Se implementado, plano do pedetista para política externa deixará país ainda mais fraco
A plataforma de política externa de Ciro Gomes (PDT) requenta ideias fracassadas e tropeça em contradições. Se implementado, seu plano deixará o Brasil ainda mais fraco do que já se encontra.
A principal ideia-força é simples de entender: “o Brasil é necessariamente potência revisionista”. Segundo a tese, o problema é que terceiros países estariam tentando enquistar o Brasil no atraso. Para reverter essa tendência, a campanha lança mão de numerosas iniciativas.
A primeira é a expropriação dos lotes de pré-sal, expulsando as empresas que os compraram em troca de algum tipo de indenização a ser definida. Não há, segundo o texto, “razão que justifique a pressa em explorar e produzir petróleo”.
Ciro ainda propõe um regime novo de propriedade intelectual, ao arrepio das regras do sistema multilateral que aprendemos a manipular com êxito durante os últimos 20 anos.
Ele sugere “ultrapassar” o dólar como moeda-reserva do sistema econômico internacional e rejeitar qualquer tipo de endividamento com a China. Qualquer outra coisa, afirma, seria submissão colonial.
Segundo os planos da campanha, o comércio exterior tem de ser politicamente orientado. Assim, um aprofundamento do Mercosul não deveria ameaçar as exceções protecionistas, que, há tempos, transformaram a integração regional em instrumento a serviço de um punhado de indústrias bem conectadas em Brasília.
A proposta ainda traz as promessas não críveis de praxe. A mais notável afirma que o Brasil de Ciro será “desbravador” em mudança do clima, embora sua candidata a vice, como se sabe, ostente o título de “miss desmatamento”.
A proposta mais preocupante está na área mais propensa a lambanças.
Ciro promete redobrar investimentos na indústria de defesa, mas quer mudar a lei para dispensar empresas do setor do atual regime de licitações. Em troca, seu projeto sugere que tais conglomerados empresariais privados permitam ao governo apitar sobre seus planos de investimento.
É a diplomacia do capitalismo de compadrio que já conhecemos: aquele esquema rentista que une políticos, empresários e seus intermediários na captura da política exterior. O Brasil viu esse filme com o Sivam de FHC, com os submarinos e os caças do PT, com os investimentos fracassados do BNDES no exterior e na indústria naval.
Esse tipo de esquema consolida o império dos grupos de interesse em detrimento da maioria do eleitorado. Ele resulta em tráfico de influência, contratos superfaturados e um festival de corrupção que minam a confiança da população na democracia. Quem paga a conta é a sociedade.
Nosso problema na área externa não são os outros.
Matias Spektor
Professor de relações internacionais na FGV.
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