terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Tarcísio tem bom espelho do que a USP quer, diz vencedor de eleição a reitor, FSP

 Isabela Palhares

São Paulo

O professor da Faculdade de Medicina Aluisio Segurado, 68, que venceu as eleições para reitor na USP, disse que o resultado traz ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) um bom espelho sobre o que a comunidade acadêmica espera para os rumos da universidade.

Segurado venceu com ampla vantagem tanto na consulta aos alunos, docentes e funcionários, quanto na votação da assembleia universitária. Assim, seu nome encabeça a lista tríplice que será enviada ao governador —a quem cabe a decisão final.

"Saímos com muita vantagem na consulta e a assembleia confirmou o resultado. Acredito que com esse resultado, o governador tem um bom espelho sobre o que o rumo que a comunidade acadêmica gostaria de seguir nos próximos anos da universidade", disse Segurado à Folha.

Homem idoso de cabelos grisalhos e óculos sentado à mesa de escritório escura, gesticulando com as mãos durante conversa. Ambiente interno com parede clara e janela com persianas ao fundo.
Aluisio Segurado, candidato à reitoria da USP que está em primeiro na lista tríplice - Marlene Bergamo - 28.out.25/Folhapress

Tradicionalmente, o mais votado pela comunidade universitária da USP é o escolhido, mas já houve casos, como em 2009, quando o então governador José Serra indicou o segundo colocado, João Grandino Rodas.

Também durante a ditadura militar, quando Paulo Maluf escolheu o diretor da Escola Politécnica Antônio Hélio Guerra Vieira, candidatos menos votados foram escolhidos.

A votação online ocorreu na última quinta-feira (27) em uma assembleia universitária. Segurado teve 1.270 votos, seguido da ex-diretora da ex-diretora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Ana Lúcia Duarte Lanna, com 713 votos, e do professor da Escola Politécnica Marcílio Alves, com 340 votos. Os três, portanto, integram a lista tríplice.

Não há prazo para Tarcísio indicar o nome que vai ocupar a reitoria, mas o novo ocupante do cargo vai tomar posse no dia 25 de janeiro do ano que vem e deve ficar no cargo até janeiro de 2030.

Em entrevista à Folha, Segurado disse que o maior desafio a ser enfrentado pela universidade nos próximos anos será a elaboração de um novo formato de financiamento para as universidades estaduais paulistas (consequência da reforma tributária, que acabará com o ICMS).

Por isso, defendeu que o novo reitor precisará ter habilidade para dialogar com todos os espectros políticos e conseguir minimizar os ataques de grupos conservadores e da direita contra a USP.

"Essa discussão vai exigir que tenhamos à frente da reitoria lideranças capazes de fazer essa articulação, com muita escuta e capacidade de fazer a sociedade ficar do nosso lado. Precisamos de um reitor que saiba dialogar com todo o espectro político que vai estar envolvido nesse debate."

Segurado destaca também que o novo reitor precisa estar preparado para lidar com a renovação do quadro político em São Paulo para a discussão do financiamento, já que o próximo ano terá eleição para governador e deputados estaduais.

Segurado foi pró-reitor de graduação da atual gestão do reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior. Professor da Faculdade de Medicina e infectologista, ele dirigiu o Instituto Central do Hospital das Clínicas (HC) durante a pandemia de coronavírus.

Ele destacou como a USP foi importante durante a pandemia e teve seu papel reconhecido pela sociedade. Para ele, a universidade precisa encontrar meios de se mostrar atuante e participativa como naquele momento.

"Nós fizemos uma mobilização de guerra e em poucas semanas transformamos o HC para atender exclusivamente os pacientes com Covid. Em um momento tão crítico para o estado de São Paulo, a USP se colocou inteira à disposição da população e não poderia ser diferente, nós servimos à sociedade."

O professor da Faculdade de Medicina diz que os ataques registrados na USP nos últimos meses são consequência de uma sociedade polarizada e avalia que a forma de enfrentá-los é chamar esses grupos conservadores para o diálogo.

À frente da pró-reitoria de graduação, Segurado conduziu um diagnóstico sobre o preenchimento das vagas ofertadas e as taxas de evasão de cada curso.

Ele diz ter encontrado gargalos que precisam ser enfrentados para que mais jovens tenham a oportunidade de entrar, e se formar, na USP e também evitar desperdício de recursos públicos.

Ele explica que, nos últimos quatro anos, a universidade investiu em estimular a revisão dos currículos das graduações —com a mudança de mais de 140 projetos pedagógicos de curso. Segundo ele, a USP vive um momento único para a implementação dessas mudanças já que renovou 20% do seu quadro docente recentemente (foram contratados cerca de 900 professores).

"São professores jovens, dispostos e abertos a fazer as mudanças que os alunos de hoje requerem."

Queda nas vendas de veículos no segundo semestre assusta montadoras, Eduardo Sodré - FSP

 

As vendas de veículos leves e pesados registraram queda em novembro, o que deve comprometer o resultado esperado para 2025. Foram emplacadas 253,5 mil unidades no último mês, uma queda de 10,7% na comparação com outubro, segundo dados baseados no Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores).

Em relação a novembro de 2024, a queda é de 8,2%. Os resultados puxaram para baixo o crescimento no acumulado do ano, que agora está em 1,1% —até outubro, a alta era de 2,2%. Mas esse não é o índice que mais preocupa. O problema maior está na desaceleração no segundo semestre.

Salão do Automóvel de São Paulo
Público visita estandes de marcas chinesas no Salão do Automóvel de São Paulo - Mauro Calliari - 27.nov.25/Folhapress

Entre julho e novembro, foram comercializados 1,21 milhão de veículos no Brasil, uma retração de 2,3% na comparação com o mesmo período de 2024. Representantes da indústria já demonstram preocupação com dezembro, que historicamente é o mês mais forte de vendas no ano.

A queda é atribuída principalmente ao impacto da Selic (taxa básica de juros do país) sobre o custo do crédito e ao orçamento das famílias.

Dados da Peic, pesquisa sobre endividamento da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), mostrou que o percentual de famílias que possuíam contas em atraso alcançou 30,5% em setembro, o maior valor da série histórica.

Em agosto, a Anfavea (associação das montadoras) revisou as perspectivas para o ano. A entidade projetou um crescimento de 5% nas vendas, sendo que o número divulgado anteriormente previa uma alta de 6,5%. Agora, há o receio de o ano fechar no mesmo patamar de 2024 ou, no pior cenário, registrar queda.

A retração no mercado de veículos novos ocorre em meio à alta geral nos parcelamentos. Segundo dados da B3, a Bolsa de Valores do Brasil e operadora do SNG (Sistema Nacional de Gravames), foram financiadas 697 mil unidades em outubro, o maior volume para o mês desde 2007.

Entretanto, o dado reúne também as motocicletas e os carros usados, que são os principais responsáveis pelo resultado.

Entre as montadoras associadas à Anfavea, a preocupação está na perda de participação de mercado em meio à chegada das concorrentes chinesas. A General Motors, por exemplo, registrou uma queda de 13,2% nas vendas entre janeiro e outubro em comparação com o mesmo período de 2024. Os dados são da Fenabrave (associação que reúne os distribuidores de veículos).

No caso da GM, o período sem grandes lançamentos é uma das justificativas para o resultado. Espera-se pela retomada em 2026, com a chegada do SUV compacto Chevrolet Sonic.

Todas as montadoras aguardam por melhores condições de crédito. É esperado ainda que a implementação do IPI Verde, que entrou em prática em novembro, ajude a melhorar a rentabilidade e a diminuir um pouco os preços praticados no varejo.

Quem irá conter o Supremo?, Joel Pinheiro da Fonseca, FSp

 Uma série de bons artigos —Malu Gaspar e Pablo Ortellado no Globo, Fernando Schuler no Estadão e Lygia Maria aqui na Folha— tem debatido os possíveis abusos do Supremo no contexto da trama golpista. Agora que Bolsonaro foi condenado, é hora do Supremo conter os abusos que foram necessários para condená-lo e voltar à normalidade. Claro que a própria Justiça não pode jamais aceitar esses termos, pois seria a admissão de uma Justiça parcial e, portanto, injusta, mas é assim que o debate público tem tratado a questão.

Não vi ainda argumento decisivo para a premissa central aí: a de que os "abusos" do Supremo (lembrando que todos têm suas justificativas jurídicas) foram necessários, decisivos, para as condenações.

Sala de tribunal com sete juízes sentados em bancada curva de madeira. Público em cadeiras vermelhas observa a sessão. Bandeira do Brasil e símbolo nacional ao fundo
O STF (Supremo Tribunal Federal) durante julgamento da trama golpista - Rosinei Coutinhol/Divulgação STF

Em alguns casos isso é obviamente falso. Tanto a decisão de levar o caso para a primeira turma —em vez do plenário— e a decisão de Moraes de não se declarar impedido para julgar o caso são decisões frequentemente apontadas como abusivas. Independentemente de se a crítica é correta ou não, elas foram irrelevantes para o resultado final. Os golpistas terminariam condenados de qualquer jeito. Mas e sem os inquéritos de ofício, mantidos durante a longa omissão da PGR? Sem eles, haveria a denúncia e o caso? Talvez nunca saibamos.

Mais relevante do que julgar o passado é consertar o que está errado para o futuro. E aqui há pelo menos três frentes em que o Supremo precisa se corrigir, se conter —ou ser corrigido e ser contido.

A primeira são as penas duríssimas dadas aos invasores do 8 de Janeiro, maiores que as de assassinos e estupradores. Maiores aliás do que as de diversos condenados dos núcleos da trama golpista, supostamente os planejadores e responsáveis de quem os invasores foram mera massa de manobra.

O segundo são os inquéritos de ofício do Supremo, que seguem abertos muito depois que todos os fatos que eles supostamente queriam investigar já se encerraram. Já deveriam ter sido encerrados; que o sejam agora.

O terceiro é a suspensão de contas de redes sociais como medida cautelar por conta de alguma opinião indevida. Decisões monocráticas, liminares, tomadas de forma sigilosa e por prazo indeterminado, seja pelo STF ou pelo TSE. Ninguém nem sabe exatamente quantas pessoas estão sem acesso a suas redes. É verdade que as censuras parecem ter parado —embora seja impossível sabê-lo ao certo devido ao sigilo—, mas a possibilidade de que possam voltar no futuro é grave. Ano que vem teremos eleições novamente; a censura correrá solta?

Pela filosofia política clássica, a capacidade de um líder de se autoconter é a principal virtude no exercício do poder. É o que diferencia o rei do tirano. Sabemos, contudo, que é rara. Por isso uma constituição política estável depende de equilíbrio entre Poderes, de modo que um atue sobre outro.

Não é de hoje que se espera uma autocontenção do Supremo. A promessa vem desde o início do mandato de Barroso como presidente. Se ela não vier, quem pode conter o Supremo por fora é o Congresso, seja pela votação de novos ministros com mentalidade diferente, pelo impeachment dos atuais ou por PECs que mudem as atribuições da corte. Na ausência da autocontenção, ele não deve se furtar de agir.