sexta-feira, 5 de julho de 2024

Café do futuro deve contribuir para preservação do planeta, diz Alckmin, FSP

 David Lucena

SÃO PAULO

Notório cafezeiro e frequentador de padarias, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB-SP) diz que é importante que "o café do futuro seja produzido cada vez com mais sustentabilidade" e "em benefício das próximas gerações".

A imagem mostra um homem usando óculos e um terno azul, tomando um café em uma xícara pequena. Ele está em um ambiente interno com iluminação suave e desfocada ao fundo.
Alckmin diz que, se pudesse escolher qualquer pessoa, tomaria um café com o próprio pai - 27.dez.17 - Zanone Fraissat/Folhapress

Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Alckmin é adepto do café com açúcar –"os 4º e 8º produtos mais exportados pelo Brasil"– e afirma "não haverá futuro sem café".

Esta é a seção "Um Café e Dois Dedos de Prosa", na qual toda semana alguma personalidade –seja especialista ou mera apreciadora– responde cinco perguntas sobre a bebida. Veja na galeria de imagens abaixo outras pessoas que já participaram:

Alckmin afirma na entrevista que "o café sempre estará presente em nossas vidas, pois tem uma importância econômica e social significativa, que vai muito além do seu próprio consumo".

"O café é também fonte de renda e emprego no meio rural, na indústria, nos transportes e no comércio, e ainda gera divisas que resultam em investimentos públicos", diz.

Confira abaixo a entrevista com o vice-presidente e não deixe de voltar toda sexta-feira para conferir as respostas dos próximos participantes. Aliás, se você, leitor, pudesse indicar qualquer personalidade para participar desta seção, quem gostaria de ver por aqui?

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Um café e dois dedos de prosa com... Geraldo Alckmin

1. Se tivesse que escolher um café para tomar pelo resto da vida, como seria?

Certamente um café coado, daqueles passados na hora. É a bebida perfeita, para ser provada e oferecida. Melhor ainda se pudermos adicionar ao café um pouquinho de açúcar, como eu gosto de fazer. Assim, juntamos na mesma xícara os 4º e 8º produtos mais exportados pelo Brasil.

2. O que não pode faltar na sua pausa para o café?

Duas coisas vão bem com café: a companhia de gente que gosta de conversar e um pão quente com manteiga fresca, que é a maior das festas.

3. Qual sua cafeteria preferida no mundo?

As padarias. São a segunda casa dos brasileiros. Pontos de encontro da família e dos amigos. É um fenômeno cultural. Há dados que comprovam que, diariamente, cerca de 15% da nossa população passa por uma padaria. Isso equivale, numa semana, a todo o povo brasileiro.

4. O café do futuro será…

Não sabemos o que o futuro nos reserva, mas certamente não haverá futuro sem café. O café sempre estará presente em nossas vidas, pois tem uma importância econômica e social significativa, que vai muito além do seu próprio consumo. O café é também fonte de renda e emprego no meio rural, na indústria, nos transportes e no comércio, e ainda gera divisas que resultam em investimentos públicos. O importante é que o café do futuro seja produzido cada vez com mais sustentabilidade, de forma ecologicamente correta, capaz de contribuir para a preservação do planeta em benefício das próximas gerações.

5. Se pudesse escolher qualquer pessoa, com quem gostaria de tomar um café e ter dois dedos de prosa?

O meu pai, que sempre me dava bons conselhos para a vida e nunca perdia o humor.

Cientista conta 200 milhões de anos de evolução humana a partir do corpo feminino, FSP

 

Juliana Nogueira
SÃO PAULO

Em todo o universo dos mamíferos, ter ou não um filhote sempre foi uma escolha. É comum que um rato macho coma um filhote que não seja seu. Portanto, se uma rata prenha for colocada em uma gaiola com um rato macho que não seja o pai, ela vai abortar, sob o risco de ver sua cria comida pelo companheiro.

Esse aborto deliberado por fatores sociais é chamado de "efeito Bruce", reconhecido pela comunidade científica desde a década de 1950. Depois disso, pesquisadores passaram a vê-lo entre roedores, cavalos, leões e até primatas.

mulher branca de cabelos ruivos
A cientista Cat Bohannon, autora de 'Eva' - Stefano Giovannini/Divulgação

Cat Bohannon, cientista com doutorado pela Universidade Columbia, diz que o incomum é justamente o fato de as mulheres não possuírem mecanismos internos que apoiem sua decisão reprodutiva.

"Eva", primeiro livro da autora e já um best-seller, resulta de um compilado de estudos científicos que Bohannon acessou ao longo de sua busca por respostas a uma pergunta que surgiu na sala do cinema.

Assistindo ao filme "Prometheus", de Ridley Scott, a personagem Elizabeth Shaw precisava se livrar de uma lula alienígena que ocupava seu útero, mas as máquinas traziam uma mensagem de "erro" —pois não eram preparadas para operar o corpo feminino.

A pesquisa percorre os últimos 200 milhões de anos para escrever uma nova história da evolução humana, desta vez, com a mulher como protagonista.

A pesquisa resgata as "Evas" que representam o último ancestral comum com quem compartilhamos determinado traço, entre camundongos, mamíferos placentários até Homo erectus e Homo sapiens.

Bohannon explica de maneira didática dados e conceitos complicados, o que torna o tema compreensível para quem não conhece bem o assunto. Até as notas de rodapé são bem-humoradas.

No livro, entendemos que o útero não é apenas uma questão feminina, mas um ponto importante em torno do qual toda a sociedade se organiza. Não só para gerar filhos, mas para ajudar a entender as diferenças entre o corpo da mulher e o do homem.

Por que as mulheres suam tanto na menopausa? Por que os homens escutam menos conforme ficam mais velhos? Por que elas têm duas vezes mais chances de receber um diagnóstico de depressão? Por que eles são mais propensos a sofrer de esquizofrenia?

A medicina moderna é toda baseada em estudos que usam o corpo masculino como norma. A não ser por estudos específicos sobre útero, ovários ou mamas, as mulheres ficam de fora das pesquisas clínicas, porque o corpo do homem é considerado mais estável e menos propenso a oscilações, além de não correr o risco de engravidar ao longo do caminho.

Há 30 anos, nos Estados Unidos, o FDA (agência que regulamenta e fiscaliza alimentos e remédios nos EUA) obriga as farmacêuticas a incluírem mulheres em seus estudos, porém elas evitam participar.

"Não é apenas uma questão clínica, mas também cultural. Mais do que serem chamadas, elas precisam querer participar, precisam se sentir seguras e há muitas razões para não se sentirem assim", afirma a autora.

Como demora muito tempo para as drogas chegarem ao mercado, o resultado é que os medicamentos disponíveis hoje têm como referência apenas o corpo do homem.

Apesar da falta de pesquisas, há fortes indícios de que alguns analgésicos são menos eficazes no corpo feminino, que também precisam de diferentes dosagens de anestésicos cirúrgicos ou remédios para o tratamento de Alzheimer.

Para a autora, boa parte da sobrevivência das espécies primitivas está ligada à ginecologia, que começou com um conjunto de ferramentas biológicas e evoluiu até o ponto de as mulheres influenciarem seu próprio mecanismo de reprodução.

Apesar disso, as doenças especificamente femininas, como endometriose, recebem pouco investimento em pesquisa. "Evoluímos em doenças específicas do homem. Com todo o respeito pela causa, mas acho que a gente já sabe o suficiente sobre disfunção erétil. Podemos olhar para outros assuntos", afirma.

Estudando o corpo feminino, podemos entender por que as mulheres vivem mais e quais as diferenças no processo de envelhecimento.

A menopausa, presente só nelas, seria uma maneira de evitar acidentes genéticos por conta dos óvulos velhos. "Minha utopia de futuro não inclui ter filhos com 80 anos, mas entender o que é a menopausa nos ajudaria a enfrentar melhor os problemas decorrentes dessa transição, como osteoporose ou a incidência de problemas cardíacos", diz Bohannon.

Bohannon considera que entender o corpo da mulher e possibilitar que elas vivam melhor não é uma questão de feminismo, e sim condição fundamental para nosso caminho evolutivo.

"O homem não tem que se importar com a vida da mulher porque tem uma irmã ou agora tem uma filha, mas porque todo mundo é gerado pelo corpo de uma mulher. É como a biologia funciona. Mulheres saudáveis têm mais chances de gerar bebês saudáveis, todos eles, meninos e meninas", afirma a autora, que considera o machismo a maior ameaça a esse processo.

Há dez anos, os números da mortalidade materna nos Estados Unidos estão subindo, o que é uma inversão da tendência nos dois últimos séculos. Os dados coincidem com o aumento da obesidade, que torna a gestação mais arriscada. As regiões onde mais morrem mães são as comunidades pobres das regiões mais conservadoras do país, como Texas e Minnesota.

Nesses lugares, é comum ver campanhas antiaborto e políticas educacionais que pregam apenas a abstinência. A consequência é que mulheres ficam grávidas com mais frequência, têm mais DSTs e partos mais complicados.

Na Europa, o quadro não é tão assustador: as mortes seguem caindo, contudo em um ritmo mais lento que nos anos anteriores. Do ponto de vista científico, uma sociedade mais igualitária pode ser essencial até para a própria evolução da espécie.

EVA

  • Preço R$ 119,90 (616 págs.); R$ 49,90 (ebook)
  • Autoria Cat Bohannon
  • Editora Companhia das Letras
  • Tradução Fernanda Abreu