Ebulição cerebral vista no passado parece ter esfriado
As carteiras escolares da ciência política da USP foram, ao menos nos anos 90, habitat frequente de gente decepcionada com a oferta em sala. Tal ambiente era menos perceptível nas aulas de um professor novato de nome Fernando Haddad.
Dedicado e didático, ele tinha especial paixão por debater as teses de Joseph Schumpeter, gênio austríaco que na primeira metade do século 20 ofereceu novos caminhos para compreender a evolução da sociedade.
Schumpeter formatou uma visão cética, pessimista, sobre o capitalismo e a democracia. Espigada a partir de raiz marxista, sua mais famosa expressão evoca a disrupção intrínseca ao sistema —a “destruição criativa” dos empreendedores.
A comparação intelectual favorece Haddad não apenas perante Bolsonaro; ao contrário da última candidata do PT, não precisa listar título que não tem. Também soma mais experiência administrativa do que Lula e Dilma antes da posse, além de ter trabalhado no mercado financeiro.
O então candidato à vice-pPresidente Fernando Haddad (PT), faz campanha pelo agreste pernambucano na cidade de Garanhuns, terra natal de Luiz Inácio Lula da Silva. Ele foi escolhido pelo partido para substituir o ex-presidente, que teve a candidatura barrada pelo TSE Ricardo Stuckert - 01.set.2018 /
Mas em algum lugar desse percurso a ebulição cerebral daquele jovem professor parece ter esfriado.
Sua capacidade de autocrítica tende a zero. Único petista a não chegar ao segundo turno paulistano, ele já deveria ter formado explicação melhor para a derrota do que dizer que o eleitor foi induzido a erro —de resto uma muleta de simplificação da lógica política schumpeteriana.
O vazio lógico enche sua campanha. A propaganda petista apaga a existência de Dilma, mas ele finge que isso não acontece. A prisão de Lula (“injusta”) e a Lava Jato (“pretendo aperfeiçoar parte da legislação”) são tratadas como se fossem eventos independentes. O “novo” PT sorri ao lado de Renan como um dia o fez com Maluf. As propostas para a economia não atravessam o pântano das generalidades populistas, mas ele as formula como obviedades.
A estratégia eleitoral fez o “Andrade” crescer e aparecer. Falta agora Haddad mostrar qual destruição criativa poderia provocar na terra arrasada de seu partido e de seu país.
Roberto Dias
Secretário de Redação da Folha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário