sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Sem reforma, país mergulhará em recessão no 2º semestre de 2020, diz governo, FSP


Mariana Carneiro
BRASÍLIA
Projeções feitas pela SPE (Secretaria de Política Econômica), do Ministério da Economia, indicam que o país pode mergulhar em nova recessão, na segunda metade do ano que vem, caso não seja aprovada a reforma da Previdência. 
No estudo, divulgado nesta sexta-feira (22), os técnicos apontam para os riscos de o país entrar em uma nova espiral de deterioração das contas públicas, o que resultaria no aumento da taxa de juros e, por consequência, no derretimento do crescimento econômico. 
"No cenário sem reforma da previdência, o crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] em 2019 seria inferior a 1% e o Brasil já entraria em recessão a partir do segundo semestre de 2020, caminhando para perdas comparáveis às ocorridas no período 2014 a 2016", afirma a nota da SPE, referindo-se ao período em que a economia encolheu cerca de 7%.
Em números, neste ano, a economia cresceria 0,8%, número bastante inferior à previsão atual dos analistas, de 2,5%. No ano que vem, ficaria em 0,3%, já embicando para o terreno negativo, onde permaneceria até 2023. Ou seja, três anos no vermelho.
Já com a reforma, diz a nota, a economia poderia crescer 2,9% neste ano e no ano que vem, acelerando para 3,3% em 2023. 
 
A queda do PIB deixa todos os brasileiros mais pobres. Como aconteceu na recessão de 2014-2016, a riqueza per capita encolheria.
A SPE calculou que, na ausência da reforma da Previdência, cada brasileiro receberia, em média R$ 2,5 mil a menos por ano até 2023. 
As projeções se baseiam no diagnóstico de que o descontrole das contas públicas é a raiz da crise econômica. 
A proposta de reforma da Previdência apresentada nesta semana busca economizar cerca de R$ 1,1 trilhão nas despesas do governo com aposentadorias e pensões na próxima década.
Sem a aprovação, o governo gastará mais e ficará mais endividado. Segundo a nota, isso se refletirá em taxas de juros mais altas, que os investidores cobrarão para emprestar ao governo. 
Juros elevados, por sua vez, amarram o crescimento econômico, podam o consumo e os investimentos.
A nota da SPE aponta o risco de a taxa básica de juros (Selic) escalar dos atuais 6,5% ao ano para 18,5% ao ano em um cenário sem reforma. 
Do outro lado, caso as mudanças no sistema de previdência sejam aprovadas a Selic poderia até cair para algo em torno de 5,6% ao ano em 2023.
Com o retorno do crescimento mais acelerado, seria possível gerar 1,33 milhões de empregos por ano, calcula a SPE.
Dessa forma, seriam gerados ate 2023 quase 8 milhões de vagas a mais em comparação ao cenário sem realização da reforma.
No cenário negativo, a taxa de desemprego poderia escalar dos atuais 12,3% para 15,1%. 
Segundo o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, o estudo mostra que o cenário negativo de 2015-2016 pode voltar a acontecer, caso se opte por deixar a Previdência como está.
"O objetivo é tentar mostrar à sociedade os custos de não aprovar a reforma da Previdência", disse.
Em sua avaliação, a reforma é justa porque gera crescimento econômico e empregos. 
"Quando o desemprego cresce, ele atinge de forma mais rápida as camadas mais pobres da população. Por isso, ao recuperar o crescimento, ela é favorável aos pobres".
O secretário reconheceu, contudo, que mesmo no cenário com reforma, o crescimento é baixo (3,3% em 2023) em relação ao potencial de expansão da economia após a recessão. 
Economistas como Marcos Lisboa e Delfim Netto já opinaram que as mudanças na Previdência são relevantes mas não bastam para acelerar o crescimento.
A atividade lenta neste início de ano já fez alguns analistas reduzirem suas projeções de crescimento.
"É algo que está preocupando todos nós, a economia deveria estar crescendo mais do que está. E o primeiro passo para que isso aconteça, a condição necessária, é a reforma da Previdência", disse.

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