sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Por um ‘superteto’ para quando o período do arcabouço terminar, OESP

 

Foto do author Fabio Giambiagi

Entre 2020 e 2024, a despesa do Fundeb terá aumentado a uma taxa real acumulada de 141,8%. Em outras palavras, 24,7% de crescimento anual, num período em que a economia terá crescido 3,4% ao ano. Como isso foi possível, num contexto de restrição fiscal? Resposta: a restrição estava “fora do teto”.

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Por isso, da reflexão acerca do ocorrido com o “teto de gastos” de Michel Temer de 2016/2022 e do “arcabouço fiscal” de Lula de 2024 (o ano de 2023 foi uma transição de regras) começa a decantar a conclusão de que as exceções ao teto precisam acabar.

Esta questão é muito importante, porque nove de cada dez especialistas na temática fiscal consideram que a regra do arcabouço não sobreviverá a 2027. É desejável, portanto, que haja um debate público prévio de qualidade acerca do que colocar no lugar da regra atual.

A questão contempla diversas nuances que não há espaço para abordar em detalhes, mas um ponto crítico se refere à abrangência da regra. Nesse sentido, a sugestão aqui feita é que a restrição abarque todas as despesas primárias da União, deduzidas as transferências aos governos subnacionais que são subtraídas da receita bruta para chegar ao conceito de receita líquida do governo central na forma padrão de divulgação do resultado fiscal por parte da Secretaria do Tesouro Nacional. Evidentemente, também ficariam de fora os créditos extraordinários, com um detalhe a ser explicado daqui a pouco.

Ministério da Fazenda propôs o atual arcabouço, que não deve durar além de 2027
Ministério da Fazenda propôs o atual arcabouço, que não deve durar além de 2027 Foto: André Dusek / Estadão

Como funcionaria a regra? O total da despesa prevista para 2024, com exceção dos créditos extraordinários, é de R$ 2.210 bilhões. Digamos, por hipótese, que a inflação correspondente ao indexador a ser adotado fosse 4,40%. Nesse caso, o valor de referência da despesa para 2025 seria de 2.210 x 1,044 = R$ 2.307 bilhões. A esse número se adicionaria o plus real decorrente da regra a ser adotada. Assim, quaisquer pressões por mais gastos teriam que ser compensadas pela redução de outros, princípio saudável para dar realismo ao debate sobre as prioridades das políticas públicas.

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Resta a questão de como limitar o valor dos créditos extraordinários para não vulgarizar o instrumento. Minha proposta é definir uma regra para isso: i) até um montante total anual de 0,2% do valor do teto (grosso modo, em torno de R$ 5 bilhões), isso poderia ser por MP; ii) se o valor for maior que isso, até 0,5% do valor do teto, os créditos terão que ser por projeto de Lei; e iii) acima disso, só por Lei Complementar. Bom debate a todos.

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Opinião por Fabio Giambiagi

Economista, formado pela FEA/UFRJ, com mestrado no Instituto de Economia Industrial da UFRJ

Lula e Bolsonaro se unem para eleger um mesmo candidato e ensinam que a política não é para amadores, OESP

 

Você é daqueles que não topa com o PT, o petismo e sua maior estrela, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva? Ou está entre os que não suportam bolsonaristas, bolsonarismo e o próprio Jair Bolsonaro? Esteja do lado que estiver, saiba que os dois grupos estão juntos agora. E vão ficar assim até que seja eleito o próximo presidente da Câmara dos Deputados. Traduzindo: Lula e o PT, Bolsonaro e seu PL, todos apoiam um mesmo candidato.

O anúncio com destino comum dos votos dos deputados de ambos os grupos foi anunciado na última quarta-feira, 30. PT e PL estão abraçados ao nome do deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) para assumir o posto de presidente da Câmara quando o atual ocupante do cargo, o deputado Arthur Lira (PP-AL), terminar sua gestão no início de 2025.

O presidente Lula e o ex-presidente Bolsonaro apoiam mesmo candidato à presidência da Câmara. Fotos: Wilton Junior / Estadão
O presidente Lula e o ex-presidente Bolsonaro apoiam mesmo candidato à presidência da Câmara. Fotos: Wilton Junior / Estadão Foto: Wilton Junior/Estadão

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Ver Lula e Bolsonaro juntos no palanque de mesmo candidato seria inacreditável se a política fosse arena para amadores. Não é. No mundo que os dois circulam o que anda valendo são gestos calculados com motivações claras. O atual e o ex-presidente têm interesses diversos, obviamente, mas que resultam numa confluência conjuntural que os leva a bancar o nome de Motta, ungido pelo atual presidente da Câmara.

Lula depende de certa cortesia e diálogo com quem ocupa a direção da Casa Legislativa. Os atos de governo que pretende empreender dependem da concordância do deputado que estiver no posto máximo da Câmara que tem o poder de por para votar ou deixar na gaveta qualquer projeto.

Do mesmo modo, Bolsonaro também quer na cadeira alguém que não seja governista raiz e que faça andar os temas que lhe interessam. O prioritário é o projeto que o anistia e restitui seu direito de disputar uma eleição. Até onde se sabe, esse ponto foi colocado na mesa como condição para o PL apoiar o candidato de Lira.

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Reforça essa indicação o fato de Bolsonaro, até aqui, ter reagido com inusitada calma e tranquilidade ao fato de que o projeto da anistia, prestes a ser votado em uma comissão da Câmara, teve sua apreciação adiada por Lira. Mesmo assim, o ex-presidente declarou não se opor.

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Já Lula, poder-se-ia acreditar, seria frontalmente contrário a um acordo para anistiar o antecessor que flertou com golpe e chegou a rascunhar minuta para anular as eleições. Mas, até onde se vê, o círculo petista não parece mobilizado ou se importar com o tema publicamente. Afinal, esse não é um problema que hoje diz respeito à gestão petista nem afeta o modo como governa.

Num livre pensar, haverá quem cogite que o presidente não descarta um eventual retorno de Bolsonaro às urnas na próxima eleição para ter como oponente um adversário já conhecido e derrotado. Melhor ir contra o sabido do que a um desconhecido embate.

Enquanto 2026 não chega, Lula e Bolsonaro se unem por Hugo Motta. A façanha acaba dando diploma de PHD em política profissional a um quarto personagem: Arthur Lira que vai saindo de cena dando as cartas e indicando para onde a Câmara deve seguir.

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Opinião por Francisco Leali

Coordenador na Sucursal do Estadão em Brasília. Jornalista, Mestre em Comunicação e pesquisador especializado em transparência pública.

Educação midiática contra a desinformação, FSP

 Em tempos de sobrecarga informacional, a educação midiática torna-se fundamental para capacitar cidadãos a navegar em um ambiente repleto de dados, desenvolvendo a habilidade de filtrar, interpretar e compartilhar informações de maneira crítica. Infelizmente, a democratização do acesso a conteúdos online também abre espaço para a proliferação de desinformação e expõe a urgência de diferenciar fatos verídicos daqueles que sofreram manipulações.

A educação para o consumo crítico de mídia é, portanto, essencial para a formação de uma sociedade bem informada, que valorize a Ciência e a Tecnologia, defenda o jornalismo de qualidade e fortaleça as bases democráticas.

silhueta de uma pessoa rodeada por pequenos fragmentos de antenas e jornais
SoU_Ciência - Meyrele Nascimento

A desinformação circula com rapidez nas redes sociais, impulsionada por conteúdos apelativos que, ao explorar aspectos emocionais e simplificar temas complexos, captam a atenção de um público acrítico mais facilmente. Muitas vezes, essas narrativas carregam um viés extremista e concorrem com informações científicas que, para serem compreendidas, demandam um certo esforço para interpretação.

Diante desse cenário, iniciativas como a Semana Brasileira de Educação Midiática, promovida pelo Governo Federal em parceria com a Unesco e outras entidades, são vitais para fortalecer as habilidades midiáticas como um pilar para a sociedade. Durante o evento, que ocorre esta semana, debates e atividades envolvem escolas, universidades, profissionais de mídia e o público em geral para discutir a importância dessa formação no combate à desinformação e no fortalecimento da cidadania. Especialmente em um contexto urgente, no qual as fake news afetam os processos democráticos no Brasil e no mundo, ações como essa têm papel crucial.

Esse tipo de formação se faz ainda mais relevante durante períodos eleitorais, quando o ambiente digital é intensamente afetado por campanhas de desinformação e mensagens manipuladoras destinadas a influenciar a opinião pública. Cidadãos com maior preparo conseguem identificar e questionar informações distorcidas e enviesadas, evitando a manipulação por interesses específicos. E esse preparo contribui para escolhas políticas mais conscientes e autônomas, permitindo que eleitores analisem de maneira crítica as propostas dos candidatos e identifiquem estratégias desonestas de persuasão disseminadas inclusive por agentes políticos, como no episódio recente envolvendo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

Outro aspecto essencial é o impacto do senso crítico midiático na valorização da Ciência, especialmente em um contexto de crises sanitárias e mudanças climáticas, pois, ao incentivar a busca por fontes confiáveis e favorecer a valorização do método científico, ajuda a combater narrativas pseudocientíficas e teorias conspiratórias que ameaçam o bem-estar coletivo. Ao desenvolver uma consciência sobre a importância da Ciência e seu papel na sociedade, as pessoas podem demandar e/ou apoiar o desenvolvimento de pesquisas e a formulação de políticas públicas baseadas em dados e evidências, o que contribui para decisões mais eficazes e sustentáveis.

A integração da educação midiática aos currículos escolares já é uma tendência mundial, e no Brasil começa a se fortalecer, embora ainda dependa de maior investimento e continuidade para atingir seu pleno potencial. Com o crescimento do consumo de informações pelas redes sociais, especialmente entre as novas gerações, essa formação se destaca como um diferencial necessário.

A luta contra a desinformação exige um esforço conjunto entre governos, plataformas digitais e a sociedade em geral. Para que a Ciência tenha seu valor plenamente reconhecido, a democracia seja fortalecida e o retrato genuíno da realidade prevaleça sobre as fake news, é necessário que todos os setores cooperem. A educação midiática, com isso, emergirá como um pilar fundamental na construção de uma sociedade mais informada, crítica e consciente, apta a enfrentar os desafios da era digital e comprometida com a cidadania e o bem comum.