Francesca Angiolillo
SÃO PAULO
O salão ladeado por grandes vidraças e cercado por uma varanda à toda volta, que se descortinava para o centro da cidade de São Paulo, não estava exatamente cheio.
Os ocupantes das cadeiras dispostas para o leilão de imóveis do Instituto Nacional de Seguro Social na manhã desta quarta (19) eram em parte compradores, em parte curiosos, que tinham em mãos o folder com a descrição, valor e fotos dos 26 bens no pregão.
Entre eles, estavam um palacete na rua Piauí, erguido em Higienópolis na época de fausto do café e ex-sede do Dops (Delegacia de ordem Política e Social), e a centenária casa da rua Marquês de Paranaguá, que tem em sua área envoltória o disputado terreno do parque Augusta.
Ambas são tombadas pelo Conpresp, órgão municipal de preservação do patrimônio.
Dos primeiros sete imóveis, só o que abriu o pregão foi vendido —eram todos conjuntos comerciais desocupados na r. 24 de Maio, não muito longe dali— e mesmo assim por 60% do valor inicial.
A mecânica do leilão estabelecia que, não havendo interessados em adquirir o bem apregoado pelo valor de avaliação, passava-se a uma primeira proposta, de 80% do valor do lance e, então, a uma segunda e última, de 60%.
O leilão esquentou quando chegou ao lote de número 8 —a casa da r. Marquês de Paranaguá, esquina com Visconde de Ouro Preto, na Consolação.
Depois da segunda proposta, deu-se uma sequência rápida de lances, e ela acabou arrematada, pelo valor de R$ 1.966.204,10, à vista. A construção, que tem ainda belas pinturas art-nouveau visíveis, apesar de anos de degradação, havia sido avaliada em R$ 3,18 milhões.
O comprador foi o grupo Protege, de segurança patrimonial transporte de valores. A sede da empresa é vizinha de muro do imóvel tombado, que chegou a ser invadido por sem-teto nos anos 2000.
O procurador da Protege na venda, Carlos Weiss, disse que ainda não há um destino determinado ou mesmo definição sobre o encaminhamento do restauro da casa.
Mas a cena digna do que se imagina de um leilão ocorreu mesmo em seguida.
Oferecida inicialmente a R$ 14,87 milhões, a casa da r. Piauí, ou lote 9 na lista da Taha Leilões, também chegou à segunda proposta sem postulantes.
Foi quando começou a guerra de placas.
A de número 12 se ergueu oferecendo R$ 1 milhão a mais em cima do valor de 60% do imóvel; os R$ 9,2 milhões foram rapidamente arredondados para R$ 10 milhões pela detentora da placa 5, e mais R$ 100 mil se somaram vindos do dono da placa 4.
Foram mais 41 lances, a maioria com diferenças de R$ 500 mil, até o braço com a placa 4 se mostrar mais forte, e o leiloeiro soltar o "Vou vender..." com que finalizava cada pregão.
Delfim Braz arrematou aquela que foi a residência do presidente Rodrigues Alves por R$ 26 milhões.
Derrotada, a dona da placa 4 saiu do leilão em seguida. Disse à Folha que se chamava Adriana Bessa e que pretendia comprar o imóvel para construir no terreno —que tem uma grande superfície livre ao redor da casa— um edifício residencial. Afirmou não ser ligada a nenhuma incorporadora.
Acompanhado de um jovem que identificou como seu sobrinho, o comprador Delfim Braz disse ser advogado societário e estar ali representando a família.
Ele, no entanto, é principalmente empresário e um dos acionistas do Shopping Pátio Higienópolis, dono de outros imóveis tombados no entorno do centro comercial que tanto movimenta a vida no bairro. Braz disse não ter ainda destino definido para o palacete.
"A casa é linda, não é? Vai ficar linda restaurada", comentou Braz, à guisa de explicação para ter comprado o imóvel.
Do total de imóveis levados ao pregão, cinco somente foram vendidos, em um total de R$ 29,6 milhões. Os outros 22 bens postos à venda pelo INSS devem voltar a ser leiloados, possivelmente em novembro.
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