terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Tarcísio escolhe Aluísio Segurado como novo reitor da USP, FSP

 

São Paulo

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) escolheu o professor Aluísio Segurado como o novo reitor da USP, mais prestigiada universidade da América Latina. Ele venceu as eleições acadêmicas, e encabeçou a lista tríplice.

Folha apurou que a nomeação deve ser anunciada nesta quarta-feira (3).

Segurado venceu com ampla vantagem tanto na consulta aos alunos, docentes e funcionários, quanto na votação da assembleia universitária. Sua indicação, no entanto, ainda dependia da decisão final do governador.

Homem idoso de cabelos grisalhos e óculos, vestido com terno azul e camisa branca, gesticula com as mãos abertas enquanto fala em ambiente interno com fundo desfocado.
Aluisio Segurado, candidato à reitoria da USP ficou em primeiro na lista tríplice - Marlene Bergamo - Marlene Bergamo - 28.out.25/Folhapress

Tradicionalmente, o mais votado pela comunidade universitária da USP é o escolhido, mas já houve casos, como em 2009, quando o então governador José Serra indicou o segundo colocado, João Grandino Rodas.

Também durante a ditadura militar, quando Paulo Maluf escolheu o diretor da Escola Politécnica Antônio Hélio Guerra Vieira, candidatos menos votados foram escolhidos.

Em entrevista à Folha, Segurado disse que o maior desafio a ser enfrentado pela universidade nos próximos anos será a elaboração de um novo formato de financiamento para as universidades estaduais paulistas (consequência da reforma tributária, que acabará com o ICMS).

Por isso, defendeu que o novo reitor precisará ter habilidade para dialogar com todos os espectros políticos e conseguir minimizar os ataques de grupos conservadores e da direita contra a USP.

"Essa discussão vai exigir que tenhamos à frente da reitoria lideranças capazes de fazer essa articulação, com muita escuta e capacidade de fazer a sociedade ficar do nosso lado. Precisamos de um reitor que saiba dialogar com todo o espectro político que vai estar envolvido nesse debate."

Segurado destaca também que o novo reitor precisa estar preparado para lidar com a renovação do quadro político em São Paulo para a discussão do financiamento, já que o próximo ano terá eleição para governador e deputados estaduais.

Segurado foi pró-reitor de graduação da atual gestão do reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior. Professor da Faculdade de Medicina e infectologista, ele dirigiu o Instituto Central do Hospital das Clínicas (HC) durante a pandemia de coronavírus.

Ele destacou como a USP foi importante durante a pandemia e teve seu papel reconhecido pela sociedade. Para ele, a universidade precisa encontrar meios de se mostrar atuante e participativa como naquele momento.

"Nós fizemos uma mobilização de guerra e em poucas semanas transformamos o HC para atender exclusivamente os pacientes com Covid. Em um momento tão crítico para o estado de São Paulo, a USP se colocou inteira à disposição da população e não poderia ser diferente, nós servimos à sociedade."

O professor da Faculdade de Medicina diz que os ataques registrados na USP nos últimos meses são consequência de uma sociedade polarizada e avalia que a forma de enfrentá-los é chamar esses grupos conservadores para o diálogo.

À frente da pró-reitoria de graduação, Segurado conduziu um diagnóstico sobre o preenchimento das vagas ofertadas e as taxas de evasão de cada curso.

Ele diz ter encontrado gargalos que precisam ser enfrentados para que mais jovens tenham a oportunidade de entrar, e se formar, na USP e também evitar desperdício de recursos públicos.

Ele explica que, nos últimos quatro anos, a universidade investiu em estimular a revisão dos currículos das graduações —com a mudança de mais de 140 projetos pedagógicos de curso. Segundo ele, a USP vive um momento único para a implementação dessas mudanças já que renovou 20% do seu quadro docente recentemente (foram contratados cerca de 900 professores).

"São professores jovens, dispostos e abertos a fazer as mudanças que os alunos de hoje requerem."

Agora, diz, ser a hora de fazer adaptações para maior atratividade e redução das taxas de evasão dos cursos, por entender que baixa procura e elevado abandono estão relacionados a problemas no currículo ou na qualidade do ensino.

"Precisamos repensar a forma como exigimos que os candidatos escolham a opção de curso no vestibular. Nós exigimos um grau de decisão que é muito prematuro para o jovem, ele sequer tem maturidade para escolher um percurso formativo tão detalhado dentro da área em que tem interesse."

Para reduzir a evasão, ele pretende criar um Núcleo de Acessibilidade Pedagógica para fazer as adaptações necessárias para alunos neurodivergentes, com deficiência e até mesmo com lacunas de conhecimento.

"Engana-se quem acredita que só alunos da escola pública entram na USP com dificuldade. Nós estamos recebendo estudantes que passaram dois anos da vida escolar com aulas remotas, isso afetou a todos e perdura até hoje."

"Vou dar um exemplo hipotético: é justo que a gente cobre do vestibulando escolher entre entrar no curso de geofísica, geologia ou meteorologia? Ele sequer sabe identificar qual é a diferença entre essas carreiras", complementa Segurado.

Para ele, é preciso mudar a mentalidade de que o ensino na USP é difícil. "Ele precisa ser exigente, mas não difícil. A experiência do aluno no primeiro ano de uma graduação na USP precisa ser acolhedora, não aterradora. Ele precisa vestir a camisa da universidade, se sentir pertencente. A revisão desse primeiro será uma prioridade da nossa gestão."

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Pastores no Senado, Hélio Schwartsman, FSP

 Deu na Folha que aliados de Jorge Messias pretendem abarrotar o Senado de pastores para pressionar os parlamentares a aprovarem seu nome para o STF.

Messias é evangélico e seus apoiadores imaginam que a assembleia de clérigos poderá amainar a resistência de senadores a seu nome, que é muito mais política do que religiosa, curricular ou pessoal.

Homem de terno escuro, camisa branca e gravata azul sorri enquanto é fotografado por celular. Outras pessoas aparecem desfocadas ao fundo em ambiente interno.
O advogado-geral da União, Jorge Messias, indicado por Lula a uma vaga no Supremo Tribunal Federal Pedro Ladeira - 26.nov.2025/Folhapress

Misturar religião com política é uma combinação complicada. O ideal, na democracia, seria separar inteiramente as duas esferas. Mas é impossível fazer isso pela simples razão de que ambas as atividades são exercidas por humanos. E todo humano tem uma identidade religiosa. Mesmo eu, ateu irredutível e desprovido de qualquer traço identificável de espiritualidade, ocupo um lugar no espectro da religiosidade, que vai da descrença absoluta à devoção compulsiva.

A relação entre fé e política no contexto da democracia é bastante assimétrica. Os direitos fundamentais fazem bem às religiões, desde que estas renunciem a eventuais pretensões hegemônicas. É só quando a liberdade de culto está assegurada que crenças minoritárias podem existir e prosperar.

Já a inversa não é verdadeira. A lógica religiosa não faz muito bem à política. A ideia básica por trás da política é pacificar conflitos por meio de negociações e concessões recíprocas.

Religiões, porém, costumam operar com absolutos morais. Se foi Deus que definiu desde o começo dos tempos o que é certo e o que é errado e não cabe a nenhum mortal questionar a autoridade divina, não sobra muito espaço para negociação.

A situação só não é impossível porque são poucos os fiéis que conduzem suas ações com total zelo religioso. Quando o fazem, se convertem nos Torquemadas que tanto sofrimento infligiram à humanidade. Paradoxalmente, para a religião funcionar para o bem, precisa ser abraçada sem convicção absoluta.

Congresso tomado por pastores não é uma imagem que me tranquilize muito.

Governo federal avalia usar dinheiro de acordo para resolver impasse ferroviário em Morretes (PR), FSP

 

Curitiba

O governo federal avalia usar parte dos recursos de um acordo com a empresa Rumo para resolver os problemas gerados pela passagem frequente de trens em Morretes, cidade turística de quase 20 mil habitantes localizada entre a Serra do Mar e o litoral do Paraná.

A ideia defendida pela prefeitura é a construção de ao menos uma trincheira em um dos três pontos da cidade onde a ferrovia interrompe a passagens de veículos. A obra é estimada em R$ 25 milhões pelo município, que há décadas tem cobrado a União por uma solução.

Dois carros, um preto e um vermelho, aguardam em cruzamento enquanto trem de carga passa. Palmeiras altas e céu nublado compõem o cenário urbano.
Passagem de trem interrompe o trânsito de veículos em três pontos da área urbana de Morretes, no Paraná - Divulgação/Prefeitura de Morretes

A mudança no traçado da ferrovia não é considerada uma alternativa. Além da possível supressão de mata atlântica que isso geraria na região, o trem também está ligado ao turismo na cidade.

A linha férrea concedida à Rumo pela União é utilizada para transportar cargas agrícolas até o Porto de Paranaguá e também para os passeios promovidos pela Serra Verde Express entre a capital Curitiba e Morretes. A rota atrai cerca de 250 mil pessoas por ano, principalmente pela beleza natural do lugar, uma faixa preservada de mata atlântica.

A história da própria ferrovia também é lembrada para o turista que faz o passeio. A obra foi concluída em 1885 pelos irmãos André e Antônio Rebouças, os primeiros engenheiros negros do Brasil, que exigiram que a construção da linha férrea não tivesse mão de obra de pessoas escravizadas —a Lei Áurea foi sancionada três anos depois.

"Não somos contra a ferrovia. Sabemos que o escoamento da safra do país passa por aqui, o agro é forte, e o passeio de turismo no trem é considerado um dos dez mais bonitos do mundo. Mas precisamos de passagem de nível, porque o trem passa o tempo todo, 24h. Fora os acidentes", diz o prefeito Junior Brindarolli (PSD).

O trecho da ferrovia que atravessa a área urbana da cidade tem cerca de 70 quilômetros. "Não tem um tempo certo, mas geralmente o morador tem que esperar uns 20 minutos parado. Às vezes mais, às vezes menos. E se uma ambulância do Samu ou do Siate precisar atravessar? Tem composições com 160 vagões", afirma ele.

Brindarolli diz que todos os municípios brasileiros que têm linha férrea ativa deveriam ser compensados de algum modo e que o custo de uma obra de passagem de nível inferior em Morretes, como uma trincheira, ficaria em torno de R$ 25 milhões, daí a necessidade de buscar recursos junto à União.

"O município não tem como bancar. Nosso orçamento para o ano todo é de R$ 100 milhões", diz ele, que em outubro participou de uma reunião na Secretaria Nacional de Assuntos Ferroviários, articulada pelo deputado federal Aliel Machado (PSB-PR), para discutir o assunto.

Segundo Machado, já há um compromisso do governo federal com a obra e o debate agora tem sido em torno de como executá-la.

Uma das alternativas ventiladas na mesa de reunião naquele mês foi utilizar recursos da repactuação da concessão da Rumo Malha Paulista, cujo contrato com a União foi recentemente prorrogado até 2059. A Malha Paulista abarca trechos (2.118 km no total) em São Paulo e Minas Gerais.

Mas a reportagem apurou junto ao Ministério dos Transportes que o dinheiro deve sair do próprio contrato de concessão da Rumo Malha Sul, que abriga o traçado de Morretes. No total, a Malha Sul tem 7.223 km de ferrovias que cortam quatro estados, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e também São Paulo.

A ideia seria utilizar parte dos recursos que a Rumo pagará à União no âmbito de um acordo homologado no ano passado pelo TCU (Tribunal de Contas da União) e no qual a empresa devolve cerca de 100 quilômetros de ferrovia entre Presidente Epitácio e Presidente Prudente, em São Paulo.

A devolução, segundo a pasta, deve gerar uma indenização estimada em até R$ 250 milhões. "Diante disso, o ministério avalia a melhor forma de utilizar esses recursos, incluindo ações voltadas ao enfrentamento do conflito urbano em Morretes", informou a pasta à reportagem.

O ministério não deu outros detalhes. Para o prefeito, a forma mais rápida de fazer a obra seria se a própria Rumo executasse o serviço. "A gente sabe que obra pública, em razão do processo de licitação, pode demorar um pouco mais. E a população espera há décadas pela solução disso", diz Brindarolli.

Procurada pela reportagem, a Rumo respondeu, em nota, que a concessão da Malha Sul "está em avaliação no grupo de trabalho conduzido pelo Ministério dos Transportes, inclusive no que tange a eventuais indenizações ou obras associadas à ferrovia".

O trecho de Morretes foi concedido em março de 1997 e o contrato com a Rumo segue vigente até fevereiro de 2027. A expectativa da prefeitura é que a obra seja anunciada em breve e iniciada em 2026.

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