domingo, 20 de abril de 2025

Unica: venda de etanol atinge recorde de 35,58 bi de litros no Centro-Sul, Eixos

 As vendas de etanol pelas usinas do Centro-Sul do Brasil alcançaram um recorde de 35,58 bilhões de litros na safra 2024/25 (abril de 2024 a março de 2025), crescimento de 8,42% em relação ao ciclo anterior, segundo dados divulgados pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). Apesar da retração nas exportações, o forte desempenho do mercado interno foi determinante para o resultado.

O acumulado da safra mostra alta de 16,44% nas vendas do biocombustível hidratado no mercado interno, somando 21,73 bilhões de litros. As vendas do etanol anidro no acumulado da safra chegaram a 12,18 bilhões de litros, crescimento de 4,35%.

O diretor de inteligência setorial da Unica, Luciano Rodrigues, destacou que, nos últimos 12 meses, o consumo do etanol hidratado cresceu 22,87%, enquanto o consumo total de combustíveis pela frota leve avançou apenas 2,89%. “O resultado denota um aumento na participação do etanol hidratado no consumo total, refletindo a maior oferta do biocombustível e a sua competitividade na bomba”, afirmou.

Em contrapartida, as exportações caíram de forma significativa. No total, 1,67 bilhão de litros foram enviados ao exterior na safra 2024/2025, queda de 32,80%. O recuo foi puxado pela diminuição nas vendas de etanol hidratado (-19,98%) e anidro (-49,93%).

Em março

Somente em março, as vendas totalizaram 2,90 bilhões de litros, com 153,08 milhões destinados ao mercado externo e 2,75 bilhões ao mercado doméstico. No comparativo com igual mês da safra anterior, houve queda de 4,57%. O etanol hidratado respondeu por 1,71 bilhão de litros das vendas internas no mês, recuo de 7,80% na comparação anual. As vendas de etanol anidro no mercado doméstico registraram crescimento no último mês: 1,04 bilhão de litros foram comercializados em março, alta de 10,45% em relação ao mesmo mês do ano anterior.

Mercado de CBIOs

No mercado de Créditos de Descarbonização (CBios), a Unica destacou o avanço na emissão e aposentadoria de títulos. Segundo dados da B3 até 8 de abril, foram emitidos 11,76 milhões de CBios em 2025. A quantidade de créditos disponíveis para negociação totaliza 22,36 milhões, e, somando com os já aposentados, o setor já disponibilizou quase 60% da meta exigida para este ano.

Atualmente, 288 unidades produtoras de etanol, 4 de biometano e 38 de biodiesel estão certificadas no RenovaBio, programa federal que regula o mercado de CBios. Segundo a entidade, essas 332 unidades representam mais de 90% da produção nacional de biocombustíveis.

Por Leandro Silveira

Por que temos que congelar o valor real do salário mínimo, Samuel Pessoa, FSP

 

Arminio Fraga, em um evento em Harvard, afirmou que teremos que congelar o valor real do SM (salário mínimo) por seis anos. Isto é, elevar o SM apenas de acordo com a inflação. A afirmação é polêmica e gerou inúmeras reações.

O SM tem dois papéis. Primeiro, ele é a remuneração mínima para um trabalhador com contrato de trabalho formal regido pelas regras da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Segundo, ele é o valor mínimo para o benefício de diversas políticas sociais, como o mínimo pago pela Previdência Social e o BPC (Benefício de Prestação Continuada).

Como indexador da remuneração mínima do contrato de trabalho CLT, não há grandes problemas. Ele pode ser reajustado sem grandes efeitos colaterais. Evidentemente, se o valor fixado for muito maior do que a produtividade de um trabalhador desqualificado, as empresas não vão topar pagar e haverá o efeito colateral de estimular a informalidade.

Um homem com barba e cabelo curto, vestindo um paletó escuro e uma camisa branca, está sentado em uma cadeira. Ele segura um papel na mão e parece estar em um evento ou palestra, com um fundo neutro e uma parede clara ao fundo.
Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central - Rivaldo Gomes/Folhapress


No entanto, como indexador do valor mínimo do benefício de diversos programas sociais, há o efeito colateral de aumentar o déficit público. O grande problema é que a dívida pública está em trajetória explosiva, o que coloca em risco a estabilidade da economia.

Se houver elevação do valor real do SM, todas as políticas públicas a ele vinculadas crescerão mais do que a economia. O déficit público aumentará. Em algum momento haverá uma crise profunda, como tivemos de 2014 até 2016, e os ganhos para os mais pobres serão perdidos. Enquanto a dívida pública estiver em trajetória explosiva, os aumentos do SM terão que ser em função da inflação passada e teremos que mudar o indexador do gasto mínimo da União com saúde e educação.

O historiador e jornalista Eduardo Bueno, conhecido por Peninha, autor de excelentes livros de história do Brasil, que tem um canal de divulgação de nossa história, o canal Buenas Ideias, agrediu pesadamente Arminio Fraga por conta da opinião de que temos que congelar o valor real do mínimo por alguns anos. Para Peninha, Arminio é desprezível, repugnante, repulsivo e escroto.

Arminio é dos melhores economistas que o país tem. Ficou rico com uma carreira de muito sucesso no setor privado. Teve algumas passagens muito exitosas no setor público. Foi um dos principais responsáveis pela construção do arcabouço de política macroeconômica que propiciou os ganhos econômicos e sociais dos oito anos da presidência de Lula nos anos 2000. Hoje, além da atividade privada, dirige e financia uma organização com foco na busca de políticas públicas que melhorem a saúde pública do Brasil e outra que investiga a mobilidade social no país, entre outras inúmeras iniciativas.

Difícil imaginar uma pessoa mais preocupada com o desenvolvimento econômico e social do Brasil do que Arminio Fraga.

Ademais, infelizmente Peninha não fez a lição de casa. No vídeo, afirmou que o salário mínimo no governo FHC caiu 4,82%. Segundo meu colega do FGV IBRE Manoel Pires, que foi secretário de Política Econômica no segundo mandato de Dilma Rousseff, quando Nelson Barbosa era ministro, o ganho real do salário mínimo nos oitos anos de FHC foi de 40%, ante 47% no governo Lula.

Vivemos uma situação fiscal gravíssima. O risco de perdemos a estabilidade de preços, tão duramente construída, é real. Que um historiador e jornalista de relevo demonstre tanta agressividade, grosseria e intolerância documenta que perdemos há tempos a civilidade.

Harvard prova que academia pode ser grande de novo, Marcelo Leite, FSP

 Imagine a situação: Kamala Harris assume a Presidência dos EUA e passa a pressionar universidades para que disciplinem estudantes judeus, impedindo que enverguem quipás e talits, ou que qualquer aluno exponha a bandeira de Israel, mesmo na janela de seu dormitório.


A justificativa fictícia seria que tais símbolos equivalem a apoiar o genocídio na Faixa de Gaza e constituem agressão contra estudantes palestinos e árabes em geral, que se sentiriam assim ameaçados. Em caso de resistência das reitorias, a presidente cortaria verbas de pesquisa e ensino que a Casa Branca lhes destina.

É bem esse absurdo que Donald Trump está perpetrando contra a academia norte-americana, com sinais trocados. Alega, contra a Primeira Emenda da Constituição, que usar keffiehs ou mostrar bandeiras palestinas ameaça a segurança de judeus no campus. Conseguiu pôr Columbia de joelhos, mas não Harvard, que brilhou nesta hora da verdade.

A imagem mostra um grupo de pessoas participando de um protesto. Algumas pessoas estão segurando cartazes com a mensagem "HANDS OFF! HARVARD". Um dos cartazes é de cor marrom com letras brancas e vermelhas. Também há uma bandeira dos Estados Unidos sendo segurada por uma das pessoas. O ambiente parece ser ao ar livre, com árvores ao fundo e um céu nublado.
Manifestantes no campus de Harvard em Cambridge, Massachusetts, pedem que a universidade resista ao governo federal - Nicholas Pfosi - 12.abr/REUTERS


Cabe aqui um alerta: fui Nieman Fellow da universidade, na turma de 1998. Usufruí do que os EUA têm de melhor, debate livre de boas ideias e ciência feita com recursos inimagináveis no Brasil. Tais bênçãos nunca impediram de ver que esse país tem outra face, suja, feia e malvada, como a exibida por Trump.

O reitor de Harvard, Alan Garber, de início não posou de galo. Declarou-se aberto a trabalhar com o governo para combater antissemitismo, mas protegendo a comunidade e a liberdade acadêmica. Tomou uma invertida de Trump, que escalou as exigências, como submeter a auditoria governamental todas as contratações e matrículas ou delatar estudantes "hostis a valores e instituições americanas".

A reitoria respondeu com uma carta de seus advogados William Burck e Robert Hur, respeitados conservadores, apontando que tais demandas feriam a Primeira Emenda. "Harvard não está preparada para concordar com exigências que vão além da autoridade legal desta ou qualquer outra administração."

Trump então congelou US$ 2 bilhões (R$ 11,75 bilhões) dos US$ 9 bilhões (R$ 52,9 bilhões) em fundos federais previstos para a instituição. A título de comparação, foi de R$ 8,6 bilhões o orçamento de 2024 para toda a USP, a primeira universidade da América Latina em alguns rankings, uma das 200 melhores no mundo.

A dotação (endowment) de Harvard é de US$ 53,2 bilhões (R$ 312,5 bilhões), fundos próprios superiores aos PIBs de países como Portugal e Peru. Tem bala na agulha para enfrentar a tirania de Trump. Se não fosse ela para liderar a reação, que outra universidade se arriscaria?

Tudo que o presidente laranja de Elon Musk faz nesses casos é ilegal e imoral. Sob o pretexto orwelliano de defender direitos civis em instituições de ensino, Trump desrespeita as provisões da legislação sobre isso (Título VI). Precisaria promover audiências, comprovar formalmente não conformidades de programas específicos e enviar ao Congresso relatório expositivo 30 dias antes de suspender verbas.

O valentão da Casa Branca não fez nada disso. Harvard, que não nasceu ontem, mas em 1636, não se limitou a lhe enviar uma carta altiva e foi a Wall Street atrás de US$ 775 milhões (R$ 4,4 bilhões) em empréstimos. Falou na língua que ele entende, a do dinheiro grosso.