quarta-feira, 16 de abril de 2025

Viajar aos EUA está perigoso, Conrado Hübner Mendes, FSP

 Antes de voar para os EUA, faça o teste:

Já escreveu crítica a Donald Trump em rede social? Mandou chacota sobre Elon Musk pelo WhatsApp? Participou de evento sobre mudança climática? De mesa redonda sobre educação e direitos humanos?

Defendeu diversidade em empresas e universidades? Sugeriu contratação preferencial de mulheres e negros? É empresário engajado em temas de justiça e desenvolvimento?

É cientista, jornalista ou ativista? Compartilhou post crítico à intensidade do ataque de Israel a Gaza? Tirou foto da faixa "Black Lives Matter"? Foi para as ruas contra a brutalidade policial?

É estudante universitário? Tem amigo que expõe opiniões políticas em universidade dos EUA? Leva na mala livro banido das bibliotecas públicas e escolares? "Mein Kampf", de Hitler, pode. "Abolition Democracy", de Angela Davis, não.

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Se respondeu um sim qualquer, recomenda-se estratégia. Se respondeu apenas não, se for cordato e de aparência aprazível ao agente de imigração, seu risco é ligeiramente menor. Depende da lua e do que a autoridade comeu no café da manhã.

Um homem de cabelo claro, vestindo um terno azul e uma gravata vermelha, está descendo as escadas de um avião. O céu ao fundo está nublado.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desembarca do avião presidencial em Miami - Kent Nishimura - 3.abr.25/Reuters

Se votou em Jair, participou da marcha para o golpe em 8 de janeiro, se tem fotos consumindo popcorn ou ice cream dentro do palácio depredado enquanto pedia morte de Alexandre de Moraes, não se deixe enganar.

Mas se confia em estatística, pode ir sereno. Porque, estatisticamente, o risco ainda é baixo.

Nada mais é como antes. Até portadores de green card têm sofrido detenções e deportações. Não importa o status do seu visto ou a beleza da sua pele branca, o agente de imigração está autorizado a vetar sua entrada. Só não está autorizado, ainda, a te mandar para El Salvador ou Guantánamo. Para isso há uma burocracia.

Parece exagero, mas o exagero virou questão de probabilidade.

Desde que a Casa Branca publicou a ordem "Protegendo o povo americano contra invasão", o guarda da esquina entrou em estado de gozo permanente. Os agentes de aplicação física da lei sentem-se empoderados pelo autocrata. Autorizados a descumprir a lei para agradar ao autocrata. A se comunicar por telepatia com o autocrata.

Arbitrariedade suplantou controles básicos do exercício da autoridade. Regras de direito substituídas por emoções primárias, fidelidade à lei por fidelidade a Trump.

Nesse regime, previsível é a imprevisibilidade. Tudo é possível, até mesmo entrar com tranquilidade. Território de aeroporto sempre foi zona de transição onde o Estado de Direito tem dificuldade em chegar. Onde o estrangeiro está mais vulnerável à torpeza autoritária.

Todo sabichonismo político falhou no cálculo do que Trump reeleito seria capaz de fazer. Subestimar o autocrata é uma arte sabichona. Chamar alerta político de "alarmismo" é uma arte sabichona. Usar crachá de ciência social para dar um chute no escuro, com pose de cientista, é uma arte sabichona. Artistas sabichões, vestidos de comentaristas, permanecem influentes lá e aqui.

Apague os registros do seu passado. Obedeça e se comporte na roleta russa. Você está tentando entrar no país da liberdade.

Se, afinal, entrar, atenção aos riscos sanitários. O país está abolindo programas de vacinação, bases de dados epidemiológicos e pesquisas. Sarampo voltou a matar. A política pública que sobrar estará de olhos vendados.

"Travessia perigosa, mas é a da vida", disse o Riobaldo, de Guimarães Rosa. Boa viagem.

Ex-chefe do Choque é anunciado como novo comandante-geral da PM de São Paulo, FSP

 Rogério Pagnan

São Paulo

O Governo de São Paulo anunciou a troca no comando da Polícia Militar, na noite desta quarta-feira (16).

Conforme antecipado pela Folha, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) nomeou o coronel da PM José Augusto Coutinho como o novo comandante-geral da corporação. Ele substitui o coronel Cássio Araújo de Freitas, que estava à frente da PM desde janeiro de 2023.

Nos bastidores, a gestão Tarcísio de Freitas se preparava para a saída de Cássio do comando da PM e o mais cotado para assumir o cargo já era Coutinho. Ele foi comandante do Choque e atualmente era o subcomandante da Polícia Militar, a segunda posição na hierarquia da corporação.

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Governador Tarcísio de Freitas e secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, durante solenidade na Rota - Danilo Verpa - 15.out.24/Folhapress

Apontado como alguém próximo do secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, Coutinho é bem-visto dentro da tropa da PM.

O coronel Coutinho é formado em educação física e tem doutorado em ciências policiais de segurança. Nos 33 anos de Polícia Militar passou por Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), chefia do Estado-Maior da PM, além do Choque.

O secretário Guilherme Derrite já havia feito trocas na cúpula da Polícia Militar, no começo do ano passado. As mudanças, publicadas no "Diário Oficial", incluíram a exoneração do então número 2 da corporação, o coronel José Alexander de Albuquerque Freixo, que deu lugar justamente a Coutinho.

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Ao todo, na época, foram movimentados 34 coronéis, de um total de 63, o que atingiu todos os setores da PM.

A medida enfraqueceu o comandante-geral da PM, Cássio Araújo de Freitas, e revoltou grande parte dos oficiais superiores da corporação.

As mudanças do ano passado geraram revolta entre oficiais, entre outros motivos, devido a forma como foram feitas.

Os oficiais mais prejudicados afirmaram que ficaram sabendo das movimentações pelo "Diário Oficial", algo considerado desrespeitoso no trato com quem está em função de comando e vem se dedicando à PM há décadas.

O sentimento de insatisfação com a nova mudança permanece. A impressão de um grupo de oficiais é de que Derrite tem privilegiado pessoas próximas nas decisões sobre quem irá ocupar os cargos na cúpula da PM, ao invés de observar os oficiais com maior conhecimento na corporação ou que pudessem dar maior contribuição para a segurança pública do estado.

A troca de comando ocorre em um momento no qual a gestão Tarcísio segue sendo criticada pelo número de casos de violência policial ocorrido nos últimos meses, muitos deles, registrados em câmeras de segurança ou por celulares.

De acordo com o governo paulista, com a nomeação de Coutinho, o cargo de subcomandante da Polícia Militar será ocupado pelo coronel Erick Gomes Bento, atual chefe do gabinete do Comando Geral da PM.