terça-feira, 25 de setembro de 2018

Não é o que parece, Pablo Ortellado


Ascensão de Bolsonaro deixará marcas profundas na sociedade


Independentemente do resultado das eleições, a ascensão de JairBolsonaro terá deixado marcas profundas na sociedade brasileira. Por isso, é preciso um olhar atento sobre o fenômeno do bolsonarismo, para além da caricatura e do insulto.
Mais fácil do que determinar o que o bolsonarismo é, é demarcar o que não é. 
Para começar, não é fascismo. Entre muitas diferenças marcantes, o bolsonarismo não é nacionalista.
Embora adote simbologia nacionalista, com o uso das cores verde e amarela e da bandeira nacional, o presidenciável não tem pautas nacionalistas concretas e não defende nem a indústria, nem os empregos, nem a cultura brasileira (em oposição a uma ameaça estrangeira). 
O uso que faz da simbologia nacional parece mais representar uma espécie de civismo, de defesa do interesse público, tal como adotada no movimento anticorrupção, do que um nacionalismo propriamente dito.
candidato do PSL também não é um populista xenófobo como os líderes da extrema-direita europeia. Embora tenha dado declarações duras sobre a situação dos venezuelanos em Roraima, seu discurso não é voltado ao combate ao estrangeiro ou ao imigrante, mas aos “vagabundos”, essa espécie de inimigo interno que se desvia da norma social conservadora.
Pelos mesmos motivos, o capitão reformado não deve ser visto como um Trump tropical, já que o presidente americano se distinguiu por travar uma guerra comercial com a China e por combater a imigração.
Se não é Mussolini, não é Le Pen e não é Trump, então ele é o que? 
Bolsonaro é um soldado das guerras culturais, pondo no centro do seu discurso temas morais como a sexualização da infância, a escola sem partido, o porte de armas, a punição aos criminosos e o antifeminismo. 
Bolsonaro tem um discurso anticorrupção antissistêmico e representa a ojeriza aos partidos e ao PT em particular. 
Bolsonaro é autoritário e militarista e manifesta desprezo pelos limites constitucionais impostos pelo sistema de direitos humanos e pela divisão dos poderes.
Seus votos estão concentrados entre os homens mais escolarizados e mais ricos no sul e sudeste, ainda que tenha apoiadores em todos os estratos sociais. Assim, embora não seja exatamente um fenômeno das classes populares, seu discurso é anti-elitista, rejeitando o intelectualismo universitário, o jornalismo profissional e o anticonvencionalismo das artes.
O bolsonarismo é essa coisa sui generis, autoritária, moralmente conservadora, anti-intelectualista e antissistêmica. Seu liberalismo parece de fachada e uma espécie de conveniência política utilizada para conquistar um pouco de legitimidade junto às elites financeiras. 

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