Rogério Pagnan
SÃO PAULO
O chefe máximo do PCC, Marco Camacho, o Marcola, foi transferido na manhã desta quarta (13) para um presídio federal. O destino ainda não foi revelado, mas calcula-se que seja Brasília.
Além dele, também foram transferidos em forte esquema de segurançaoutros 21 membros da facção, grande parte também integrante da cúpula. O irmão de Marcola está entre os transferidos.
Em 2006, a transferência de presos do PCC para o presídio de segurança máxima de Presidente Venceslau (a 611 km de SP) levou à maior onda de violência no estado como ataques às forças de segurança, que deixou um saldo de 564 mortos, dos quais 505 eram civis [leia mais abaixo].
Os presos foram transportados em um avião das Forças Armadas a partir do aeroporto da vizinha Presidente Prudente para a transferência. Alguns deles serão transferidos para os presídios federais de Porto Velho (RO) e Mossoró (RN). Em razão disso, o governo federal autorizou a presença das Forças Armadas para fazer a segurança no entorno dos dois presídios. A Garantia da Lei e da Ordem (GLO) decretada pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) nesta quarta permite a proteção nos locais até o dia 27.
Sete desses presos tiveram a transferência definida no ano passado por causa de envolvimento em crimes investigados na operação Echelon, entre eles ordem para ataques a agentes públicos e assassinatos de rivais.
Já Marcola está sendo transferido por conta da descoberta em 2018 de um plano de fuga que utilizaria até um exército de mercenários para o resgate dele e de parte da cúpula da facção. A Justiça de São Paulo ficou ainda mais pressionada a determinar a transferência depois que, no final do ano, duas mulheres foram presas com suposta carta com ordem do chefão do PCC para matar o promotor Lincoln Gakiya, responsável pelo pedido de transferência, e que investiga há anos o crime organizado.
Integrantes do Ministério Público disseram à Folha que aguardavam a transferência de Marcola em breve, mas acreditavam que isso só deveria ocorrer depois que o presidente da República, Jair Bolsonaro(PSL), deixasse o hospital na capital paulista. A alta do presidente também ocorreu na manhã desta quarta.
Em dezembro, cartas interceptadas na saída do presídio mostraram que Marcola pedia a morte de um promotor caso fosse transferido.
A transferência de Marcola provocou um racha nos últimos meses do governo Márcio França (PSB) entre integrantes da cúpula que defendiam a transferência de Marcola e outros que temiam represália por parte dos criminosos se essa transferência fosse concretizada, a exemplo do que ocorreu em maio de 2006, quando forças de segurança foram atacadas em represália à transferência de 765 presos para Presidente Venceslau.
Mais de 300 ataques da facção a prédios públicos na época deixaram 59 agentes de segurança mortos em cinco dias. O saldo de mortes aumentaria nos dez dias que se seguiram, quando grupos de homens encapuzados saíram às ruas para vingar as mortes de policiais. Foram 505 civis mortos.
O principal a defender a permanência de Marcola e outros integrantes do PCC em São Paulo era o então secretário Mágino Alves Barbosa Filho, sob argumento de ter informações seguras de que esses ataques ocorreriam. Já o então secretário da Administração Penitenciária, Lourival Gomes, e membros do Ministério Público, refutavam a descoberta de planos de ataques por parte dos criminosos e defendiam a transferência imediata.
Ao mesmo tempo que ocorre a transferência, a Polícia Militar realiza em todo o estado uma operação com 21.934 policiais, com 8.104 viaturas, 13 helicópteros em 3.362 pontos. Segundo a Secretaria da Segurança, "as equipes estão em locais estratégicos, apontados pelo serviço de inteligência da PM, para sufocar possíveis ações de criminosos".
Essa é a segunda vez que Marcola é transferido de estado. Na primeira, em fevereiro de 2001, ele foi enviado para o Rio Grande do Sul e Brasília, onde ficou por mais de um ano. Como ambos eram presídios estaduais e sem estrutura adequada de isolamento, e a movimentação acabou contribuindo para a expansão do PCC para outras unidades da federação.
Atualmente, segundo investigação da polícia e Promotoria, a facção que surgiu de um time de futebol composto por oito presidiários, tem representantes em todo o país e boa parte da América Latina, com mais de 20 mil membros cadastrados e obedientes a Marcola.
Atualmente, segundo investigação da polícia e Promotoria, a facção que surgiu de um time de futebol composto por oito presidiários, tem representantes em todo o país e boa parte da América Latina, com mais de 20 mil membros cadastrados e obedientes a Marcola.
OS 22 TRANSFERIDOS
- Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola
- Lourinaldo Gomes Flor, o Lori
- Pedro Luís da Silva, o Chacal
- Alessandro Garcia de Jesus Rosa, o Pulft
- Fernando Gonçalves dos Santos, o Colorido
- Patric Velinton Salomão, o Forjado
- Lucival de Jesus Feitosa, o Val do Bristol
- Cláudio Barbará da Silva, o Barbará
- Reginaldo do Nascimento, o Jatobá
- Almir Rodrigues Ferreira, o Nenê de Simone
- Rogério Araújo Taschini, o Taschini, ou Rogerinho
- Daniel Vinicius Canônico, o Cego
- Márcio Luciano Neve Soares, o Pezão
- Alexandre Cardozo da Silva, o Bradok
- Júlio Cesar Guedes de Moraes, o Julinho Carambola
- Luís Eduardo Marcondes Machado de Barros, o Du da Bela Vista
- Célio Marcelo da Silva, o Bin Laden
- Cristiano Dias Gangi, o Crisão
- José de Arimatéia Pereira Faria de Carvalho, o Pequeno
- Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, o Marcolinha (irmão de Marcola)
- Reinaldo Teixeira dos Santos, o Funchal
- Antônio José Muller Júnior, o Granada
TÓPICOSRELACIONADOS
Nenhum comentário:
Postar um comentário