terça-feira, 13 de agosto de 2024

Maior legado de Delfim Netto é no agronegócio, diz Marcos Lisboa, FSP

 

São Paulo

O economista Delfim Netto, que morreu nesta segunda-feira (12), foi professor, ministro de Estado e deputado, dentre outras funções públicas. Nessa jornada multifacetada, seu maior legado deve ser sentido no agronegócio, na avaliação do economista Marcos Lisboa, colunista da Folha e ex-presidente do Insper.

"Ele tem uma parte importante [no crescimento do agro brasileiro] tanto do ponto de vista acadêmico, quanto do ponto de vista de formador de política pública", afirma Lisboa, que considera ainda hoje impressionante a tese de livre-docência de Delfim na USP, "O Problema do Café no Brasil", apresentada em 1959 e que posteriormente virou livro.

Delfim Netto concede entrevista em 2018
Delfim Netto morreu nessa segunda-feira (12), aos 96 anos - Eduardo Knapp - 26.out.2018/Folhapress

Na obra, ele analisou a história da cafeicultura no Brasil e a política de valorização do produto durante a Primeira República (1889 a 1930), além das tentativas de proteger o setor (consideradas erradas pelo decano). É uma pesquisa que mistura análise econômica, histórica e de dados de um modo que ainda não era comum na academia brasileira.

Delfim não parou na pesquisa. Trabalhou para ampliar a pauta exportadora brasileira, incentivou grupos de trabalho e inspirou estudos acadêmicos para aumentar a produtividade do setor. Ali se entendeu, por exemplo, que havia problemas de tecnologia e de solo em algumas regiões. O enfrentamento desse tipo de questão acabou desaguando, por exemplo, na criação da Embrapa, em 1973 (nessa época, Delfim era ministro da Fazenda).

"O Brasil já tinha muitos técnicos na área agrícola, mas aí veio uma decisão política de formar mais gente, formar técnicos e dar problemas para eles resolverem", recorda Lisboa.

O ex-presidente do Insper afirma que "Delfim era um economista de sua época", o que significa a adoção de políticas em que o Estado interferia ativamente na economia. "Você pode fazer uma série de distorções e incentivar alguns setores e não outros, interferir em preços, e essa era a visão dominante na época que acabou levando a problemas lá na frente", diz Lisboa.

É uma visão, segundo o especialista, que é muito forte no pensamento econômico brasileiro que muitas vezes une esquerda e direita no país. "Não é uma discussão sobre se o Estado é necessário ou não. A questão é como o Estado pode auxiliar mais o crescimento econômico", comenta.

Para ele, no caso do agronegócio, foi uma política bem-sucedida, com estímulo à inovação, à pesquisa, ao desenvolvimento tecnológico e ao empreendedorismo.

Para Lisboa, é importante lembrar de Delfim também no contexto da ditadura e do AI-5, em um "acerto de contas que não foi feito". O economista foi ministro de governos militares e o último a morrer entre as pessoas que assinaram o Ato Institucional nº 5, que marcou o período mais duro da ditadura e deixou um saldo de cassações, direitos políticos suspensos, demissões e aposentadorias compulsórias.

Em depoimento à Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo, Delfim reafirmou que não se arrependia de ter apoiado a proposta. "Nas condições de informação que tinha naquela hora, eu repetiria meu voto. Ninguém poderia imaginar a barbaridade da tortura", afirmou em 1998.

Lisboa conta que, antes da pandemia da Covid, encontrou Delfim algumas vezes, em oportunidades em que discutiram temas como a reforma tributária, mas nunca conversou com ele sobre a participação na ditadura. "Ele sabia o que eu penso sobre aquele período", relembra.


O poder e o professor Antonio Delfim Netto, Editorial FSP

 A morte de Antonio Delfim Netto aos 96 anos nesta segunda (12) priva o Brasil de um de seus economistas mais importantes. Estudioso profundo em sua área de atuação, "o professor", como o chamavam muitos de seus interlocutores, era também um frasista tão mordaz quanto espirituoso.

Homem público dos mais qualificados, tecnocrata sedento por poder antes de um defensor ideológico do autoritarismo, teve a biografia marcada pela participação na ditadura militar.

Era o último signatário vivo do AI-5 —ato que inaugurou, em 1968, a fase mais dura da repressão durante a ditadura militar (1964-1985)— e comandou a economia, como um verdadeiro czar, naquele período sombrio.

Entre 1967 e 1974, foi ministro da Fazenda, quando o Brasil viveu fase de forte expansão, com taxas de crescimento de dois dígitos. O "milagre econômico" foi impulsionado pelo fortalecimento de estatais e grandes obras de infraestrutura.

Nem todos foram igualmente beneficiados nos anos de prosperidade, e houve grande concentração de renda no período, além de um rápido endividamento externo —que resultaria em uma década perdida depois. Delfim sempre negou ter dito a famosa frase a ele atribuída à época de que seria preciso "primeiro fazer o bolo crescer, para depois distribuí-lo".

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Em 1979, voltaria ao governo convidado pelo general João Figueiredo (1918-1999). Primeiro, como ministro da Agricultura; depois, do Planejamento. Deixou o posto em meio a grave crise econômica.

Em 1987, dois anos após o fim da ditadura, foi eleito deputado federal, função na qual permaneceria por duas décadas.

Em cargos públicos ou não, Delfim nunca deixou de contribuir para o debate desde sua influente tese acadêmica sobre as políticas para o café, em 1959. Foi conselheiro informal em administrações petistas. Atuou como colunista desta Folha por 35 anos.

Apaixonado por antropologia, Delfim procurava conciliá-la com a ciência econômica. Afirmava que os homens não são melhores que orangotangos ("Basta vê-los numa festa", dizia), mas que são capazes de realizar sua humanidade plena por meio do trabalho.

Neste contexto, "a mão invisível do mercado" de Adam Smith (1723-1790) seria um dos únicos instrumentos inventados pelo homem capaz de conciliar sua condição animal com igualdade, liberdade e relativa eficiência produtiva.

Fará falta o professor.

editoriais@grupofolha.com.br

Esporte tem papel essencial no desenvolvimento de crianças e adolescentes, fsp

  

Dagmar Rivieri

Presidente e fundadora da Casa do Zezinho, educadora social e palestrante

O amor pela educação sempre será o foco da minha vida profissional e pessoal. Onde quer que eu esteja, estou constantemente aprendendo e quero ensinar aos outros. Quando fundei a Casa do Zezinho, há 30 anos, tinha o sonho de oferecer um ambiente em que crianças e jovens pudessem se desenvolver da melhor maneira possível.

Desde então, o esporte tem sido parte fundamental da nossa missão. Ele não apenas promove saúde física, mas também atua como poderosa ferramenta de transformação social.

Além de melhorar a condição física, nossas atividades oferecem um espaço seguro e estruturado, no qual crianças e adolescentes podem se expressar livremente e construir relacionamentos positivos.

A imagem mostra um grupo de crianças jogando futebol em um campo. Um menino, de costas, está prestes a chutar a bola, enquanto outros três meninos observam. O goleiro, vestido com uma camiseta branca, está posicionado em frente ao gol. O campo é cercado por uma rede e há uma parede com grafites ao fundo.
Esporte ajuda crianças e adolescentes a desenvolver autoconfiança, disciplina e senso de comunidade - Robson Ventura/Folhapress/Folhapress

Por meio do esporte, eles desenvolvem um senso de comunidade e pertencimento, o que é essencial para o crescimento. Atividades esportivas promovem disciplina, foco, autoconfiança e autoestima, podem abrir portas para futuras oportunidades e gerar inclusão social e saúde.

Quando um jovem tem a oportunidade de crescer em um ambiente saudável e com esporte, ele aprende a trabalhar em equipe, a respeitar regras e a superar desafios —habilidades essenciais para a vida.

Mas há alguns desafios que exigem criatividade, parcerias e esforço constante para manter viva a chama do esporte. Um deles é o custo dos materiais, que dificulta o acesso a diversas modalidades. Bolas, redes e uniformes representam um investimento considerável, o que torna necessário buscar alternativas e adaptações para garantir a participação de todos.

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Além disso, a falta de espaços adequados para a prática esportiva é um obstáculo, tendo em vista que nem todos têm acesso a campos, quadras, ginásios e piscinas.

As Olimpíadas são um momento ainda mais especial para incentivar e reforçar a importância que o esporte tem na vida de crianças e adolescentes. Muitos deles acompanham a trajetória de atletas como Marta, Gabizinha e Raíssa Leal —um lembrete do poder do esporte.

Eles se inspiram, sonham e, mais importante, aprendem que, com esforço e dedicação, podem alcançar qualquer objetivo. Por isso, durante o período de aulas na Casa do Zezinho, exibimos jogos de uma variedade de modalidades para que crianças e adolescentes pudessem conhecer e valorizar as práticas esportivas, reconhecendo sua importância.

O esporte é parte indissociável da minha missão e também da Casa do Zezinho. Ele transforma vidas, gera oportunidades e, acima de tudo, constrói um futuro melhor para nossos Zezinhos e Zezinhas. Em tempos de Olimpíadas, essa chama esportiva brilha e inspira novas gerações, tornando o amanhã repleto de novas possibilidades.

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