A beleza e o caos
Museu Nacional entrará na lista de tudo que vem desmoronando há tempos no Rio
Anotem o que vou dizer. Passada a comoção, o festival de acusações, o empurra-empurra de quem é culpado, o Museu Nacional vai cair no esquecimento e entrar na lista de tudo que vem desmoronando há tempos no Rio —e no Brasil. Com sorte, alguma coisa será feita, mas recuperar história queimada é gambiarra. O museu ao menos resistiu 200 anos, hoje o que se constrói pode não durar nem três meses.
Alguém se lembra da “ciclovia mais bonita do mundo”? Nesta quarta (5), passei por ela de carro, porque segue interditada desde que parte de sua estrutura desabou e matou duas pessoas, em abril de 2016. Nenhum dos indiciados está preso, pelo contrário, um deles virou presidente da RioUrbe, responsável entre outras coisas por realizar obras de creches e postos de saúde. O prefeito na época, Eduardo Paes, é candidato ao governo do estado. Custou R$ 44 milhões.
Outro monumento ao descaso é o Canecão, patrimônio cultural, a casa de espetáculos mais badalada da cidade durante mais de 40 anos. Coincidência ou não, também administrado pela UFRJ, foi fechado em 2010 depois de uma disputa judicial e segue apodrecendo. Não ter pegado fogo pelas condições em que se encontra é apenas sorte. A estimativa é que precise de R$ 50 milhões para voltar a funcionar.
Não se discute o que é mais ou menos importante, até porque a lista de esqueletos tem obras que nem ficaram prontas como o Museu da Imagem e do Som, do Rio. Mas esses são casos emblemáticos e mostram a indiferença com a história, com o dinheiro público, com vidas. Nos acostumamos a conviver com a beleza e o caos.
As ruínas se tornam parte da paisagem, assim como a pobreza, a sujeira, a violência. Aprendemos a desviar dos miseráveis, a ignorar a podridão das praias, a aceitar chacinas. Quem vai se importar com um museu quando o fogo da indignação apagar?
Espero estar errada.
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