sábado, 2 de fevereiro de 2019
sobre aposentadoria dos militares no valor
O candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, afirmou que
pretende iniciar a reforma dos regimes previdenciários lutando contra o que
considera privilégios dos servidores públicos. Mas parece que eles só se
referia aos civis. Para os militares, o candidato informou, em entrevista ao
SBT na noite de terça-feira, que pode propor "alguma mudança", lembrando
que eles não poderiam ser igualados a quem tem direitos trabalhistas
diferentes, como FGTS, hora extra, direito a greve e repouso remunerado.
Os números sugerem uma leitura diferente daquela feita pelo candidato do
PSL, que é capitão reformado do Exército. Basta ler a mensagem do
presidente Michel Temer ao Congresso Nacional que acompanha a proposta
orçamentária para 2019. Lá está dito que o déficit nominal com os militares
inativos e os seus pensionistas está crescendo, em termos nominais,
enquanto o "buraco" do regime próprio dos servidores civis da União (RPPS)
projetado para o próximo ano está caindo, na comparação com o previsto
para 2018.
O déficit com militares inativos e seus pensionistas em 2019 está projetado
em R$ 43,3 bilhões, contra R$ 42,6 bilhões previstos para este ano. No caso
do RPPS, o "rombo" passará de R$ 45,4 bilhões neste ano para R$ 44,3
bilhões em 2019. Um é quase igual ao outro, embora o número de servidores
civis aposentados e seus pensionistas seja bem superior ao de militares
inativos e seus pensionistas.
Em 2016, último dado disponível, havia
683.560 aposentados e pensionistas do
RPPS e 378.870 militares inativos e
pensionistas. A receita obtida com as
contribuições dos civis ativos foi de R$
30,69 bilhões, enquanto que as contribuições dos militares para as suas
pensões ficaram em R$ 2,93 bilhões.
Por Ribamar Oliveira
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Ribamar Oliveira formou-se em jornalismo
pela Universidade de Brasília (UnB).
Já trabalhou nos principais jornais e revistas
do país. Foi chefe de redação da sucursal de
"O Globo" em Brasília, repórter do "Jornal do
Brasil" e coordenador de economia, repórter
especial e colunista do jornal "O Estado de S.
Paulo". Trabalhou nas revistas "Veja" e "Isto
é".
Foi assessor de imprensa do Ministério do
Planejamento em 1994, ano de lançamento do
Plano Real, e assessor de imprensa do Banco
Central.
Ganhou vários prêmios, entre eles o Prêmio
Esso de Economia pela reportagem “O
escândalo dos precatórios”. É coautor do livro
“A Era FHC, um balanço”.
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02/02/2019 Rombo da Previdência dos militares cresce | Valor Econômico
https://www.valor.com.br/brasil/5933623/rombo-da-previdencia-dos-militares-cresce 2/4
A mensagem de Temer separa os gastos com pensões militares e com a
inatividade remunerada (reserva e reforma). Haveria uma razão legal para
isso, de acordo com parecer da Consultoria-Geral da União da Advocacia
Geral da União (CGU/AGU): a Constituição não prevê um plano de benefício
de aposentadoria para os militares nem de custeio. A legislação exige apenas
a contribuição para o pagamento de pensões.
O entendimento que predomina nas Forças Armadas é que o militar não se
aposenta. Ele ingressa na reserva, mantendo vínculo com a profissão militar,
podendo ser mobilizado a qualquer momento. Depois de certa idade, ele é
reformado. Ele contribui para a pensão com 7,5% (podendo chegar a 9%, em
alguns casos) sobre a remuneração bruta, mesmo na inatividade. Ainda há o
desconto obrigatório de 3,5% para o custeio do sistema de saúde e de
assistência social.
A realidade dos números, no entanto, é preocupante. As despesas com
pensões militares para este ano estão previstas em R$ 21,3 bilhões, enquanto
as receitas com as contribuições deverão ficar em R$ 3,25 bilhões, de acordo
com a mensagem de Temer. O déficit com pensões é de R$ 18 bilhões. Para
2019, as despesas subirão para R$ 21,72 bilhões e as receitas ficarão em R$
3,32 bilhões. O "rombo" aumentará para R$ 18,4 bilhões. Os gastos com
militares inativos (reserva e reforma) passará de R$ 24,578 bilhões neste ano
para R$ 24,898 bilhões em 2019.
No primeiro semestre de 2017, o Tribunal de Contas da União (TCU) realizou
uma auditoria para levantar informações destinadas a qualificar o debate
acerca do financiamento da Previdência. Na época, o governo Temer estava
empenhado em fazer uma reforma dos regimes previdenciários.
A auditoria do TCU considerou 2016 como ano-base. Naquele ano, as Forças
Armadas tinham 369.690 militares na ativa e 154.144 inativos, além de
188.924 pensionistas. Nos três comandos (Exército, Marinha e Aeronáutica),
portanto, o número de pessoas que recebiam benefícios previdenciários
somava 343.068 (excluídos 35.802 pensões especiais e benefícios a
anistiados militares).
Com relação à idade, os dados coletados pelo TCU indicavam que a passagem
para a inatividade ocorria, em média, por volta dos 50 anos. Mas 94,1% dos
militares iam para a inatividade com menos de 54 anos. Na folha de
pagamento de outubro de 2016, segundo o relatório do TCU, as pensões para
filhas de militares maiores (de 21 anos) representavam 59% desses benefícios
e consumiram 46% dos recursos dispendidos com pensões (exceto pensões
especiais).
O TCU informou que, em 2016, a despesa média anual com cada beneficiário
militar inativo ou pensionista foi de R$ 97,6 mil. Com cada aposentado ou
pensionista do Regime Geral de Previdência Social - o famoso INSS - o gasto
foi de R$ 17,4 mil, enquanto com cada aposentado ou pensionista do RPPS
foi de R$ 101,8 mil. No Brasil, o militar passa à inatividade com a
remuneração integral do posto que ocupava e tem paridade com os da ativa.
O déficit do RPPS está caindo em decorrência das várias reformas realizadas
neste regime previdenciário, desde 1998, com a emenda constitucional 20.
Depois, foram aprovadas as emendas constitucionais 41 e 47. E, em abril de
2012, a Lei 12.618 instituiu o regime de previdência complementar para os
servidores. Com o advento das entidades fechadas de previdência, os
servidores que ingressaram no serviço público a partir de 31 de janeiro de
2013 terão teto de aposentadoria igual ao dos beneficiários do INSS.
Em todo esse tempo, os militares sofreram apenas uma mudança. Em 2001,
o art. 31 da MP 2.215-10 facultou a eles contribuir com um valor adicional de
1,5% para que suas filhas (nascidas a qualquer tempo) mantivessem o direito
à pensão independentemente de idade, na hipótese de não haver viúva ou
companheira, se assim optassem até 29/12/2000.
O relatório do TCU informa que em 2013, o Reino Unido fez uma reforma do
sistema previdenciário para os militares. Em 2015, foi a vez de os Estados
Unidos fazerem o mesmo. Com as mudanças, exceto em caso de morte em
serviço ou aposentadoria por invalidez, os benefícios previdenciários pagos
pelos governos dos EUA e do Reino Unido não são integrais como no Brasil,
"havendo naqueles países significativa redução dos valores pagos aos inativos
em relação àqueles da ativa".
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Veja as tabelas completas no ValorData
Fontes: IBGE, FGV e BC. Elaboração Valor Data. *
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Por Ribamar Oliveira O candidato do PSL à
Presidência da República, Jair Bolsonaro,
afirmou que pretende iniciar a reforma dos
regimes previdenciários lutando contra o
que considera privilégios dos servidores
públicos. Mas parece que eles só se referia
aos civis. Para os militares, o candidato
informou, em entrevista ao SBT na noite de
terça-feira,...
02/02/2019 Rombo da Previdência dos militares cresce | Valor Econômico
https://www.valor.com.br/brasil/5933623/rombo-da-previdencia-dos-militares-cresce 3/4
De acordo com o relatório do TCU, outro ponto importante é que, nos
sistemas estadunidense e britânico, "a política de benefícios pagos aos
familiares do militar em caso de falecimento deste é de redução significativa
do valor do benefício original, além de haver severas restrições à elegibilidade
dos beneficiários". Talvez sejam exemplos a ser seguidos.
Ribamar Oliveira é repórter especial e escreve às quintas-feiras
E-mail: ribamar.oliveira@valor.com.br
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