quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Expedição encontra últimas árvores gigantes da mata atlântica; veja fotos, FSP

Em 21 de setembro comemora-se o Dia da Árvore; mais de 2.000 espécies no Brasil estão ameaçadas

Trecho da mata atlântica no Parque Nacional Pau Brasil, na Bahia
Trecho da mata atlântica no Parque Nacional Pau Brasil, na Bahia Folhapress
    SÃO PAULO
    A exuberância das árvores gigantes chama a atenção do botânico Ricardo Cardim desde que ele era criança. “Sempre as achei fascinantes e pensava como é que podiam crescer tanto”, conta. “Mas elas foram sumindo. São uma sombra da floresta original. Hoje temos árvores jovens que não tiveram tempo de crescer.”
    Nos últimos três meses, Cardim e o fotógrafo Cássio Vasconcellos viajaram para Santa Catarina, Paraná, São Paulo (litoral e interior do estado), Espírito Santo, Bahia e Alagoas em busca das árvores gigantes remanescentes da mata atlântica
    Para achá-las, a dupla contou com a ajuda de acervos históricos, botânicos com grande experiência de campo, funcionários de parques e reservas e dicas via redes sociais. O botânico Luciano Zandoná esteve em todas as expedições.
    O trabalho colaborativo deu frutos: 90 indivíduos foram fotografados.
    A menina dos olhos do botânico é uma figueira, a maior de que se tem conhecimento na mata atlântica, com mais de 40 m de altura e 21,40 m de circunferência, localizada na reserva Legado das Águas, da Votorantim, no estado de São Paulo. Cardim descreve como surreal encontrá-la a apenas cerca de 90 km da capital paulista, após percorrer 11 km de caminhada dentro da reserva.
    Outro grande achado —literalmente— foi a segunda maior árvore do estado de São Paulo, um jequitibá-rosa com mais de 40 m de altura batizado de Matriarca, por ficar próximo do jequitibá-rosa conhecido como Patriarca. Esse último, em Santa Rita do Passa Quatro (SP), é considerado a árvore mais antiga do Brasil, com idade estimada de 3.000 anos.
    A  descoberta do Matriarca foi feita em conjunto com Waldonésio Nascimento, agente do parque estadual do Vassununga, e Fabrício Cunha, gestor do parque da Fundação Florestal.
    Completa o top 3 a maior árvore conhecida de pau-brasil do país, com cerca de 25 metros de altura. A árvore que deu nome ao país começou a ser explorada com a chegada dos portugueses e chegou a ser considerada extinta. 
    Para Cardim, as árvores remanescentes contam uma história da mata atlântica. “Muita gente hoje acha que a mata é só um fragmento perto da casa de praia”, diz ele.
    No ano passado, Cardim foi o curador da exposição “Remanescentes da Mata Atlântica & Acervo MCB” no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo. A ideia era conectar os móveis antigos com as árvores que deram origem a eles. Fotos antigas da mata contam a história dela e de seu desmatamento.
    A própria localização do museu, às margens da antiga várzea do rio Pinheiros, abrigava formações florestais de matas ciliares em diques úmidos e secos que foram suprimidas e aterradas.
    “Na exposição, muita gente me perguntava se ainda existiam muitas das árvores centenárias retratadas nas imagens. E não se sabia. Faltava preencher essa lacuna.”
    A expedição foi possível graças a quatro patrocinadores: Fibria Celulose, Reservas Votorantim, Viveiros Fábricas de Árvores e Café Orfeu. O retrato das árvores centenárias remanescentes virará um livro, a ser lançado em novembro pela editora Olhares. 

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