quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Deirdre Nansen McCloskey - Política odiosa ,FSP

 Amar é melhor para nós do que odiar. Do ponto de vista religioso, amar é bom para a nossa salvação. O Sermão da Montanha em Mateus é o mais radical dos ditos atribuídos a Jesus de Nazaré. "Ouvistes que foi dito: 'Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo'. Mas eu vos digo: amai os vossos inimigos... Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tereis? Até os publicanos fazem isso!" (Os cobradores de impostos dos ocupantes romanos não eram mais populares do que os cobradores de impostos de hoje.)

Do ponto de vista psicológico, amar é, sem dúvida, bom para a nossa saúde mental. Você conhece a agradável sensação de bem-estar que vem do amor. Acabamos de ter um feriado nos Estados Unidos (e na semana anterior no Canadá) chamado "Ação de Graças", no qual familiares e amigos queridos se reúnem para uma refeição. Fui a Shelbyville, no estado do Kentucky, para a celebração de queridos amigos e recebi e dei amor.

Mas você também conhece a sensação horrível que o ódio traz. Você pode odiar a morte e os impostos. O ódio não para, e ainda arruína seu humor. Todos nós conhecemos pessoas que parecem viver de seus ódios. São pessoas miseráveis para os outros e para si mesmas.

E, do ponto de vista político, amar é bom para nós e odiar é ruim para nós. O grande político irlandês e membro do Parlamento britânico no final do século 18 Edmund Burke declarou que "magnanimidade na política não raramente é a sabedoria mais verdadeira". Magnanimidade significa em latim "grande generosidade", uma espécie de amor tolerante e brando pelos outros. Não há muita generosidade em nossa política atual, tanto no Brasil quanto nos EUA.

Um dos meus novos amigos no Kentucky, Aaron Morris, observou sabiamente que os políticos hoje em dia —e, na verdade, na maioria dos dias— carregam consigo uma sacola de ódios para usar como arma para inflamar os eleitores. Os conservadores em nossos países costumavam afirmar seu ódio aos homens homossexuais —lembrem-se que Jair Bolsonaro disse preferir que um filho seu estivesse morto a que fosse gay.

Quando esse ódio em particular começou a parecer tão ridículo quanto é, os políticos conservadores dos EUA recorreram ao ódio ao casamento gay. Depois que a magnanimidade da igualdade para todos também tornou isso ineficaz para deixar os eleitores irritados, os políticos recorreram ao ódio às mulheres trans. Esse ódio agora desempenha um papel surpreendentemente grande no ódio do Partido Republicano de Trump.

No Reino Unido, não são os conservadores, mas as feministas radicais que perseguem as mulheres trans. O Supremo Tribunal do Reino Unido decidiu recentemente que tal ódio deveria ser transformado em lei.
É antigo esse discurso de ódio. Judeus. Estrangeiros. Os pobres. Os ricos. Vejam o que aconteceu com a antiga Iugoslávia. Quando o marechal Tito estava no comando, muçulmanos e cristãos se davam bem. Quando ele morreu, o grupo se fragmentou em facções de ódio, porque os políticos perceberam que podiam obter poder explorando o medo e o ódio.

Então a culpa é dos políticos? Nós, eleitores comuns, somos inocentes?

Não sejam tolos. É claro que a tendência humana inata de temer, odiar e matar o Outro abre espaço para políticos irresponsáveis.

Os responsáveis nos tornam melhores. Os demais nos tornam piores.

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terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Toffoli põe pedido da defesa de Vorcaro, do Master, em sigilo máximo, FSP

 José Marques

Brasília

O ministro Dias Toffoli colocou sob sigilo elevado um pedido da defesa de Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, para levar as investigações sobre o empresário ao STF (Supremo Tribunal Federal).

O caso estava sob segredo de Justiça e passou a ser tratado, nos últimos dias, como sigiloso. Com a mudança, parte das informações sobre o andamento processual do caso ficam ocultas do público.

Apesar da mudança, esse tipo de sigilo não é incomum no Supremo. Grande parte das investigações que envolvem parlamentares estão sob o mesmo grau. Apesar de ser estar sob o máximo de sigilo para acesso ao público, o ministro poderia restringir internamente, ainda mais, o acesso ao processo.

O pedido da defesa foi feito após um envelope com documentos de um negócio imobiliário relacionado ao deputado João Carlos Bacelar (PL-BA) ter sido encontrado em uma busca e apreensão.

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Daniel Vorcaro, do Banco Master, em evento do Esfera Brasil em São Paulo, em abril de 2024 - Rubens Cavallari -22.abr.24/Folhapress

Atualmente, as investigações relacionadas a Vorcaro correm na Justiça Federal do Distrito Federal.

Por causa desse documento, na sexta-feira (28), a defesa solicitou que o inquérito seja remetido ao Supremo.

Toffoli abriu o caso para manifestação da PGR (Procuradoria-Geral da República) antes de tomar uma decisão.

Procurado, o Supremo afirmou que uma resolução da corte afirma que cabe ao ministro relator "definir o nível de sigilo aplicável ao processo, peça ou documento".

Também diz que "as classificações de sigilo poderão ser revistas pelo(a) ministro(a) relator(a) a qualquer tempo".

Em nota, Bacelar afirmou que participou da criação de um fundo destinado à construção de um empreendimento imobiliário em Trancoso, distrito de Porto Seguro (BA), mas a transação não avançou. À época, Vorcaro teria demonstrado interesse na aquisição de parte do projeto.

Nos últimos anos, Vorcaro tentou se aproximar da cúpula do Judiciário brasileiro com patrocínio em eventos dos quais participaram, inclusive, ministros do Supremo.

No ano passado, por exemplo, o Master e outras empresas bancaram palestrantes ou patrocinaram o 1º Fórum Jurídico Brasil de Ideias, evento em Londres que reuniu ministros do STF, do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e do governo Lula (PT).

À época, o banco disse em nota que que foi um dos "vários apoiadores" do evento "ao viabilizar a palestra do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair".

"O presidente do banco, Daniel Vorcaro, ancorou o debate, que tratou de temas como economia verde, brexit e inteligência artificial. O banco tem apoiado diversos eventos, dentro e fora do Brasil, que promovam um amplo debate de ideias e representem avanços para o Brasil", dizia nota do Master.

Na sexta, a desembargadora Solange Salgado da Silva, do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), determinou a soltura de Vorcaro e disse que ele deve ser monitorado com o uso de tornozeleira eletrônica.

O dono do Master estava preso desde o dia 17, quando se preparava para embarcar em um voo para o exterior.

A juíza afirmou que as suspeitas sobre Vorcaro são graves, mas apontou que o uso da tornozeleira e outras medidas cautelares são suficientes.

Vorcaro havia sido preso no aeroporto de Guarulhos (SP), quando embarcava para Dubai. Ao determinar a soltura, a juíza afirmou que o banqueiro comprovou que havia comunicado previamente ao Banco Central que voaria para os Emirados Árabes Unidos, com o objetivo de se reunir com empresários interessados na compra do Master.


Nunes diz que União Brasil faz afronta e age como oposição ao indicar Rubinho para Câmara de SP, FSP

 Guilherme Seto

Brasília

Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo, afirma que o União Brasil "está fazendo uma afronta" ao indicar Rubinho Nunes (União) para disputar a presidência da Câmara Municipal neste mês. A escolha foi feita pela bancada de vereadores na segunda-feira (1º).

"São da base e estão agindo como oposição", diz o prefeito ao Painel. "Vi com surpresa [a indicação], ano passado o partido falava em expulsar ele e agora vira o nome do partido", afirma o emedebista.

Homem de perfil com cabelo preto e barba aparada, veste terno azul e camisa clara, sentado entre outras pessoas em ambiente fechado.
Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo, durante evento na sede do TRE-SP - Danilo Verpa-6.out.25/Folhapress

O prefeito faz referência à eleição municipal do ano passado, quando Rubinho, integrante da base de apoio de Nunes na época, decidiu apoiar Pablo Marçal (PRTB). Desde então, o vereador passou a ser visto como seu desafeto.

Na época, Milton Leite, presidente do diretório municipal do União Brasil, disse que cortaria o fundo eleitoral de Rubinho e analisaria "possível expulsão".

Leite diz ao Painel que não há afronta na indicação, que Rubinho é um vereador que apoia projetos do prefeito e ajuda na gestão municipal. Ele afirma, além disso, que o vereador está comprometido a seguir apoiando o prefeito e que não é razoável que alguém que não faz parte do União Brasil, como Nunes, queira interferir nas dinâmicas internas da sigla.

Ricardo Nunes defende a reeleição do atual presidente da Câmara, Ricardo Teixeira (União). Na noite de segunda-feira, a bancada de vereadores debateu a possível suspensão da filiação de Teixeira ao partido por supostamente desrespeitar acerto fechado no ano passado segundo o qual haveria rodízio de vereadores do União Brasil no comando da Câmara.

Um homem com cabelo escuro e liso, vestindo um terno azul e uma gravata amarela, está falando em um microfone. Ele parece estar em um ambiente formal, possivelmente uma câmara legislativa, com uma mesa de madeira ao fundo. Ao fundo, é possível ver pessoas e um telefone.
O vereador Rubinho Nunes (União) durante sessão da Câmara de SP - Rafaela Araújo-6.fev.25/Folhapress

Ex-presidente da Câmara e presidente do diretório municipal, Milton Leite tem defendido o cumprimento do acerto e, portanto, a substituição de Teixeira.

acordo que garante ao União Brasil o comando da Câmara Municipal de São Paulo por quatro anos foi fechado no ano passado com Nunes e os partidos de sua base durante a campanha eleitoral, em troca de apoio ao prefeito em sua busca pela reeleição.

O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo reverteu, na quinta-feira (27), decisão que havia cassado o mandato de Rubinho por divulgar laudo falso envolvendo o então candidato a prefeito e hoje ministro da Secretaria-Geral da Presidência Guilherme Boulos (PSOL).