Colunista relata experiência de ter se ausentado de ato contra Bolsonaro neste sábado (29)
Contrariando as leis da física, passei pela experiência única de estar em dois lugares ao mesmo tempo neste memorável 29 de setembro de 2018.
Não, eu não fui à manifestação do #EleNão. Confesso, e o faço publicamente, talvez com o intuito de ser execrada. Sinto-me execrável mesmo. Informo em minha defesa que não fui por um motivo nobre, que não será revelado aqui. Nobreza que tampouco me traz alívio. Um compromisso assumido anteriormente, que valeu a pena, obrigou-me a escolher.
Ainda assim, posso provar que fui.
[ x ]
Faz semanas que só falo e penso nos eventos que se avizinham: manifestações e eleições. Nas palestras que tenho dado, não consigo pensar em outros exemplos senão os que falam do fascismo, da formação da personalidade autoritária, de desigualdade social, de misoginia.
Estou terrivelmente repetitiva. Sou o samba de uma nota só: #EleNão, #EleNão e segue com o mesmo refrão.
Chegado o dia de tão esperado evento e, longe de São Paulo, passei a receber de minhas filhas, ininterruptamente, fotos, vídeos e considerações sobre a manifestação. Fiquei emocionada.
Estranha inversão. Agora eram elas que levantavam a bandeira feminista, democrática e antirracista. Não preciso mais levá-las pelas mãos, preocupada em explicar o que acontece. Foram elas que me levaram, com seu entusiasmo, a dividir esse momento com todos os brasileiros que torcem pela democracia.
Somos muitos, amamos este país, queremos o melhor, mas precisamos pensar nas formas que se propõem a levar todos os brasileiros —e imigrantes— em consideração.
Em momentos como esses, em que a esperança fraqueja, cabe lembrar que não estamos sozinhos. Essa manifestação, na qual, obviamente, os partidos não se furtavam a fazer sua propaganda eleitoral, o clima de solidariedade foi o tom.
Obrigada, minhas filhas, por me levarem à manifestação com vocês. E a todos que estando lá e as fizeram perceber que “a solidariedade é a coisa mais emocionante entre humanos (sic)”.
Vera Iaconelli é colunista da Folha
e especialista em maternidade
e especialista em maternidade
Nenhum comentário:
Postar um comentário