segunda-feira, 5 de maio de 2025

Robôs no WhatsApp são acionados para atacar Gleisi Hoffmann, FSP

 

Na última quarta-feira (30), por volta das 6h, milhares de contas com comportamento automatizado começaram a disseminar mensagens falsas ou descontextualizadas que buscavam vincular a ministra Gleisi Hoffmann à recente crise no INSS.

A movimentação foi nos mais de 100 mil grupos públicos de WhatsApp monitorados pela Palver, com padrões semelhantes aos já observados em outras campanhas de desinformação coordenadas.

A onda de disparos ocorre um dia após a Mesa Diretora da Câmara recomendar a suspensão, por seis meses, do mandato do deputado Gilvan da Federal (PL-ES) por quebra de decoro parlamentar.

A imagem mostra uma mulher com cabelo liso e loiro, usando um blazer escuro e uma blusa preta. Ela está em um ambiente com fundo de madeira clara, olhando para a câmera com uma expressão séria. A mulher usa brincos de pérola e um colar discreto.
A ministra de Relações Institucionais Gleisi Hoffmann, em cerimônia no Palácio do Planalto. - - Gabriela Biló - 28.fev.25/Folhapress

Durante uma sessão, o deputado chamou Gleisi de "prostituta" ao se referir ao codinome "Amante" — nome que consta na lista da Odebrecht entregue à Lava Jato, em um processo no qual a ministra foi absolvida por unanimidade pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2018.

Logo após a repercussão da possível suspensão de Gilvan no Congresso, teve início uma sequência coordenada de mensagens que reciclavam links antigos, sobretudo de 2016, para insinuar que Gleisi estaria envolvida em esquemas de corrupção ligados ao INSS.

O material resgatado se refere a uma investigação sobre a empresa Consist, ainda em tramitação no STF, mas que não tem relação direta com a crise atual que levou à queda do ministro Carlos Lupi, da Previdência.

As mensagens, no entanto, conectam artificialmente os dois episódios para sugerir continuidade nos desvios e apontar a ministra como peça-chave. Em seguida, passaram a circular afirmações de que Gleisi seria contra a demissão de Lupi porque desejaria "continuar roubando".

Essa leitura ignora seu papel como ministra das Relações Institucionais, responsável por preservar a articulação política do governo —especialmente com partidos como o PDT.

No meio da manhã, outro conteúdo começou a se espalhar com força: um vídeo gravado em 2017 em que uma mulher hostiliza Gleisi dentro de um avião, acusando-a de corrupção e de roubar dinheiro dos aposentados.

O vídeo foi compartilhado como se tivesse ocorrido recentemente, sem qualquer menção à sua data real. Em 2019, a autora do ataque foi condenada a indenizar Gleisi por danos morais nesse caso. O vídeo constrói a sensação de que o "Brasil inteiro" já sabe a verdade sobre Gleisi e que as pessoas estão indignadas.

Por fim, começaram os disparos com manchetes afirmando que Gilvan poderá ser suspenso por ter chamado a ministra de "amante" —omitindo o uso do termo "prostituta", que de fato foi o centro da acusação por quebra de decoro. A omissão distorce o sentido da sanção e transforma o deputado em vítima de censura por, supostamente, "denunciar a corrupção".

A narrativa construída segue uma lógica muito clara e eficaz, típica de campanhas de desinformação. As mensagens não dizem exatamente o que acusam, mas organizam blocos de conteúdo que sugerem uma história sem nunca afirmá-la por completo.

Primeiro, associam Gleisi à crise do INSS com base em material antigo e sem relação direta com os acontecimentos atuais.

Depois, reforçam essa imagem com declarações supostamente recentes, como no vídeo antigo e no caso da demissão de Lupi. Por fim, transformam o deputado punido por agressão verbal em um suposto herói perseguido por "falar verdades".

É a engenharia de opinião em funcionamento. Quando se examina em detalhe os grupos monitorados pela Palver, é possível perceber como os sentimentos de indignação são cuidadosamente provocados e encadeados.

A ministra não é apenas associada à crise —ela é feita de símbolo dela. E quem a ataca, mesmo com mentiras, vira mártir. É assim que se constroem vilões e heróis no novo campo de batalha de comunicação.

Um homem em um terno escuro e gravata, segurando um microfone, está falando em um ambiente legislativo. Ele usa uma camisa branca e tem um broche verde no paletó. O homem está parcialmente coberto por uma faixa nas cores da bandeira do Brasil, que está drapeada sobre seu ombro. Ao fundo, há cadeiras vazias e uma iluminação suave.
O deputado Gilvan da Federal (PL-ES)

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domingo, 4 de maio de 2025

Guy Perelmuter O Futuro dos Negócios Opinião | Computação ubíqua, OESP

 

Foto do author Guy  Perelmuter
Atualização: 

Fundada em 1906 como a Haloid Photographic Company e renomeada na década de 1960 como Xerox (o termo deriva da palavra “xerografia”, sugerida por um linguista especializado em grego e que significa “escrita seca”), a companhia foi tão bem-sucedida que seu nome tornou-se sinônimo de fotocópia. Apesar dos avanços tecnológicos que suas copiadoras e impressoras apresentaram ao longo do tempo, é difícil não atribuir sua maior contribuição para o avanço da tecnologia na sociedade moderna ao Palo Alto Research Center, mais conhecido como Xerox PARC.

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Em 1969, o físico Jacob “Jack” Goldman (1921-2011), cientista-chefe da Xerox, apoiado pelo também físico George Pake (1924-2004), fundou o centro de pesquisas na Califórnia com o objetivo de desenvolver novas tecnologias em física avançada, ciência de materiais, e ciência da computação. A Xerox já aprimorava seus equipamentos de impressão em um laboratório em Rochester, no estado de Nova Iorque, mas o objetivo do PARC era mais amplo e ambicioso. Em 2002, o PARC foi desmembrado e tornou-se uma subsidiária integral, e em abril de 2023 foi doado para SRI International (originalmente estabelecida por curadores da Universidade de Stanford, e formalmente independente desde 1970, tratava-se de uma entidade de pesquisa sem fins lucrativos). Foi na SRI, aliás, que a mais relevante apresentação da história da computação moderna aconteceu. Durante noventa minutos no dia 9 de dezembro de 1968, o engenheiro Douglas Engelbart (1925-2013) demonstrou um novo computador que usava — pela primeira vez na história — janelas, hipertexto (a linguagem de programação da World Wide Web), mouse, videoconferência e outras características hoje em dia comuns.

As contribuições das pesquisas realizadas pelos cientistas e engenheiros que trabalhavam no Xerox PARC impressionam pela quantidade, qualidade e pelo impacto duradouro: a impressão a laser, a Ethernet, o computador pessoal moderno (inspirados pelo trabalho do SRI, com interface gráfica e mouse), a programação orientada a objetos, o papel eletrônico, e a integração em larga escala para semicondutores. Era comum o PARC receber visitantes de outras empresas ou universidades, interessados em saber quais avanços estavam sendo desenvolvidos em seus laboratórios.

Em 1979, durante uma dessas visitas, a cientista da computação Adele Goldberg (1945-) — que trabalhou por um curto período como professora da PUC-Rio após obter seu doutorado na Universidade de Chicago — recusou-se a detalhar algumas das tecnologias para um grupo de visitantes liderado por um certo Steve Jobs, por suspeitar que a Apple poderia se apropriar da tecnologia. Os superiores de Adele acabaram por instruí-la a fazer a apresentação, até porque a divisão de venture capital da Xerox havia investido cerca de US$4 milhões (em valores de hoje) na Apple, oferecendo em troca acesso ao PARC. Qual a magnitude do impacto dessa visita sobre alguns dos lançamentos revolucionários da Apple (e da Microsoft) ainda é tema discutido entre historiadores e analistas, mas é inegável a influência que aquelas ideias tiveram sobre os destinos da computação pessoal.

Atualmente, é difícil imaginar que o uso de nossos dispositivos pessoais — telefones, tablets, computadores — pode tornar-se tão simples e integrado ao nosso dia a dia quanto acender as luzes, usar uma camisa ou colocar um par de óculos
Atualmente, é difícil imaginar que o uso de nossos dispositivos pessoais — telefones, tablets, computadores — pode tornar-se tão simples e integrado ao nosso dia a dia quanto acender as luzes, usar uma camisa ou colocar um par de óculos Foto: Nilton Fukuda/Estadão

Foi no PARC que também surgiu a ideia da computação pervasiva ou computação ubíqua, proposta pelo cientista de computação Mark Weiser (1952-1999), que também era baterista de uma banda de rock experimental (e que foi a primeira a fazer uma apresentação ao vivo via Internet). Ele definiu assim o termo: “[...] Primeiro vieram os mainframes, compartilhados por várias pessoas. Agora [no final da década de 1980] estamos na era da computação pessoal, com usuários e máquinas se encarando através das telas [de computadores]. A seguir, teremos a computação ubíqua, ou a era da tecnologia calma, que irá se transformar no pano de fundo de nossas vidas”.

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Atualmente, é difícil imaginar que o uso de nossos dispositivos pessoais — telefones, tablets, computadores — pode tornar-se tão simples e integrado ao nosso dia a dia quanto acender as luzes, usar uma camisa ou colocar um par de óculos. Mas avanços recentes começam a aproximar essa ideia da realidade, e esse será o tema da nossa próxima coluna. Até lá.