Independentemente do resultado das eleições, a ascensão de JairBolsonaro terá deixado marcas profundas na sociedade brasileira. Por isso, é preciso um olhar atento sobre o fenômeno do bolsonarismo, para além da caricatura e do insulto.
Mais fácil do que determinar o que o bolsonarismo é, é demarcar o que não é.
Para começar, não é fascismo. Entre muitas diferenças marcantes, o bolsonarismo não é nacionalista.
Embora adote simbologia nacionalista, com o uso das cores verde e amarela e da bandeira nacional, o presidenciável não tem pautas nacionalistas concretas e não defende nem a indústria, nem os empregos, nem a cultura brasileira (em oposição a uma ameaça estrangeira).
O uso que faz da simbologia nacional parece mais representar uma espécie de civismo, de defesa do interesse público, tal como adotada no movimento anticorrupção, do que um nacionalismo propriamente dito.
O candidato do PSL também não é um populista xenófobo como os líderes da extrema-direita europeia. Embora tenha dado declarações duras sobre a situação dos venezuelanos em Roraima, seu discurso não é voltado ao combate ao estrangeiro ou ao imigrante, mas aos “vagabundos”, essa espécie de inimigo interno que se desvia da norma social conservadora.
Pelos mesmos motivos, o capitão reformado não deve ser visto como um Trump tropical, já que o presidente americano se distinguiu por travar uma guerra comercial com a China e por combater a imigração.
Se não é Mussolini, não é Le Pen e não é Trump, então ele é o que?
Bolsonaro é um soldado das guerras culturais, pondo no centro do seu discurso temas morais como a sexualização da infância, a escola sem partido, o porte de armas, a punição aos criminosos e o antifeminismo.
Bolsonaro tem um discurso anticorrupção antissistêmico e representa a ojeriza aos partidos e ao PT em particular.
Bolsonaro é autoritário e militarista e manifesta desprezo pelos limites constitucionais impostos pelo sistema de direitos humanos e pela divisão dos poderes.
Seus votos estão concentrados entre os homens mais escolarizados e mais ricos no sul e sudeste, ainda que tenha apoiadores em todos os estratos sociais. Assim, embora não seja exatamente um fenômeno das classes populares, seu discurso é anti-elitista, rejeitando o intelectualismo universitário, o jornalismo profissional e o anticonvencionalismo das artes.
O bolsonarismo é essa coisa sui generis, autoritária, moralmente conservadora, anti-intelectualista e antissistêmica. Seu liberalismo parece de fachada e uma espécie de conveniência política utilizada para conquistar um pouco de legitimidade junto às elites financeiras.
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