terça-feira, 22 de abril de 2025

Jeff Bezos e seu ativismo de fachada, Joanna Moura, FSP

 Jeff Bezos e seu ativismo de fachada Semana passada, ao voltar de seu voo de 11 minutos no espaço, Katy Perry beijou o chão deste planeta que ela teve a chance de ver de fora. As demais mulheres a bordo demonstraram semelhante apreciação. "Você olha para baixo, vê o planeta e pensa: é de lá que nós viemos. E para mim esse é um enorme lembrete de que precisamos melhorar, precisamos fazer melhor", disse a apresentadora Gayle King, também presente na "missão" espacial.

Pena que a aparente apreciação por este corpo celeste que habitamos tenha surgido somente depois do pouso.

Estima-se que o rolê espacial de Katy e suas amigas, promovido pela Blue Origin do bilionário Jeff Bezos, tenha despejado cerca de 93 toneladas de CO₂ na atmosfera. Por passageira. Para piorar, lançamentos como esse liberam poluentes diretamente na estratosfera, onde seu efeito de aquecimento pode ser até 500 vezes mais potente do que ao nível do solo. Tudo isso por um passeio de luxo sem qualquer objetivo científico.

Katy Perry com as outras cinco mulheres que tripularam voo da Blue Origin - Divulgação

A trend de querer explorar o espaço não é nova entre os muito ricos. Richard Branson, o bilionário pop e carismático, já falava sobre turismo espacial antes mesmo de Elon Musk, o bilionário vilão cringe de novela, se tornar obcecado por povoar Marte.

A diferença entre Bezos e Musk parece ser que Bezos compareceu às aulas de marketing e vem tentando imbuir de significados os seus rolês espaciais. Ao convidar seis mulheres para passar 11 minutos em gravidade zero, Bezos traveste de feminismo o que é apenas privilégio. Segundo a Blue Origin, a viagem foi "histórica", um marco para as mulheres. Até tagline a viagem teve: as moças gritaram "Taking up space" (em português, "tomando espaço") dentro de sua área vip com vista para o planeta Terra. Afinal, o que poderia ser mais relevante para nós do que ver seis mulheres com cabelos perfeitamente ondulados, botox e preenchimentos em dia e corpos embalados a vácuo dentro de macacões de grife numa missão sem qualquer objetivo científico?

Ao aterrissar, depois de beijar o chão, Katy agradeceu à repórter que a chamou de "astronauta". Dentro dessa lógica, gostaria de afirmar que ontem voltei de viagem a bordo de um Boing 777 e portanto já posso me considerar pilota de avião.

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Piadas à parte, o voo de Bezos não tem nada de feminista, mas o marketing tenta transformar em progresso a grande futilidade que é mandar ricões (ou riconas) para o espaço por alguns minutos. E, de carona, serve como cortina de fumaça para o gigante impacto negativo que a exploração turística do espaço deixa para trás. Isso sem contar a grande perversão que é criar uma narrativa de promoção dos direitos femininos enquanto se proliferam relatos de jornadas exaustivas, assédio e discriminação contra mulheres na Amazon, empresa do mesmo Jeff Bezos.

Ironicamente, neste 22 de abril aqui na Terra é celebrado —se é que essa é a palavra a ser usada neste contexto— o Dia do Planeta Terra, data dedicada à conscientização global sobre os desafios ambientais, as mudanças climáticas e a proteção dos recursos naturais.

A viagem da Blue Origin é menos sobre o futuro das mulheres e do planeta e mais sobre o futuro de Bezos. Um futuro no qual ele continua controlando a narrativa, vendendo um feminismo de vitrine, enquanto suas empresas poluem e minam, sistematicamente, os direitos de quem não pode comprar um lugar ao sol — ou no espaço.


Quem ficou mais triste?, José Renato Nalini, OESP

 

Todos temos de nos entristecer com a partida de um homem singular, de excepcionais qualidades, que endereçou contínuas mensagens de perseverança aos homens de todo o mundo, fossem ou não católicos. Mas há pessoas para as quais a morte de Jorge Mario Bergoglio é dramática e irreparável. São os humildes do Vaticano

convidado
Por José Renato Nalini

Fiquei muito triste, abatido mesmo, com a morte do Papa Francisco. Não apenas porque foi o pontífice com quem tive maior contato e, para privilégio meu, minutos de boa conversa. Foi quando ele chamou vinte Prefeitos para relatarem, às duas Academias Pontifícias – de Ciências Exatas e de Ciências Sociais – sua experiência em relação às emergências climáticas. Integrei a comitiva do Prefeito Ricardo Nunes e todos tivemos o nosso momento de intimidade com o Papa ecológico.

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Sim, foi o Papa que escreveu “Laudato Si”, encíclica ecológica acatada pela comunidade científica, porque o Papa é um estudioso de todas as ciências, não apenas da teologia. Produziu mais dois grandes documentos para alertar a sociedade humana de que o perigo existe, está cada vez mais próximo e isso exige mudança drástica de comportamento de cada um de nós. Além de responsabilidade decuplicada para os governos.

Mas, como cristão e católico, simpatizei-me com o argentino que escolheu o “nome do milênio”, o pobrezinho de Assis que teve a coragem, no século 13, quando sequer existia o verbete “ecologia”, chamar de irmãos a água, o sol, os animais. Algo que só no século 21 ganharia força, ao se amenizar o exacerbado antropocentrismo que nos fez destruir a natureza da qual somos parte indissociável.

A simpatia foi se tornando admiração crescente, com a preocupação de Francisco pelos mais vulneráveis, com a pacificação entre as nações, com os cuidados que precisamos dispensar a este planeta, o único ainda disponível para que continuemos a existir.

A singeleza de sua vida, embora como chefe da Igreja e do menor Estado da Terra, mostrou-se exemplar quando assumiu sua fragilidade, as contingências da condição humana, não se escondeu sob os protocolos, mas se submeteu aos tratamentos, internações, cirurgias e procedimentos que em parte coincidiram com a celebração da Semana Santa.

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Sensível aos mais vulneráveis, não se esqueceu dos demais. A todos ofereceu perdão, mediante a instituição do Ano Jubilar de 2025, em cuja celebração pascal entregou a vida ao Criador. Exatamente na segunda-feira que sucede ao domingo da ressurreição e que, na Itália, é consagrada à lembrança do Anjo que anunciou às santas mulheres a ressurreição de Cristo.

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Todos temos de nos entristecer com a partida de um homem singular, de excepcionais qualidades, que endereçou contínuas mensagens de perseverança aos homens de todo o mundo, fossem ou não católicos. Enxergou, como líder universal, os perigos cada vez mais graves e mais próximos e, muito além da conclamação, ofereceu-se em sacrifício, para poupar as consequências que um adequado padrão de justiça reservaria aos agentes do mal.

Mas há pessoas para as quais a morte de Jorge Mario Bergoglio é dramática e irreparável. São os humildes do Vaticano, entregues à coragem do Cardeal polonês Konrad Krajewski. Ele era um jovem sacerdote que veio para a Corte Pontifícia quando da eleição de Karol Wojtyla, seu conterrâneo. Ali permaneceu e serviu aos dois Papas que sucederam São João Paulo II.

Francisco o chamou e perguntou qual o caminho que ele fazia para vir de sua casa para o Vaticano. Ao ser informado, o Papa indagou: - “E você acha que aprendeu a verdade evangélica?”. Pois o caminho estava povoado de moradores de rua, por cuja sorte o Papa intercedia. Konrad foi nomeado

“Esmoleiro Pontifício”, responsável por distribuir ajuda e solidariedade aos necessitados de Roma. Ele consegue alimentar, dar capacitação, encaminhar para o trabalho milhares de carentes.

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O Papa ainda o encarregou de levar mantimentos, medicamentos e recursos financeiros para os ucranianos em guerra. E o Cardeal Konrad, ainda jovem, é o encarregado de tais missões especiais. É quem celebra as missas de Natal nos territórios em conflito.

Assim como os desvalidos hoje acolhidos pela Santa Sé, o Cardeal Konrad Krajewski e sua equipe serão os mais atingidos com a partida de Francisco.

A geopolítica em retrocesso deste fatídico 2025, o agravamento das questões bélicas e das emergências climáticas, a insegurança dos esquemas ultrassecretos entregues à Inteligência Artificial generativa, que pode acabar com o mundo ou com boa parte dele mediante um clique – até por equívoco, sem intencionalidade – tornam ainda mais nefasta a morte de Bergoglio.

Que o Espírito Santo presida o Conclave e oriente os Cardeais para que que a eleição do próximo Sumo Pontífice atenda às urgências desta era tão complexa, tão ameaçada e tão carente de pessoas com as qualidades de Jorge Mario Bergoglio, o nosso inefável Papa Francisco.

Moraes critica proposta de anistia para golpistas do 8 de Janeiro: ‘Se fosse na sua casa, haveria?’, FSP

 

Ao votar nesta terça-feira, 22, para tornar réus os denunciados pela “gerência” do plano de golpe, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), criticou o projeto de anistia para os golpistas do 8 de Janeiro de 2023.

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O ministro voltou a exibir vídeos do quebra-quebra na Praça dos Três Poderes, como fez no julgamento do recebimento da denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e comparou a invasão dos prédios do STF, do Congresso e do Palácio do Planalto a invasões de domicílio.

Moraes pediu que as pessoas de “boa-fé” reflitam sobre a violência dos atos golpistas e questionou: “Se um grupo armado organizado ingressasse na sua casa, destruísse tudo, mas com a finalidade de fazer o seu vizinho mandar na sua casa, ou seja, de afastar você e sua família do comando da sua casa, com violência, destruição, bombas, você pediria anistia para essas pessoas? Se fosse na sua casa, haveria? Então por que no Brasil, na democracia, na tentativa de quebra do estado democrático de direito, tantas pessoas defendem isso?”

O deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), líder do PL na Câmara, conseguiu 262 assinaturas de apoio ao requerimento de urgência para o projeto de anistia, cinco a mais do que o mínimo necessário. Cabe ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), pautar a tramitação prioritária do projeto.

Alexandre de Moraes é o relator do inquérito do golpe e das ações penais que venham a ser abertas a partir da investigação.
Alexandre de Moraes é o relator do inquérito do golpe e das ações penais que venham a ser abertas a partir da investigação.  Foto: Foto: Antonio Augusto/STF

Moraes também rebateu os questionamentos sobre sua imparcialidade para conduzir o inquérito do golpe. As defesas alegam que ele não poderia relatar ações derivadas da investigação porque a denúncia menciona uma suposta operação para executá-lo em meio ao golpe – o Plano Punhal Verde e Amarelo e a operação Copa 2022.

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Os advogados dos denunciados tentam colar no ministro a pecha de vítima e julgador. Esse argumento tem sido rejeitado pelo STF. O tribunal trabalha com a noção de que a vítima de atos antidemocráticos é o Estado e não deve der personalizada. Além disso, há precedentes que reconhecem que situações de impedimento criadas a posteriori não geram o afastamento dos magistrados.

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Em seu voto, Alexandre de Moraes afirmou que “investigado não escolhe juiz”. “Todos aqueles que repetem incessantemente essa ladainha deveriam saber – e alguns sabem – que há um artigo expresso no Código de Processo Penal que prevê que o réu, o investigado, o indiciado não pode criar fatos supervenientes para provocar a suspeição ou provocar o impedimento do magistrado. Seria muito fácil, porque uma vez que ameaçasse um ministro, ele se daria por suspeito ou impedido, ameaçaria outro e outro, até chegar ao absurdo de nenhum dos ministros do Supremo Tribunal Federal poder analisar os fatos”, rebateu o ministro.

Moraes também explicou que a denúncia da PGR não é por tentativa de homicídio e sim pelo plano de golpe. “Aqui não se está analisando nenhuma ameaça específica à pessoa física Alexandre de Moraes, não se está analisando denúncia por tentativa de homicídio contra a pessoa física Alexandre de Moraes, mesmo que ministro, o que se está analisando é uma série de fatos encadeados pela denúncia da PGR contra a instituição democrática Poder Judiciário.”