em março, a sua estimativa de crescimento para a economia americana neste ano, passando de um avanço de 4,2% (projetado em dezembro passado) para expansão de 6,5%. Com isso, o Fed prevê que a taxa de desemprego vai cair para apenas 4,5% no fim do ano.
Em março, foram criados 916 mil postos de trabalho nos EUA, enquanto a previsão dos analistas era de uma geração de 650 mil vagas. E a expectativa agora é de que o ritmo de criação de empregos supere o patamar de 1 milhão ao mês.
O fato de os EUA retomarem a liderança do crescimento global é bastante positivo, pois, sendo a maior economia do planeta, a sua expansão mais acelerada reverbera de forma mais disseminada em outras regiões do mundo.
Com a retomada vigorosa, muitos analistas dizem que a pandemia de covid acabou tendo impacto nos EUA mais semelhante ao de um desastre natural do que ao de uma recessão tradicional nos ciclos econômicos.
*É COLUNISTA DO BROADCAST
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