sexta-feira, 14 de março de 2025

Resolução desburocratiza execução extrajudicial de veículo, FSP

 Arthur Mendes Lobo

Sócio-fundador do escritório Wambier, Yamasaki, Bevervanço e Lobo Advogados

Resolução Contran nº 1.018, publicada em 23 de janeiro de 2025, introduz importantes avanços no procedimento de execução extrajudicial de veículos adquiridos por meio de contratos de alienação fiduciária. A referida norma tem como objetivo principal desburocratizar e tornar mais célere o processo de recuperação de veículos pelos credores em casos de inadimplência por parte dos devedores, atendendo à crescente demanda por maior eficiência e segurança jurídica nessas operações.

A alienação fiduciária de veículos é uma modalidade contratual em que o bem, enquanto financiado, serve como garantia da dívida. Nessa relação, o credor —geralmente uma instituição financeira— mantém a propriedade do veículo até que o devedor quite integralmente a obrigação. Em caso de inadimplência, o credor possui o direito de recuperar o bem como forma de satisfazer a dívida pendente.

Com a regulamentação do procedimento pela Resolução nº 1.018/2025, o processo de execução extrajudicial foi detalhadamente estruturado para garantir maior eficiência e respeito aos direitos de ambas as partes.

A imagem mostra uma rodovia com vários veículos em movimento. Há carros de diferentes cores, incluindo um carro vermelho e um caminhão verde. A estrada é larga, com várias faixas, e há um gramado à direita. O céu está claro e a iluminação sugere que é de manhã.
Rodovia dos Bandeirantes (SP) - Zanone Fraissat/Folhapress

Primeiramente, o contrato deve conter uma cláusula específica que permita a execução extrajudicial, e o credor precisa comprovar o inadimplemento do devedor. Em seguida, é necessário que o devedor seja devidamente notificado, preferencialmente por meios eletrônicos, ou, caso não haja confirmação, por correio. Esse procedimento concede ao devedor o prazo de 20 dias para regularizar sua situação, seja por meio do pagamento da dívida, contestação do procedimento ou entrega voluntária do veículo.

Caso o devedor não tome providências no prazo estipulado, o credor pode iniciar o procedimento de busca e apreensão extrajudicial. Nessa etapa, o credor solicita ao órgão de trânsito competente a emissão de uma certidão de busca e apreensão, além da inclusão de restrições no Renavam para impedir a circulação ou transferência do veículo.

A apreensão, por sua vez, deve ser realizada respeitando horários comerciais e normas de acesso a locais privados, garantindo a observância de critérios de civilidade e proporcionalidade. Após a recuperação do veículo, o credor pode solicitar a consolidação da propriedade e a emissão de um novo Certificado de Registro de Veículo (CRV) em seu nome. Contudo, o devedor ainda tem um prazo de cinco dias úteis para pagar a dívida e reverter a consolidação da propriedade, assegurando-lhe um último recurso antes da transferência definitiva do bem.

A Resolução também traz inovações relevantes, como a introdução de empresas registradoras especializadas para intermediar o processo e o uso de notificações eletrônicas para maior agilidade. Além disso, a inclusão de restrições no Renavam e a possibilidade de apoio policial em situações que envolvam resistência do devedor reforçam a segurança e a eficácia do procedimento.

Para os credores, a regulamentação representa diversos benefícios. O processo ganha agilidade, evitando os longos trâmites judiciais normalmente necessários em ações de busca e apreensão. Os custos operacionais também são reduzidos, já que a execução extrajudicial dispensa o ajuizamento de ações, permitindo que o credor administre todo o procedimento diretamente por meio das empresas registradoras. Adicionalmente, a Resolução contribui para a prevenção de fraudes, dificultando a transferência ou circulação irregular de veículos inadimplentes.

Com essa nova regulamentação, o Contran moderniza a execução extrajudicial de veículos adquiridos em contratos de alienação fiduciária, oferecendo um modelo que equilibra eficiência e segurança jurídica. A norma simplifica o procedimento de recuperação do bem, ao mesmo tempo em que garante o respeito aos direitos dos devedores por meio de prazos adequados e notificações claras. Ao integrar empresas especializadas e órgãos de trânsito, a Resolução nº 1.018/2025 se destaca como um marco regulatório que promove maior equilíbrio e funcionalidade nas relações de crédito.

Em suma, a Resolução Contran nº 1.018/2025 regula o procedimento de execução extrajudicial de veículos adquiridos por meio de contratos de alienação fiduciária e visa desburocratizar o processo, permitindo que credores recuperem veículos de forma mais célere em caso de inadimplemento do devedor.


A primeira greve que abalou o Brasil, FSP

 

São Paulo

O prédio está localizado na confluência das ruas dos Trilhos, Taquari, Javari e Visconde de Laguna, na Mooca. Sua parte externa está preservada e o interior se tornou um supermercado Assaí Atacadista. Ele é feito de tijolos e tem janelas amplas. É uma construção portentosa que se destaca na região

Nesse lugar funcionou o poderoso Cotonifício Crespi, do empresário Rodolfo Crespi, fundador do Juventus. Ali também eclodiu a primeira greve geral de que se tem notícia no Brasil quando 400 funcionários e funcionárias da empresa cruzaram as mãos e dispararam uma reação em cadeia.

Foi uma greve de verdade que se espalhou por todos os bairros operários, como o Brás e o Cambuci, e interrompeu as atividades das fábricas da cidade. Mobilizou dezenas de milhares de trabalhadores. Espalhou-se por combustão espontânea e foi incentivada por anarquistas e comunistas, que ganhavam cada vez mais força no movimento operário local. Em geral, esses militantes eram italianos e espanhóis.

A imagem mostra a fachada de um edifício de tijolos vermelhos com grandes janelas. À frente do edifício, há uma rua onde vários carros estão estacionados, incluindo um carro preto, um carro branco e uma van. O céu está claro e há algumas árvores visíveis ao fundo.
Prédio do antigo cotonifício Crespi: epicentro da greve que se alastrou pela cidade em 1917

Os trabalhadores reivindicavam maiores salários, e extinção do trabalho noturno e benefícios básicos, como o atendimento à saúde. Também exigiam o fim do trabalho infantil, que era contratado em condições aviltantes e concorria com o emprego do pai de família. Mas os patrões permaneciam inflexíveis. O trabalho de menores de 14 anos só foi proibido no país em 1934.

O fato detonador da greve geral foi a morte do jovem anarquista espanhol José Martinez. Já havia grande insatisfação popular e só faltava um pretexto. O sapateiro protestava com outros operários na porta da tecelagem Mariângela, no Brás, quando foi assassinado pela polícia.

No dia seguinte houve um enterro com grande comoção pública no cemitério do Araçá e a greve tinha sido deflagrada. A partir do Cotonifício Crespi, onde havia uma maioria de mão de obra feminina, o movimento tomou a cidade durante vários dias, fala-se até em um mês. As multidões ocupavam as ruas. Houve um grande comício no antigo hipódromo da Mooca que abriu o movimento.

A imagem mostra duas janelas grandes com arcos na parte superior, permitindo a entrada de luz natural. Através das janelas, é possível ver um ambiente urbano com prédios altos e árvores. O céu está parcialmente nublado, e há uma variedade de edifícios visíveis, incluindo alguns de vários andares.
Janelas do prédio do Cotonifício Crespi: condições de trabalho degradantes

Houve também violência: estabelecimentos comerciais saqueados, incêndios de bondes e outros veículos e colocação de barricadas para conter a polícia. As massas enfrentaram as forças de segurança em pé de igualdade.

A greve de 1917 foi muito traumática para os patrões. Nenhum deles esperava uma adesão maciça capaz de parar a cidade e deixar as fábricas vazias.

Como resultado do movimento, os empresários deram um aumento imediato de salário para os trabalhadores e prometeram estudar as demais exigências. Nessa greve, o movimento operário foi reconhecido pela primeira vez como instância de negociação através do Comitê de Defesa Proletária. Por outro lado, começou uma perseguição policial implacável aos anarquistas e outros contestadores.

A imagem mostra a fachada de uma loja chamada Assaí Atacadista. O prédio é de tijolos expostos e possui janelas grandes. Na frente, há três veículos estacionados: um carro preto, uma caminhonete branca e uma van. O letreiro da loja é azul com letras brancas e amarelas, destacando o nome 'ASSAÍ ATACADISTA'.
Fachada do prédio hoje convertido em loja do Assaí Atacadista na esquina da rua Javari

As notícias da greve em São Paulo se espalharam pelo Brasil e provocaram paralisações em vários estados, especialmente no Rio Grande do Sul, no mesmo ano, e no Rio de Janeiro, em 1918. O clima entre os operários, principalmente entre os comunistas, era de grande euforia por causa da Revolução Russa.

O prédio do Cotonifício Crespi tem longa história. Inaugurado em 1897, ele foi bombardeado em 1924 na Revolta Paulista e teve suas atividades interrompidas. Durante a Revolução Constitucionalista de 1932, o maquinário e a mão de obra da fábrica foram usados para fazer as roupas dos soldados. O cotonifício também abasteceu o exército italiano de roupas na Segunda Guerra Mundial.


Ouro atinge US$ 3.000 pela primeira vez devido a temores sobre crescimento global, FSP

 O ouro disparou para um recorde acima de US$ 3.000 (cerca de R$ 17.204) por onça troy, à medida que os temores sobre a ameaça ao crescimento global pela guerra comercial de Donald Trump levam investidores a buscar o metal como refúgio seguro.

O preço do ouro subiu para US$ 3.004 (cerca de R$ 17.227) por onça troy nas negociações iniciais desta sexta-feira (14). O ouro tem sido um dos ativos de melhor desempenho no mundo desde que Trump assumiu o cargo em janeiro, e subiu 14% desde o início do ano.

A imagem mostra várias barras de ouro empilhadas. As barras têm um acabamento brilhante e são marcadas com a pureza '999.9'. O fundo é escuro, destacando o brilho do ouro.
Analistas esperam que preço do ouro suba ainda mais até o final de 2025 - David Gray - 5.ago.20/AFP

As políticas tarifárias voláteis do presidente dos Estados Unidos geraram preocupações de que uma guerra comercial global alimentará a inflação e causará uma desaceleração econômica nos EUA, fazendo com que as ações de Wall Street entrem em correção e aumentando o apelo do ouro.

Expectativas de cortes nas taxas de juros pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) também impulsionaram o ouro, que como um ativo sem rendimento geralmente se beneficia de custos de empréstimo mais baixos.

"Tanto investidores institucionais quanto privados estão recorrendo ao ouro para proteger seus portfólios contra turbulências econômicas", disse Alexander Zumpfe, negociante sênior de metais preciosos na Heraeus.

"O mercado físico de ouro está experimentando uma forte demanda" porque os metais preciosos são valorizados como proteção contra crises econômicas, acrescentou.

Os últimos grandes marcos de preço do ouro foram durante a crise financeira, quando ultrapassou US$ 1.000 (R$ 5.734) por onça troy em março de 2008 —e durante a pandemia de Covid-19, quando os preços atingiram US$ 2.000 (R$ 11.469) em agosto de 2020.

Preocupações de que Trump possa impor tarifas sobre o ouro levaram a um aumento sem precedentes de barras de ouro em Nova York, onde os estoques na Comex atingiram níveis recordes.

Desde que Trump foi eleito, mais de US$ 70 bilhões (R$ 401,4 bi) em ouro foram transportados para Nova York, embora esse fluxo tenha começado a desacelerar recentemente.

O aumento inesperado nos preços do ouro este ano fez com que bancos de investimento corressem para revisar suas previsões de preço. Pelo menos quatro bancos —Citibank, Goldman Sachs, Macquarie e RBC— elevaram suas previsões nas últimas semanas.

O aumento acima de US$ 3.000 significa que o ouro subiu quase dez vezes desde 2000, superando os principais índices de ações.

O ouro é a classe de ativos de melhor desempenho do século 21 até agora

Adrian Ash

diretor de pesquisa da plataforma de negociação de ouro BullionVault

Desde o início do milênio, o ouro se beneficiou de choques de mercado como a crise financeira de 2008 e o voto do Brexit no Reino Unido em 2016, bem como do aumento dos conflitos geopolíticos, disse ele.

"Essa foi a mudança de paradigma para o ouro, aquela confiança que a democracia ocidental tinha há 25 anos foi absolutamente destruída", disse Adrian Ash, da BullionVault.

O aumento do ouro nos últimos anos também foi impulsionado pela demanda de bancos centrais à medida que diversificam suas reservas para longe do dólar americano. Bancos centrais, principalmente em mercados emergentes, compraram mais de 1.000 toneladas de ouro anualmente nos últimos três anos consecutivos.

John Ciampaglia, CEO da Sprott Asset Management, disse que os crescentes níveis de dívida governamental foram um dos maiores fatores impulsionando o desempenho do ouro desde o início do milênio.

"Os níveis globais de dívida explodiram nos últimos 25 anos, eles estão começando a realmente pesar sobre as economias e orçamentos", disse Ciampaglia. "É por isso que o ouro se provou como uma reserva de valor, não apenas nos últimos 25 anos, mas nos últimos 5.000 anos, porque pode manter seu valor em relação às moedas tradicionais."

O impulso do ouro sugere que os preços provavelmente subirão ainda mais este ano, de acordo com Michael Haigh, analista de commodities da SocGen, que prevê um preço de US$ 3.300 (R$ 18.925)por onça troy até o final do ano.