Ford vai fechar fábrica de São Bernardo do Campo neste ano
Unidade fabrica caminhões e o compacto Fiesta
Eduardo Sodré
SÃO PAULO
A Ford anunciou que irá fechar a fábrica de São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), que hoje produz caminhões e o Ford Fiesta. A produção será encerrada neste ano.
De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a unidade emprega 2.800 trabalhadores diretos, além de terceirizados não quantificados.
A Prefeitura de São Bernardo do Campo calcula que 2.000 famílias são afetadas indiretamente pela decisão.
A unidade de São Bernardo será a primeira grande fábrica a encerrar a produção naquele que, por décadas, foi o principal polo de montagem e desenvolvimento de veículos no Brasil.
A medida faz parte do plano de reestruturação global da marca, que acaba de estabelecer uma parceria com a Volkswagen para fabricação de veículos utilitários.
Segundo representantes da montadora, o fechamento da planta de São Bernardo não afeta a produção em Camaçari (BA), onde são feitos os modelos Ka e EcoSport, e em Taubaté (interior de São Paulo), que fabrica motores.
Em comunicado, a montadora afirma que vai deixar o mercado de caminhões na América do Sul. A Ford prevê um impacto de aproximadamente US$ 460 milhões (R$ 1,71 bilhão) em despesas não recorrentes como consequência dessa ação.
As vendas dos modelos produzidos em São Bernardo continuarão até o fim dos estoques.
Em nota, o presidente da Ford América do Sul, Lyle Watters, afirma que a empresa "está comprometida com a América do Sul por meio da construção de um negócio rentável e sustentável, fortalecendo a oferta de produtos, criando experiências positivas para nossos consumidores e atuando com um modelo de negócios mais ágil, compacto e eficiente”.
“Sabemos que essa decisão terá um impacto significativo sobre os nossos funcionários de São Bernardo do Campo e, por isso, trabalharemos com todos os nossos parceiros nos próximos passos”, disse Watters.
O executivo afirma também que a empresa manterá planos de garantia, peças e assistência técnica para os veículos que estão saindo de linha.
Segundo a montadora, manter a fábrica em funcionamento exigiria investimentos para se adequar "às necessidades do mercado e aos crescentes custos com itens regulatórios sem, no entanto, apresentar um caminho viável para um negócio lucrativo e sustentável".
Pouco antes do anúncio, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC havia convocado os trabalhadores da Ford para uma plenária nesta quinta-feira (21). De acordo com o comunicado, a reunião seria para definir cobranças de melhorias na unidade de São Bernardo.
Em um vídeo, o presidente do sindicato, Wagner Santana, o Wagnão, disse que a notícia do fechamento da fábrica foi recebida com indignação e revolta, mas que a entidade já vinha se preparando para isso.
"Em janeiro, fizemos assembleia na portaria da fábrica, decretamos estado de luta e pedimos uma reunião para que a Ford deixasse clara sua real intenção com essa planta", afirmou.
Wagnão disse que a decisão da Ford não considera os trabalhadores diretos e indiretos que serão "atingidos por uma empresa que quer visar o lucro somente".
"Nós não desistimos de que essa planta se mantenha na região. Nós não aceitamos esse anúncio e vamos fazer a luta necessária para reverter essa decisão", completou.
O sindicato orientou os trabalhadores da fábrica da Ford em São Bernardo a permanecerem em casa e determinou uma paralisação até a próxima terça-feira (26).
O encerramento da produção do Ford Fiesta hatch já era esperado. O carro é vendido somente com motor 1.6 flex e custa a partir de R$ 52.7 mil.
A grande surpresa é o encerramento da produção de caminhões. O primeiro veículo pesado nacional da montadora foi lançado em 1957.
O prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB), considerou a decisão um "desrespeito profundo com a cidade" e disse que a administração foi pega de surpresa.
"Não tinha nenhum indicativo, nenhum indício de que isso poderia acontecer", afirmou. "Estive ao longo desses anos por três vezes com a Ford. Fizemos alteração viária no entorno da fábrica que eles solicitaram, levei para eles a lei que aprovamos de que, a partir de 100 novos empregos gerados, passariam a ter desconto do IPTU."
Morando afirma acreditar ser possível reverter a decisão. "Vou usar todos os instrumentos e ferramentas." Ele diz que entrou com contato com o gabinete do presidente Jair Bolsonaro e aguarda um retorno. "Deixei recado com o governador de São Paulo, João Doria [PSDB], que vai me retornar ainda hoje, mas já sinalizou que está disposto a ajudar."
Procurado, o governo paulista ainda não se manifestou.
"Acho que é possível reverter a decisão se nos derem margem para o diálogo. A Ford, do jeito que se posicionou, não parece querer o diálogo. Não acho que a cidade pode ser apenas comunicada. A questão é tributária? Qual o incentivo, a necessidade [da montadora]? É uma empresa que já teve benefício fiscal dos governos federal e estadual, nunca a iniciativa pública se negou a falar com eles. Não pode ser pela porta dos fundos que vão sair da cidade", disse Morando.
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