Em eleições normais, as candidaturas mais radicais pela esquerda e pela direita se anulam, favorecendo postulantes mais ao centro. A julgar pelas últimas pesquisas, o pleito presidencial da próxima semana não será normal.
Se não houver mudanças de última hora, teremos um segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL), um genuíno representante da extrema direita, e Fernando Haddad, que concorre por um partido mainstream, o PT, mas que chega com um discurso radicalizado, declarando-se vítima de um complô imaginário.
Por que? O que aconteceu que fez com que a disputa deste ano rompesse uma tendência observada nas quatro últimas eleições brasileiras e em centenas de outros pleitos majoritários ao redor do mundo?
Talvez tenhamos sucumbido ao que a literatura psicológica chama de patologias do pensamento de grupo, que ocorrem quando o desejo de uma dada comunidade por harmonia e entendimento deixa de ser avaliado criticamente e degenera em decisões coletivas disfuncionais.
Essas patologias assumem várias formas. Uma é a polarização. Junte um punhado de gente com opiniões semelhantes, deixe-os conversando por um tempo e o grupo sairá com convicções mais parecidas e mais radicais.
Outra manifestação é a animosidade. Se você puser um corintiano e um palmeirense para discutir futebol numa sala, eles discordarão, mas se tratarão com civilidade. Entretanto, se você colocar cem de cada lado, aumentam as chances de que se troquem socos, pontapés e até facadas.
Há, ainda, a conformidade. Grupos tendem a suprimir o dissenso. Censuram dúvidas que membros possam nutrir e ignoram evidências que contrariem seus dogmas. Esse elemento transforma nosso debate eleitoral numa sucessão de monólogos imunes a quaisquer evidências.
É tênue a linha que separa a sabedoria das multidões da alucinação coletiva.
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