Estamos entrando na reta final de uma eleição singular. A gênese dessa singularidade foi a falha da elite política em compreender as jornadas de junho de 2013. Uma oportunidade perdida, pois, se o momento galvanizava uma série de insatisfações acumuladas, também possibilitava um aprimoramento cívico substantivo. Para o establishment político, quase todo perplexo, era um inconveniente a ser superado, e não a se adequar. Pagou-se um preço.
Na ocasião, a esquerda, sob o PT, não soube aproveitar para avançar sua pauta buscando um aggiornamento programático e do campo progressista ao seu redor. Sentia-se confortável com o segmento conservador de sua coalizão. A centro-direita, sob o PSDB, também não o soube. Não entendeu isso à época e abriu a caixa de pandora do impeachment, soltando um predador. Achou que o prenderia novamente. Enganou-se.
O que não se percebeu foi que havia no ar então uma crença democrática na mudança, disputando com o sentimento de desilusão o protagonismo da vida política a se seguir. As redes na ocasião já refletiam e aceleravam a dinâmica das ruas, operando um universo mais complexo do que o captado nas pesquisas. O que ocorre hoje é equiparável a “town meetings” em tempo real, de milhões de microcontribuições, culturais e políticas. O indivíduo no Brasil ressurge pós-2013 como sujeito político ativo se mobilizando nas ruas, mas organizado e impulsionado pelas redes sociais.
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